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APS Protocolo de Enfermagem Saúde da Criança e Adolescente

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atualizado em 28 Fev 2025
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INTRODUÇÃO

Os Protocolos de Enfermagem são instrumentos fundamentais de apoio a uma prática segura, com respaldo ético e legal. Além disso, asseguram a autonomia da categoria, à medida que a própria Lei do Exercício Profissional da enfermagem (Nº7498/86) estabelece a importância do respaldo nos protocolos institucionais. (Portaria MS 2436/17).

O papel da equipe de enfermagem atuando de forma integrada junto aos profissionais de saúde das unidades é fundamental para consolidar os objetivos do desenvolvimento sustentável, propostos pela organização das Nações Unidas (ONU) - Agenda 2030, na saúde da criança:  “acabar com as mortes evitáveis de recém-nascidos e crianças menores de 5 anos, com todos os países objetivando reduzir a mortalidade neonatal para, pelo menos, 12 por 1.000 nascidos vivos, e a mortalidade de crianças menores de 5 anos para, pelo menos, 25 por 1.000 nascidos vivos”.

As políticas públicas da Secretaria Municipal de Saúde da cidade de São Paulo, conta com a participação efetiva dos profissionais da equipe de enfermagem para o desenvolvimento de suas diretrizes, com a finalidade de proporcionar aos profissionais enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, um instrumento de consulta para orientação de fluxos e atualização de condutas em saúde, garantindo uma assistência de enfermagem qualificada, zelando pela segurança dos usuários do SUS. 

Esta edição contempla todas as fases do desenvolvimento abordando a atenção integral às crianças, adolescentes e famílias, no contexto da Atenção Primária à Saúde (APS).  Descreve as ações de enfermagem, atualizações nas solicitações de exames e prescrições medicamentosas (Coren 2019). Abrange a atuação da equipe de enfermagem na assistência às crianças e adolescentes em situação vulnerabilidade e de violência.

Agradecemos a colaboração de todos os profissionais que atuaram na construção deste documento trazendo seus conhecimentos e experiências para enriquecer o conteúdo fortalecendo as políticas públicas no nosso município.

Este documento não tem a intenção de atender todos os aspectos relativos ao tema, mas se constitui como um norteador importante para a prática diária da(o) enfermeira(o), respaldado pela Lei do Exercício Profissional nº 7498/86, Decreto Lei nº 94.406/87, e todas as demais Legislações pertinentes em vigência. 

                                                                        Equipe Técnica da Assistência de Enfermagem

Capítulo 1 – POLÍTICAS DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA CRIANÇA

A atenção à saúde da criança inclui uma sequência de ações de promoção à saúde e medidas protetivas e preventivas, iniciadas ainda durante a gestação, de forma integral e integrada.   

Segundo os objetivos do desenvolvimento sustentável propostos pela Organização das Nações Unidas (ONU) - Agenda 2030, na saúde da criança espera-se “acabar com as mortes evitáveis de recém-nascidos e crianças menores de 5 anos, com todos os países objetivando reduzir a mortalidade neonatal para, pelo menos, 12 por 1.000 nascidos vivos, e a mortalidade de crianças menores de 5 anos para, pelo menos, 25 por 1.000 nascidos vivos”.

A criança tem os direitos à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança, à dignidade e à proteção integral garantidos pela Constituição Federal de 1988, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, Marco Legal da Primeira Infância, Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Crianças (PNAISC), entre outras leis. Vale ressaltar que as medidas para garantir e defender esses direitos são de responsabilidade do governo, da sociedade e da família. 

A PNAISC tem por objetivo promover e proteger a saúde da criança e o aleitamento materno, mediante a atenção e cuidados integrais e integrados da gestação aos 9 (nove) anos de vida, com especial atenção à primeira infância e às populações de maior vulnerabilidade, visando à redução da morbimortalidade e um ambiente facilitador à vida com condições dignas de existência e pleno desenvolvimento.

Os sete eixos estratégicos que compõem a PNAISC tratam de elementos essenciais para a garantia do direito à vida e da atenção integral à saúde infantil, sendo eles: 1. Atenção Humanizada e Qualificada à Gestação, ao Parto, ao Nascimento e ao Recém-Nascido; 2. Aleitamento Materno; 3. Alimentação Complementar Saudável; 4. Promoção e Acompanhamento do Crescimento e do Desenvolvimento Integral; 5. Atenção Integral a Crianças, com Agravos Prevalentes na Infância e com Doenças Crônicas; 6. Atenção Integral à Criança em Situação de Violências, Prevenção de Acidentes e Promoção da Cultura de Paz; Atenção à Saúde de Crianças com Deficiência ou em Situações Específicas e de Vulnerabilidade; 7. Vigilância e Prevenção do Óbito Infantil, Fetal e Materno.  

A Política Municipal de Atenção Integral à Saúde da Criança e do Adolescente do Munícipio de São Paulo (PMAISCA) considera:

I - Primeira Infância: indivíduo na faixa etária de 0 (zero) a 5 (cinco) anos 11 meses e 29 dias;

II - Criança: indivíduo na faixa etária de 0 (zero) a 9 (nove) anos 11 meses e 29 dias;

II – Adolescente: indivíduo na faixa etária de 10 a 19 anos 11meses e 29 dias.

A PMAISCA se organiza a partir da Rede de Atenção à Saúde e de seus eixos estratégicos, mediante a articulação das áreas técnicas, coordenações, ações e serviços de saúde. É transversal, atuando em todos os níveis de atenção e descentralizada, por meio da construção coletiva e participativa quanto à discussão, articulação, planejamento e monitoramento das ações.

Alguns princípios norteadores da política municipal são: Planejamento e o desenvolvimento de ações integradas; Acesso universal; Acolhimento: a criança tem agenda programática e demanda eventual e Equidade: priorização das crianças e suas famílias em situação de risco e/ou vulnerabilidade.

A enfermagem na Atenção Primária à Saúde (APS) tem o objetivo de prevenir a ocorrência de situações e agravos que possam repercutir negativamente no crescimento e no desenvolvimento da criança e influenciar positivamente na aquisição de competências e habilidades do ser humano que está em evolução. 

   

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. Estatuto da Criança e adolescente. Disponível: https://www.gov.br/mdh/pt-br/navegue-por-temas/crianca-e-adolescente/publicacoes/eca_mdhc_2024.pdf
  2. LEI Nº 13.257, DE 8 DE MARÇO DE 2016. Disponível: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/lei/l13257.htm
  3. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança: orientações para implementação / Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. – Brasília: Ministério da Saúde, 2018. 180 p.
  4. Brasil. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança: orientações para implementação. Brasília: Ministério da Saúde; 2018. 180 p.

Capítulo 2 - CONSULTA DE ENFERMAGEM E PROCESSO DE ENFERMAGEM NA APS

A Consulta de Enfermagem a uma criança/adolescente e família exige raciocínio clínico acurado, subsidiado pelo Processo de Enfermagem (PE), conforme descrito na Resolução COFEN nº 736/24.

No cotidiano de atuação da APS, o encontro clínico entre o(a) enfermeiro(a) e a criança acontece nos consultórios, no território, onde quer que ele possa produzir cuidados. São nestes espaços, onde ocorre atendimento/consulta, que o(a) enfermeiro(a), em uso do Processo de Enfermagem, realiza seu raciocínio clínico, considerando não só os aspectos fisiológicos ou fisiopatológicos, mas também a forma como a determinação social do processo saúde-doença atravessa a vida de cada criança/adolescente, família ou comunidade.

O modo como realizamos a consulta influencia muito no raciocínio clínico e faz toda diferença no diagnóstico e grau de intervenção para manejo da queixa apresentada, pela criança e adolescente. Na relação entre profissional, criança e adolescente/família/comunidade é possível exercer influência na autopercepção de saúde das pessoas e sua autonomia para o cuidado, a grande maioria dos sintomas e queixas na APS são indiferenciadas ou inespecíficas, por isso é altamente relevante considerar a subjetividade, a história de vida e a forma com a qual a pessoa se relaciona com o problema ou necessidade apresentada para então, planejar e intervir. Se ao atender uma pessoa, você utilizar uma abordagem centrada do corpo biológico, na medicalização de processos naturais, não baseada em evidências científicas corre grande risco de propor intervenções desnecessárias, que podem ser prejudiciais a vida das crianças e adolescentes e aumentar custos em saúde.

A composição multiprofissional (e-Multi) da APS favorece a colaboração continua entre os profissionais, com objetivo de proporcionar para criança/adolescente, família e comunidade a melhor escolha para manejar os problemas ou necessidades encontradas. O enfermeiro é um profissional com autonomia para atuar de forma resolutiva no manejo de diversas condições, dentro do seu escopo de atuação profissional.

A interconsulta constitui-se em uma potente ferramenta para compartilhamento de saberes entre profissionais. Se preciso for, compartilhe o cuidado da criança/adolescente ou família com outro profissional, em busca de ofertar cuidado integral, contínuo, resolutivo e amparado pelo exercício legal da profissão.

A PORTARIA DA SECRETARIA MUNICIPAL DA SAÚDE - SMS Nº 804 de 29 de Novembro de 2024 regulamenta as práticas de  teleassistência no âmbito da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo e atualiza os conceitos da teleassistência na  modalidade assistencial em saúde, mediada por tecnologias da informação e de comunicação - TIC, realizada com profissional de saúde e usuário localizados em diferentes espaços geográficos, podendo englobar acompanhamento, diagnóstico, tratamento e vigilância epidemiológica

As práticas de teleassistência objetivam ampliar o acesso da população ao Sistema Único de Saúde e configuram atos complementares às ações e serviços de saúde na modalidade presencial.

Conforme o Art. 2º da Portaria da Secretaria Municipal Da Saúde - SMS nº 804 de 29 de novembro de 2024, ficam definidas como práticas de teleassistência:

I - Teleatendimento: atendimento em saúde, mediado por tecnologias da informação e de comunicação - TIC, com profissional de saúde e usuário localizados em diferentes espaços geográficos, podendo se dar nas seguintes modalidades:

a) teleconsulta: atendimento à distância realizado por profissional de saúde de nível superior, mediado por TIC, para fins de diagnóstico, acompanhamento, orientações, prescrição de receitas e exames e demais ações de saúde;

b) teleinterconsulta: prática, mediada por TIC, de interação e troca de informações entre profissionais de saúde de nível superior, com a presença do paciente, para apoio à tomada de decisão em relação a uma situação clínica específica;

c) teleconsultoria: consultoria, mediada por TIC, realizada entre profissionais de saúde, com a finalidade de esclarecer dúvidas sobre procedimentos clínicos, ações de saúde e questões relativas ao processo de trabalho;

d) telemonitoramento: ato realizado por profissional de saúde, por meio de TIC, para monitoramento à distância de parâmetros de saúde ou doença do usuário, podendo recorrer ao uso de aparelhos para obtenção de sinais biológicos;

e) teleorientação: fornecimento de orientações à distância, por meio de TIC, aos pacientes, familiares ou responsáveis em cuidados sobre saúde em geral, adequação de conduta clínica terapêutica já estabelecida, condutas pré-exames ou pós-exames diagnósticos, bem como em pós-intervenções clínico-cirúrgicas;

f) teletriagem: ato realizado por profissional de saúde, mediado por TIC, de pré-avaliação dos sintomas para definição e direcionamento de pacientes ao tipo adequado de assistência necessária;

2.1. Registro Clínico/Evolução de Enfermagem 

O Registro clínico é fundamental para a garantia da continuidade do cuidado e melhores desfechos na produção do cuidado. Diversos prontuários eletrônicos utilizam a ferramenta para evolução/registro clínico orientado por problemas, definido pelo acrônimo SOAP (Subjetivo/Objetivo/Avaliação/Plano), que pode se interrelacionar com a forma de raciocínio e registro clínico do(a) enfermeiro(a), pelo PE. Abaixo, segue um quadro que descreve esta interrelação:

 
   

 
 
Por fim, segue como sugestão o os elementos essenciais da consulta de enfermagem para criança e adolescente:

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. PORTARIA SECRETARIA MUNICIPAL DA SAÚDE - SMS Nº 804 de 29 de Novembro de 2024. Disponível em: https://legislacao.prefeitura.sp.gov.br/leis/portaria-secretaria-municipal-da-saude-sms-804-de-29-de-novembro-de-2024
  2. Conselho Federal de Enfermagem. Resolução COFEN Nº 736 de 17 de janeiro de 2024. Brasília, 2024. Disponível em: https://www.cofen.gov.br/resolucao-cofen-no-736-de-17-de-janeiro-de-2024/. Acesso em: 20 ago 2024.
  3. Almeida PA, Carrer MO, Barreto CP, Cordeiro JKR, Martiniano CS, Neto MVM, Bonfim D. Child health nursing consultation and competencies for Advanced Practice Nurses. Rev Esc Enferm USP. 2024;58
  4. Brasil. Caderneta da Criança: Menina – Passaporte da Cidadania. Brasília: Ministério da Saúde; 2021. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderneta_crianca_menina_2ed.pdf. Acesso em: 03 set 2024.
  5. Brasil. Caderneta da Criança: Menino – Passaporte da Cidadania. Brasília: Ministério da Saúde; 2021. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderneta_crianca_menino_2ed.pdf. Acesso em: 03 set 2024.
  6. Costa P, Belela-Anacleto ASC, Andrade PR, Balieiro MMFG, Veríssimo MLOR. Diagnósticos de enfermagem em consultas de atenção primária à saúde de recém-nascidos. Rev Bras Enferm. 2018;71(6):2961-8. doi:10.1590/0034-7167-2017-0954.
  7. Crespin J. Puericultura: ciência, arte e amor. São Paulo: Fundo Editorial Byk; 1992.
  8. Fujimori E, Ohara CVS (org.). Enfermagem e a saúde da criança na atenção básica. São Paulo: Editora Manole Saúde; 1ª ed. 2009.

Capítulo 3 - PROMOÇÃO E ACOMPANHAMENTO DO CRESCIMENTO E DO DESENVOLVIMENTO INTEGRAL DA CRIANÇA

3.1. Vigilância do crescimento e desenvolvimento infantil

O acompanhamento do desenvolvimento biopsicossocial é um marco fundamental da atenção à saúde da criança. Além da importância para promoção da saúde, desenvolvimento de potencialidades, diagnóstico e tratamento precoce de patologias, contribui para uma melhor qualidade de vida. De acordo com as orientações do Ministério da Saúde (MS) encontradas na Caderneta de Saúde da Criança, o seu crescimento e desenvolvimento são importantes indicadores de saúde e sofrem influência de fatores biológicos e ambientais.  É importante estimular desde cedo o desenvolvimento da criança para que ela adquira autoconfiança, autoestima e desenvolva capacidade de relacionar-se bem com outras crianças, com a família e com a comunidade.

Vigiar o desenvolvimento da criança nos primeiros anos de vida é de fundamental importância, pois é nesta etapa da vida extrauterina que o tecido nervoso mais cresce e amadurece, estando, portanto, mais sujeito à agravos. É também nesta época que a criança responde melhor aos estímulos que recebe do meio ambiente e às intervenções, quando necessárias portanto, é importante que neste período o profissional de saúde, juntamente com a família e a comunidade, faça a vigilância do desenvolvimento infantil e verifique o adequado preenchimento da Caderneta de Saúde da Criança com os parâmetros para o desenvolvimento. 

O crescimento infantil é medido a partir das variáveis: peso (kg), estatura ou comprimento (cm), índice de massa corporal (IMC) (m/kg2) e perímetro cefálico (cm), até os dois (2) anos de idade - período esperado para o fechamento da fontanela anterior. Os gráficos possuem a idade em meses, no eixo horizontal, e as medidas de acordo com cada variável no eixo vertical além de serem próprios para o sexo feminino e masculino, uma vez que o sexo, ao nascer, incorre em diferentes parâmetros de crescimento esperado.  

É de suma importância manter o preenchimento da CC e apresentar sugestões a família de maneira adequada para que a criança venha a ser estimulada de acordo com sua idade.

Exemplo de gráfico:

Fonte: Gráfico de peso adaptado Protocolo de Enfermagem de Goiás 2022:

Avaliação do monitoramento do peso

3.2. Fatores de Risco ao Desenvolvimento Infantil 

Dados e informações a serem avaliados em relação aos riscos e vulnerabilidade

Abaixo segue a descrição de fatores de risco em crianças: 

3.3. Recomendações para Consulta de Enfermagem ao recém-nascido, puérpera e família e periodicidade das demais consultas

A primeira consulta de enfermagem ao recém-nascido (RN) e família deve ser realizada até o 10º dia de vida do bebê com o objetivo de identificar as dificuldades enfrentadas pela família no cuidado do RN e suas necessidades de saúde, considerando o grau de vulnerabilidade da família e as condições de riscos para o bebê.

É importante que o profissional esteja atento às condições de saúde da família e considerar que as puérperas podem apresentar depressão pós-parto, baby blues e psicose puerperal. Nesses casos, é importante valorizar o relato dela, observar detalhes de seu comportamento durante o exame físico, reforçando sua confiança e, se necessário, compartilhar o cuidado com equipe multiprofissional.

Registrar em prontuário todas as informações como:

  • identificação da criança e dos responsáveis: nome, data de nascimento, sexo (verificar sempre documento), cor de pele autodeclarada (pais até 14 anos), idade da criança e grau de parentesco
  •  Motivo da Consulta: queixas e duração.  
  •  
       
     
    História Atual da Criança: adoecimento e/ou hospitalização recente, exames laboratoriais recentes.  

A visita domiciliaria (VD) é uma ferramenta de cuidado fundamental para o acompanhamento da família e do bebê em tempo oportuno, possibilitando a avaliação do ambiente, território, e condições de risco e vulnerabilidades.  

Nesta primeira consulta de enfermagem do RN, puérpera e família, o enfermeiro deve direcionar suas ações conforme o quadro abaixo.

Ações do enfermeiro na primeira consulta de enfermagem ao recém-nascido, puérpera e família.

 

Periodicidade das consultas de puericultura

Conforme as diretrizes da Atenção Básica do Município de São Paulo, recomenda-se o seguinte aprazamento para as consultas de rotina de risco habitual:

Adaptado: Diretrizes da Atenção Básica SMS/SP (2023)  

Recomenda-se esta periodicidade de consultas para crianças de médio e alto risco:

 
   
Destaca-se que esta periodicidade de consultas dependerá do risco apresentado, dessa maneira é necessário planejamento com a equipe de saúde para o acompanhamento mais frequente da criança, mãe e cuidadores/família, sempre que necessário.

¹ Fontanelas: posterior fecha‐se até o 2º mês e a anterior fecha‐se do 9º ao 18º mês.

² Deve-se fazer investigação subsequente somente em crianças e jovens cujos valores estiverem persistentemente acima do percentil 95 das tabelas de referência.

³ Manobras de Barlow e Ortolani nas consultas do 1º mês e 2 meses, testando um membro de cada vez. Após, até a criança caminhar, realizar abdução das pernas.

⁴ Avaliar cicatriz umbilical.

⁵ Criptorquidia: Testículos não palpáveis na bolsa escrotal na primeira consulta do recém-nascido é comum, especialmente em prematuros, na maioria das vezes, os testículos “descem” até os 3 meses de vida, quando o caso deverá ser reavaliado. Se aos 6 meses os testículos não forem apalpados na bolsa escrotal, a criança deve ser encaminhada para melhor avaliação e tratamento.

⁶ Se M-CHAT-R alterado, repetir em um mês, utilizando o M-CHAT-F. Se antes de 18 meses a criança, no acompanhamento dos marcos do desenvolvimento, apresentar a classificação de Provável Atraso no Desenvolvimento Infantil conforme a Caderneta da Criança, a aplicação do M-CHAT-R deverá ser realizada aos 16 meses, conforme orientação da Linha de Cuidado do Espectro Autista

Alguns aspectos importantes aproximam a relação do profissional da saúde com a família: 

  • Chamar as pessoas pelos seus nomes 
  • Valorizar as preocupações da criança e da família, esclarecendo as suas dúvidas 
  • Fornecer informações de fácil compreensão, considerando as especificidades culturais 
  • Criar uma parceria efetiva com a família (reconhecendo capacidades e dividindo as tarefas com os pais e outros membros da família) 
  • Aprimorar o uso de momentos próprios para ações educativas 
  • Personalizar a orientação preventiva (utilizando perguntas abertas e sugestões com foco nas condições reais da família)  
  • Atentar à quantidade de informações fornecida e utilizar linguagem adequada 

Sugere-se as chamadas “perguntas gatilho":  

  • “Que preocupações você gostaria de me contar hoje?” 
  • “Ocorreu alguma mudança importante na família, desde a nossa última consulta?”
  •  "Como você está alimentando o seu filho?" 
  •  
  • “Existe algo no comportamento do seu filho que os preocupa?” 
  • "Alguém em sua casa faz uso de cigarros, bebidas alcóolicas ou alguma droga ilícita que pode gerar problemas para o seu filho?" 
  • "Alguém em sua casa tem posse de arma de fogo? Se sim, onde essa arma fica guardada?” 
  • "Alguém da família já sofreu maus-tratos ou foi ameaçado?" 

3.4. Avaliação do crescimento e desenvolvimento infantil 

Verificar:

  • Caderneta de Saúde da Criança;
  • Caderneta de pré-natal da mãe;
  • Resumo de alta hospitalar;
  • Classificar ou confirmar estratificação de risco;
  • Testes de triagem neonatal (orelhinha, olhinho, coraçãozinho, linguinha, pezinho);
  • Presença de sintomas e queixas;
  • Rede familiar e social;
  • Condições de moradia e exposições ambientais;
  • Avaliação do estado nutricional;
  • Antecedentes clínicos;
  • Imunização;
  • Saúde bucal;
  • Alimentação;
  • Eliminações;
  • Sono e repouso;
  • Antecedentes familiares;
  • Crescimento
  • Marcos dos Desenvolvimento
  • Atentar para sinais de má higiene, maus-tratos, negligência ou abandono

Orientações gerais para o exame físico no recém-nascido e na criança

O exame físico deve respeitar as características de desenvolvimento do RN, lactente e crianças. Realizar o desnudamento da criança por seguimento corporal (por partes). Estar atento para hipoatividade ou prostração da criança, assim como irritabilidade ou choro excessivo.

Deixar para realizar por último os procedimentos mais estressantes para a criança (mensurações, inspeção das amígdalas, otoscopia e outros)

Exame físico no recém-nascido e na criança

Adaptado: Protocolo de Enfermagem na Atenção Primária à Saúde no Estado de Goiás (2022) Fonte: Caderneta da Criança (Ministério da Saúde) 7ª Edição. Brasília DF. 2024.

Informações e valores de referência de Apoio ao Exame físico

Ferramenta de Avaliação de anquiloglossia em RN conforme o protocolo Bristol (Dificuldade da criança na pega da mama materna em função do freio lingual curto)

Protocolo Bristol

Valores normais de frequência respiratória por idade.

Valores de frequência

Pressão Arterial (PA)

A medida da PA deve ser realizada a partir dos 3 anos de idade em todas as consultas.

Crianças < 3 anos: Devem ter a PA medida em caso de: prematuridade, baixo peso ao nascer, restrição de crescimento intrauterino, antecedente de internação em UTI neonatal, cardiopatias congênitas, nefropatias, transplante de órgãos sólidos, doença oncológica, uso crônico de medicações que elevam a PA, doenças sistêmicas associadas à hipertensão arterial e evidência de hipertensão intracraniana.

Em crianças com diagnóstico de hipertensão arterial, as metas referentes à terapia não farmacológica e farmacológica devem ser a redução da PA < percentil 90 de acordo com idade, sexo e percentil de estatura e < 130/80 mmHg em adolescentes ≥ 13 anos de idade.

Definição da pressão arterial de acordo com a faixa etária:

Considerar a média das 2 últimas de 3 aferições da pressão arterial na consulta com manguitos adequados (Largura: 40% da circunferência braquial e Comprimento: 80% a 100% da circunferência braquial).

Técnica de medida da pressão arterial.

Fonte: Sociedade de Pediatria de São Paulo, Atualização de Condutas em Pediatria. Departamentos Científicos da SPSP, nº 34, 2015.

Alterações da pressão arterial                  

Sistema locomotor

Observar deformidades ósseas e alteração de mobilidade. 

Realizar a Manobra de Ortolani e Barlow (aconselhável até dois meses) para verificar displasia evolutiva do quadril.

Fonte: Ministério da saúde, UNASUS- Recomendações sobre rastreamento na criança. Disponível em: https://unasuscp.moodle.ufsc.br/pluginfile.php/164858/mod_resource/content/37/Rastreamento/index.html

Estão descritos abaixo alguns reflexos que devem ser avaliados no RN, durante a consulta de enfermagem.

Avaliação dos Reflexos no RN  

REFLEXO DE MAGNUS DE KLEIJN / DO ESGRIMISTA OU 

 REFLEXO TÔNICO CERVICAL 

Em decúbito dorsal, o examinador estabiliza o tórax do RN com uma mão e lateraliza a cabeça com a outra. Ocorre extensão dos membros do lado para qual a face está voltada e flexão dos contralaterais, esboçando a posição de “esgrimista”, sendo detectado até o 3º mês de vida .

REFLEXO CÓCLEOPALPEBRAL 

A partir de estímulo sonoro emitido a aproximadamente 30 cm da criança, ela deve piscar os olhos, em resposta. O estímulo deve ser realizado em ambas as orelhas, devendo ser obtido, no máximo, em duas a três tentativas.  

FONTE: Cavalcante RS et al (Org). Manual de habilidades profissionais: atenção à saúde do recém-nascido. Belém: EDUEPA, 2019. 116 p.  

Realização de triagem do DI com a utilização da Caderneta da Criança – MS

  • Ao utilizar a CC localize sua faixa etária nas colunas da idade em meses, no quadro ilustrativo, buscando identificar os marcos do DI presentes.

  • Localize as quatro linhas coloridas correspondentes aos marcos do DI correspondente à faixa etária em questão.
  • Verifique a presença dos marcos do DI, isto é, como a criança desempenha habilidades e/ou competências esperadas para sua faixa etária.
  • Ao final da faixa etária, a criança deve ter atingido todos os marcos previstos.
  • Caso ainda não tenha alcançado algum dos marcos esperados para sua faixa etária será necessário retornar para a faixa etária anterior.
  • Verifique se a criança cumpre os marcos da faixa anterior.
  • Registrar as conquistas e orientar a mãe sobre o desenvolvimento de seu filho.
  • Elogiar a criança e a família em relação aos aspectos positivos.
  • Quando DI se apresentar adequado consultar a estimulação para a criança de acordo com sua faixa etária presente na CC.

  • Na consulta de retorno, refaça a classificação e siga também as orientações do instrumento presentes na CC.
  • Ao concluir a tomada de decisão, o profissional deve indicar a classificação correspondente no quadro de desenvolvimento dos registros de consulta na CC.
  • Se por algum motivo não for possível avaliar o DI na referida consulta ou, se o profissional ficar em dúvida quanto a presença de algum item, será necessário marcar retorno o mais breve possível para proceder à avaliação com maior segurança.

   

Avaliação do Desenvolvimento Neuropsicomotor  

Fonte: Adaptado da Caderneta de Saúde da Criança - Ministério da Saúde. 7ª edição - 2024

3.5. Desenvolvimento da criança dos 3 aos 9 anos, 11 meses e 29 dias 

Entre 3 e 4 anos: a criança veste-se com auxílio. Entre 4 e 5 anos: a criança conta ou inventa pequenas histórias. O comportamento da criança é predominantemente egocêntrico; porém, com o passar do tempo, outras crianças começam a se tornar importantes. A partir dos 6 anos: a criança passa a pensar com lógica, embora esta seja predominantemente concreta. Sua memória e a sua habilidade com a linguagem aumentam. Seus ganhos cognitivos melhoram sua capacidade de tirar proveito da educação formal. A autoimagem se desenvolve, afetando sua autoestima. Os amigos assumem importância fundamental. A criança começa a compreender a constância de gênero.

 A partir dos 7 anos: a criança começa a desenvolver o julgamento global de autovalor, integrando sua autopercepção, “fechando” algumas ideias sobre quem ela é e como deve ser etc. A influência dos pares (amigos, colegas da mesma idade) adquire grande importância nesta etapa da vida, enquanto a influência dos pais diminui.

 A partir dos 10 anos: ocorrem mudanças relacionadas à puberdade e há um estirão de crescimento (primeiro nas meninas, em torno dos 11 anos, depois nos meninos, em torno dos 13 anos).

3.6. Recomendações para sono seguro e tranquilo

Noites mal dormidas ou em quantidade de horas insuficientes podem levar a problemas no desenvolvimento físico, emocional e cognitivo das crianças.

Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), esses problemas vão desde a sonolência simples até o comprometimento do humor, da criatividade, da atenção, do raciocínio, da memória e do equilíbrio.

O sono é essencial para o crescimento e desenvolvimento adequados para a criança e o adolescente. Sugere-se orientar sobre o local que o RN está dormindo, sobre a posição para dormir, que deve ser de “barriga para cima”, retirada de objetos do berço ou travesseiro e sobre a duração adequada de tempo de sono, conforme recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

A Síndrome da Morte Súbita do Lactente (SMSL) é responsável por cerca de 37% das mortes súbitas e inesperadas ao ano, em bebês, nos Estados Unidos. A causa ainda é desconhecida, mas sugere-se a influência de três fatores simultâneos: um bebê vulnerável, uma fase crítica do desenvolvimento e um estressor externo. Estudo recente encontrou uma diminuição da enzima colinérgica Butirilcolinesterase em bebês vítimas da morte súbita, indicando um possível biomarcador de disfunção do sistema colinérgico (HARRINGTON; HAFID; WATERS, 2022).

Não tem receita mágica, mas uma rotina relaxante na hora de dormir facilita muito a vida (e o sono) das famílias.

Fonte: Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e Sleep Foundation

  • Diferenciar bem dia e noite: durante o dia, manter o ambiente claro, com os movimentos e sons comuns da casa; à noite, reduzir o ritmo e as luzes. Isso ajuda a regular o relógio biológico da criança
  • Um banho morninho é ótimo para a criança relaxar

3.7. Diagnósticos, Resultados Esperados e Intervenções de Enfermagem - CIPE

Após o levantamento de dados sobre a criança e sua família, o enfermeiro analisará o conjunto das informações objetivas e subjetivas, buscando a identificação de problemas existentes, vulnerabilidades e necessidades de cuidado.

No sentido de garantir o crescimento/ desenvolvimento saudáveis da criança, elencam-se alguns diagnósticos de enfermagem que potencializam o cuidado seguro e promovem o desenvolvimento da parentalidade na atenção primaria em saúde

Fonte: CIPE 2019

 

 

SOLICITAÇÃO DE EXAMES COMPLEMENTARES

Hemograma 

Não há necessidade de diagnóstico laboratorial de rotina de anemia para todas as crianças, desde que ocorra a suplementação de ferro para a prevenção na idade indicada. Recomenda-se o rastreamento sistemático para anemia apenas para crianças de risco: 

Fonte: Linhas de Cuidado Puericultura e Hebicultura na Unidade de Atenção Primária – MS 2023. 

Perfil lipídico:  

Pesquisar o perfil lipídico (colesterol, HDL, triglicerídeos e LDL) a partir dos 2 anos de idade, a cada 3 a 5 anos, em crianças com sobrepeso ou obesidade, ou que apresentem história familiar (parentes de primeiro grau) de doença cardiovascular precoce (antes de 55 anos para homens e 65 anos para mulheres) ou que possuam pais com níveis de colesterol total acima de 240 mg/dL. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. BRASIL. Ministério da Saúde. Caderneta da criança. Passaporte da cidadania 7.ed. Brasília, DF: 2024
  2. CYPEL Saul (org.) Fundamentos do desenvolvimento infantil: da gestação aos 3 nos São Paulo: Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, 2011.
  3. FUJIMORI E, OHARA CVS. (org.) Enfermagem e a saúde da criança na atenção básica. São Paulo: Editora Manole Saúde, 1ª ed. 2009.
  4. Conselho Federal de Enfermagem. Resolução COFEN Nº 736 de 17 de janeiro de 2024. Brasília, 2024. Disponível em: https://www.cofen.gov.br/resolucao-cofen-no-736-de-17-de-janeiro-de-2024/. Acesso em: 20 ago 2024.
  5. Almeida PA, Carrer MO, Barreto CP, Cordeiro JKR, Martiniano CS, Neto MVM, Bonfim D. Child health nursing consultation and competencies for Advanced Practice Nurses. Rev Esc Enferm USP. 2024;58
  6. Brasil. Caderneta da Criança: Menina – Passaporte da Cidadania. Brasília: Ministério da Saúde; 2021. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderneta_crianca_menina_2ed.pdf. Acesso em: 03 set 2024.
  7. Brasil. Caderneta da Criança: Menino – Passaporte da Cidadania. Brasília: Ministério da Saúde; 2021. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderneta_crianca_menino_2ed.pdf. Acesso em: 03 set 2024.
  8. Costa P, Belela-Anacleto ASC, Andrade PR, Balieiro MMFG, Veríssimo MLOR. Diagnósticos de enfermagem em consultas de atenção primária à saúde de recém-nascidos. Rev Bras Enferm. 2018;71(6):2961-8. doi:10.1590/0034-7167-2017-0954.
  9. Crespin J. Puericultura: ciência, arte e amor. São Paulo: Fundo Editorial Byk; 1992.
  10. CIPE - Português do Brasil. 4 ed. Setembro de 2019.

Capítulo 4 - ALEITAMENTO MATERNO, ALIMENTAÇÃO COMPLEMENTAR SAUDÁVEL E SUPLEMENTAÇÃO VITAMÍNICA E SAIS DE FERRO

4.1 Aleitamento Materno

O aleitamento materno, exclusivo é recomendado até 6 meses de idade, e complementar até 2 anos ou mais. O leite materno é um alimento completo porque contêm vitaminas, minerais, gorduras, açúcares, proteínas, todos apropriados para o organismo do bebê; possui muitas substâncias nutritivas e de defesa, que não se encontram no leite de vaca e em nenhum outro leite.

O enfermeiro deve avaliar parâmetros relacionados a posição do bebê, pega, ritmo, esvaziamento das mamas, intervalo entre as mamadas e problemas relacionados às mamas; lembrando de compartilhar medidas no sentido de sanar possíveis complicações que podem prejudicar essa prática.

A amamentação deve ser abordada pelo enfermeiro no período pré-natal e puerperal, na unidade de saúde e no domicílio, com destaque para alguns temas:

a) Não existe leite fraco; o leite materno é rico em calorias e nutrientes, independentemente do tamanho da mama, o estado nutricional e condição social materna.

b) O leite humano é adequado, completo, equilibrado e suficiente para o bebê de qualquer mulher. Existem diferentes fases do leite: colostro, transição e maduro.

c) A apojadura (descida do leite) geralmente ocorre entre o 3º e 5º dia após o parto. É comum que as mamas fiquem cheias, pesadas e desconfortáveis. É importante prevenir o ingurgitamento mamário e traumas mamilares.

d) Existem diferentes posições para amamentar. A dor é um sinal que a pega está incorreta.

 e) O uso de bicos e mamadeiras podem atrapalhar a amamentação e favorecer o desmame precoce. É importante que a gestante/puérpera aprenda formas de acalmar o bebê, identificar sinais precoces de fome, e métodos alternativos de oferecer o leite materno.

 f) Mamilo plano ou invertido pode dificultar a amamentação, mas não a impedir. Não é recomendado o exercício no mamilo ou seringa, uso de bico de silicone e buchas. Diferentes posições para amamentar podem facilitar a sucção do bebê.

g) O tempo que o bebê fica no peito varia de criança para criança. O importante é que a mãe respeite o ritmo da criança, e dê tempo para que ela retire bastante leite de uma mama, até que ela fique macia antes de passar para a outra. Nem sempre a criança suga as duas mamas em uma mamada. A criança deve sugar até ficar satisfeita (pare de sugar, solte a mama ou adormeça). Na próxima mamada, a mãe pode iniciar pela mama que foi oferecida por último (caso tenha oferecido as duas), ou pela mama que não foi oferecida.

O LM cru pode ser estocado da seguinte maneira:

  • Refrigerador, por 12 horas
  • Congelador de geladeira (de duas portas) ou congelador, por 15 dias
  • O vidro deve ser higienizado, etiquetado com a data e o horário da coleta.
  • Para alimentar o bebê com leite ordenhado congelado, ele deve ser descongelado, em banho-maria fora do fogo. Uma vez descongelado, o LM deve ser aquecido também em banho-maria fora do fogo. Antes de oferecê-lo à criança, ele deve ser agitado suavemente para homogeneizar a gordura.

A – Como preparar o frasco para guardar o leite do peito

  • Escolher um frasco de vidro com tampa plástica rosqueável e boca larga. Não utilizar potes com tampas de metal. Se for de algum produto alimentício, retirar toda a cola e papel do rótulo e de dentro da tampa. Lavar com água e sabão, esfregando e enxaguando bem.
  • Ferver o vidro e a tampa, colocando-os em uma panela com água, por 15 minutos, a contar do início da fervura.
  • Escorrer a água da panela e colocar o frasco e a tampa para secar de boca para baixo em um pano limpo ou papel toalha.
      • Não enxugar. Deixar secar naturalmente.
  • Quando estiver seco, fechar o frasco com a tampa e guardar em um recipiente fechado.

B – Como se preparar para retirar o leite do peito

  • Retirar o leite depois que a criança mamar ou quando as mamas estiverem cheias, causando desconforto. Se a criança não estiver por perto, pensar nela é uma boa estratégia para auxiliar na descida do leite
  • Escolher um lugar limpo, tranquilo e longe de animais ou outras pessoas
  • Prender e cobrir os cabelos com touca ou lenço
  • Cobrir boca e nariz com máscara, lenço ou fralda
  • Retirar anéis, aliança, pulseiras e relógio
  • Lavar as mãos e os braços até o cotovelo com bastante água e sabão.
  • Lavar as mamas apenas com água
  • Secar as mãos e as mamas com toalha limpa ou papel toalha.
  • Evitar falar durante a retirada do leite

C – Como fazer a retirada manual do leite do peito

•   Massagear toda a mama, com as pontas dos dedos ou palma das mãos, de forma circular, começando pela parte escura da mama (a aréola) e subindo até a parte superior do seio

•   Com os dedos em forma de “C”, colocar o polegar perto da aréola na parte de cima do peito e os outros dedos sustentando a mama pela parte de baixo.

•   Firmar os dedos e empurrar a aréola para trás em direção ao corpo. Apertar suavemente um dedo contra o outro, sem deslizá-los na aréola, repetindo o movimento até o leite começar a sair. Não pressionar demais, pois pode bloquear os canais por onde passa o leite. No primeiro momento o leite pode não sair, mas depois de pressionar algumas vezes, começará a pingar. Curvar o corpo para frente, posicionando o peito sobre a barriga, pode facilitar a saída do leite e aumentar o fluxo.

•   Desprezar os primeiros jatos ou gotas.

•   Iniciar a coleta. Pressionar e soltar, pressionar e soltar.

•   Mudar a posição dos dedos ao redor da aréola para esvaziar todas as áreas.

•   Alternar a mama quando o fluxo de leite diminuir, repetindo a massagem e o ciclo várias vezes.

D – Como guardar o leite retirado do peito

•   O frasco com o leite retirado deve ser guardado no congelador ou freezer por até 15 dias (caso for doar para um Banco de Leite Humano, transportar antes desse prazo) ou na prateleira mais próxima ao congelador da geladeira por até 12 horas. Se ultrapassar esses prazos de armazenamento, o leite deverá ser descartado.

•   Tampar bem o frasco com leite, anotar a data da retirada com caneta em uma etiqueta ou esparadrapo e colar no frasco.

•   Na próxima vez que for retirar o leite, usar outro recipiente de vidro (copo, xícara, caneca ou vidro de tampa larga) devidamente higienizado e fervido como feito com o frasco, e, ao terminar, acrescentar esse leite ao frasco que está no freezer ou congelador. O frasco deve ser completado até, no máximo, 2 dedos abaixo da tampa.

•   Quando vários leites forem guardados no mesmo frasco, conta-se a validade a partir da data da primeira coleta.

E – Como oferecer o leite retirado à criança

•   Uma criança só deve receber o leite retirado da própria mãe ou, caso seja prematura de baixo peso e estiver internada, deve receber o leite humano pasteurizado do Banco de Leite Humano.

•   Se o leite estiver congelado, descongelar no próprio frasco em banho-maria com o fogo apagado até que se desmanche todo o gelo e ele fique completamente líquido. O leite humano não deve ser fervido nem aquecido no micro-ondas.

•   Esterilizar o utensílio para o oferecimento do leite assim como realizado com o frasco antes da retirada.

•   Agitar suavemente o frasco para misturar bem o leite.

•   Abrir o frasco e colocar um pouco do leite que foi retirado do peito em copo ou xícara limpos.

 •  Acomodar a criança no colo, acordada e tranquila. Posicioná-la o mais sentada possível, com a cabeça firme e o pescoço alinhado ao corpo, não devendo ficar torcido.

•   Encostar a borda do copo ou xícara no lábio inferior da criança e deixar o leite humano tocar o lábio. A criança fará movimentos de lambida, engolindo o leite. Se preferir, utilizar uma colher para oferecer o leite. Não entornar o leite na boca da criança para evitar engasgo.

Fonte: Guia alimentar para crianças brasileiras menores de 2 anos (2021) Principais dificuldades na amamentação

Algumas práticas que podem ser prejudiciais à amamentação:

  • Dar outros leites ou fórmulas infantis para “complementar” o leite materno desnecessariamente
  • Começar com alimentos sólidos ou pastosos antes dos 6 meses de idade
  • Oferecer mamadeira
  • Oferecer chupeta
  • Fumar durante a amamentação
  • Usar medicamentos por conta própria
  • Ingerir qualquer bebida alcoólica

Substitutos do leite materno

Fórmulas infantis

Primeira alternativa na impossibilidade de ofertar o LM: a fórmula infantil é mais adequada ao organismo da criança do que o leite de vaca integral. O preparo de fórmulas infantis deve seguir as recomendações do rótulo do produto, utilizando água fervida ou filtrada.

Leite de vaca integral 

Seu uso antes de a criança completar 12 meses não é recomendado, mas pode ser considerado em função do custo e prática de consumo na população brasileira, quando necessário. Deve ser diluído até os 4 meses de idade da criança por causa do excesso de proteína e eletrólitos, que fazem sobrecarga renal sobre o organismo do lactente. Após o bebê completar 4 meses de idade, o leite de vaca integral líquido não deverá ser diluído e nessa idade a criança que ingere leite de vaca receberá outros alimentos, principalmente água para uma hidratação adequada.

 Diluição do leite em pó integral 

•        1 colher rasa das de sobremesa para 100ml de água fervida

•        1½ colher rasa das de sobremesa para 150ml de água fervida

•        2 colheres rasas das de sobremesa para 200ml de água fervida.

Diluição do leite integral fluído/líquido

•        2/3 de leite fluído + 1/3 de água fervida

•        70ml de leite + 30ml de água = 100ml

•        100ml de leite + 50ml de água = 150ml

•        130ml de leite + 70ml de água = 200ml.

4.2. Alimentação complementar saudável

A PNAISC detalha em seu eixo estratégico II, ações e iniciativas para promoção do aleitamento materno e alimentação complementar saudável. A publicação do Guia Alimentar para Crianças Brasileiras Menores de 2 anos se apresenta como um instrumento de garantia do Direito Humano à Alimentação Adequada e traz as “informações necessárias para incentivar, apoiar, proteger e promover a saúde e a segurança alimentar e nutricional da população menor de 2 anos de idade” (BRASIL, 2019, p. 13).

    

    Fonte: Guia alimentar para crianças brasileiras menores de 2 anos, 2021 Introdução alimentar 

Esquema alimentar para os dois primeiros anos de vida de crianças

  

Esquema alimentar para os dois primeiros anos de vida de crianças que recebem fórmula infantil

 

Recomendações para crianças menores de 2 anos

O guia alimentar (BRASIL, 2021) e a Caderneta de Saúde da Criança  ressalta a necessidade de que os profissionais de saúde se atentem, em toda oportunidade de atendimento às crianças, para os “Doze passos da Alimentação Saudável para Crianças Brasileiras Menores de 2 Anos”.

4.3. Doze Passos para Alimentação Saudável em Crianças menores de 2 anos 

PASSO 1. Amamentar até os 2 anos ou mais, oferecendo somente LM até os 6 meses.

PASSO 2. Oferecer alimentos in natura ou minimamente processados, além do LM a partir dos 6 meses.

PASSO 3. Oferecer água própria para o consumo em vez de sucos, refrigerantes e outras bebidas açucaradas.

PASSO 4. Oferecer a comida amassada quando a criança começar a comer outros alimentos além do LM.

PASSO 5. Não oferecer açúcar nem preparações ou produtos que contenham açúcares à criança até 2 anos de idade.

PASSO 6. Não oferecer alimentos ultra processados.

PASSO 7. Cozinhar a mesma comida para a criança e para a família.

PASSO 8. Zelar para que a hora da alimentação da criança seja um momento de experiências positivas, aprendizado e afeto junto da família.

PASSO 9. Prestar atenção aos sinais de fome e de saciedade da criança e conversar com ela durante a refeição.

PASSO 10. Cuidar da higiene em todas as etapas da alimentação da criança e da família.

PASSO 11. Oferecer alimentação adequada e saudável também fora de casa.

PASSO 12. Proteger a criança da publicidade dos alimentos.

Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde: Guia alimentar para crianças brasileiras menores de 2 anos - MS 2021

4.4. Dez Passos para uma Alimentação Saudável em Crianças de 2 a 9 anos

PASSO 1. Fazer dos alimentos in natura ou minimamente processados a base da alimentação.

PASSO 2. Utilizar óleos, gorduras, sal e açúcar em pequenas quantidades ao temperar e cozinhar alimentos e criar preparações culinárias.

PASSO 3. Limitar o consumo de alimentos processados.

PASSO 4. Evitar o consumo de alimentos ultra processados.

PASSO 5. Comer com regularidade e atenção, em ambientes apropriados, e, sempre que possível, com companhia.

PASSO 6. Fazer compras em locais que ofertem variedades de alimentos in natura ou minimamente processados.

PASSO 7. Desenvolver, exercitar e partilhar habilidades culinárias.

PASSO 8. Planejar o uso do tempo para dar à alimentação o espaço que ela merece.

PASSO 9. Dar preferência, quando fora de casa, a locais que servem refeições feitas na hora.

PASSO 10. Ser crítico quanto a informações, orientações e mensagens sobre alimentação veiculadas em propagandas comerciais.

Fonte: BRASIL Ministério da Saúde. Caderneta da criança. Passaporte da cidadania. 7.ed. Brasília, DF: 2024. 4.5. Alterações nutricionais 

4.5. Crianças com dificuldades ou recusa na introdução alimentar

Ao iniciar a introdução de novos alimentos, a criança pode se recusar a experimentá-lo. Essa recusa é muito comum, e o recomendado é orientar a família a ofertar, novamente, após alguns dias. Se a criança continuar a recusa, buscar novas alternativas de preparo. É muito importante manter o ambiente tranquilo, livre de distrações e não forçar a criança a comer. No Quadro abaixo são apresentadas recomendações gerais às famílias com dificuldades de aceitação alimentar (BRASIL, 2021).

Recomendações gerais às famílias de crianças pequenas, com dificuldades de adaptação ou recusa na introdução de outros alimentos

Alterações nutricionais

Baixo peso

Ganho de peso abaixo do esperado para estatura, segundo a idade e sexo. A identificação precoce permite determinar possíveis vulnerabilidades que influenciam o estado nutricional

Fonte: Protocolo de Enfermagem Atenção à Saúde da Criança e Adolescente SMS/SP (2017).

Orientações para baixo peso   

  • Abordar hábito alimentar   
  • Oferecer 6 a 7 refeições por dia  
  • Evitar guloseimas entre as refeições  
  •  Orientar diluição correta do leite
  • Oferecer frutas e sucos naturais
  • Oferecer pratos coloridos com verduras e legumes  
  •  Incentivar aleitamento materno e orientar alimentação complementar adequada  
  • Preencher gráfico de crescimento e desenvolvimento da caderneta da criança  

Sobrepeso/obesidade   

 
 
Ganho de peso acima do esperado para estatura, segundo a idade e sexo e aumento de tecido celular subcutâneo. A obesidade é fator de risco para outras doenças crônicas. Portanto, essas crianças devem passar em consultas médicas periódicas, independente de terem outros fatores de risco associados.  

Fonte: Protocolo de Enfermagem Atenção à Saúde da Criança e Adolescente SMS/SP (2017).

Orientações sobrepeso e obesidade   

      • Montar uma rotina alimentar, junto à família, definindo horários para o café da manhã, almoço, lanche da tarde e jantar   
      • Evitar ingestão de alimentos nos intervalos das refeições  
      • Incentivar a família a aumentar o consumo de grãos, frutas, legumes e verduras, salientando a importância da mastigação, diminuir o consumo de alimentos ricos em carboidratos de absorção rápida e gorduras e a não ingestão de líquidos durante as refeições   
      • Ingerir água a vontade entre as refeições   
      • Estimular a prática de atividades físicas regulares, lazer em áreas livres e parques, diminuindo o tempo destinado a assistir televisão   
      • Solicitar à família fazer um diário alimentar e trazê-lo às consultas.

4.6. Suplementação vitamínica e sais de ferro

Suplementação de ferro

Recomenda-se a suplementação de ferro para todas as crianças de 6 a 24 meses. Se a criança não estiver em aleitamento materno exclusivo, a suplementação poderá ser realizada a partir dos quatro meses de idade. Para crianças pré-termo (< 37 semanas) ou nascidas com baixo peso (< 2.500 g), a conduta de suplementação é diferenciada, conforme o Programa Nacional de Suplementação de Ferro: Manual de condutas gerais

 
 
A Suplementação de Ferro Elementar deve ser realizada conforme quadros abaixo seguindo a prescrição de Sulfato Ferroso 125 mg/mL (equivalente a 25 mg/mL de Fe++) solução oral gotas.

Recomendação de suplementação medicamentosa profilática de ferro em lactentes SEM fator de risco.

Recomendação de suplementação medicamentosa profilática de ferro em lactentes COM fator de risco.

Suplementação de vitamina A

Destinado a prevenir e/ou controlar essa deficiência nutricional mediante a suplementação com megadoses de vitamina A.

4.7. Alguns diagnósticos, resultados esperados e intervenções de enfermagem em Baixo Peso, Sobrepeso e Obesidade - CIPE

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria n.º 2.068, de 21 de outubro de 2016. Brasília: Ministério da Saúde; 2016.
  2. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primaria à Saúde. Departamento de Promoção da Saúde. Guia alimentar para crianças brasileiras menores de 2 anos / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção Primaria à Saúde, Departamento de Promoção da Saúde. – Brasília: Ministério da Saúde, 2019.
  3. BRASIL. Ministério da Saúde. Guia alimentar para crianças brasileiras menores de 2 anos: versão resumida. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2021
  4. São Paulo (Cidade). Secretaria da Saúde. Manual técnico: Saúde da Criança e do Adolescente nas Unidades Básicas de Saúde/ Secretaria da Saúde, Coordenação da Atenção Básica/Estratégia Saúde da Família. – 4. ed. - São Paulo: SMS, 2015. Atualizado em 2016
  5. Brasil. Caderneta da Criança: Menina – Passaporte da Cidadania. Brasília: Ministério da Saúde; 2021. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderneta_crianca_menina_2ed.pdf.
  6. Brasil. Caderneta da Criança: Menino – Passaporte da Cidadania. Brasília: Ministério da Saúde; 2021. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderneta_crianca_menino_2ed.pdf.
  7. BRASIL. Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo. Linha de Cuidado para Obesidade. 2014. Disponível em: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/linha_cuidado_obesidade.pdf.
  8. BRASIL. Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo. Protocolo de Encaminhamento Final. 29 jan. 2021. Disponível em: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/Protocolo_encaminhamento_final_29012021.pdf.
  9. BRASIL. Nova Portaria do MS Estabelece Diretrizes Relacionadas à Promoção, Proteção e Apoio à Amamentação no Brasil. 5 fev. 2024. Disponível em: http://www.ibfan.org.br/site/noticias/nova-portaria-do-ms-estabelece-diretrizes-relacionadas-a-promocao-protecao-e-apoio-a-amamentacao-no-5-427-2024.html.

Capítulo 5 - ATENÇÃO INTEGRAL A CRIANÇAS COM AGRAVOS

5.1. Alterações de pele

 Características das principais lesões de pele

Durante os primeiros meses de vida, os cuidados com a pele são fundamentais, tendo-se como finalidade manter a integridade da barreira cutânea e garantir seu desenvolvimento saudável. (SBP 2024)

A pele do bebê, criança e adolescente passa por diversas modificações em relação a textura, coloração e umidade. Além de suas funções fisiológicas, a pele exerce um papel social importante, influenciando a autoestima e a qualidade de vida. Diante da frequente associação de problemas de pele com questões emocionais e sociais, o enfermeiro desempenha um papel fundamental. Para tanto, é necessário um conhecimento aprofundado das diversas manifestações cutâneas e de suas possíveis causas, bem como a capacidade de estabelecer um diagnóstico preciso e indicar o tratamento adequado.

A construção de um vínculo de confiança com a criança/adolescente e suas famílias e a promoção de ações educativas são essenciais para um cuidado integral e humanizado

A melhor maneira de evitar doenças de pele é a prevenção, conhecendo as suas principais características e de que forma acometem as crianças.

Observar presença de palidez associada à avaliação da função cardiovascular, temperatura e sangramento. 

É normal que o RN apresente palidez em um lado do corpo e eritema do lado oposto, aspecto caracterizado como sinal de Arlequim.

Avaliação, diagnósticos e intervenções de enfermagem para os principais achados clínicos nas alterações de pele

Faça as perguntas direcionadas pela queixa, considerando alguns aspectos de sintomas associados (dor, prurido, entre outros), alterações (cor, tamanho, forma), tempo de surgimento e piora das lesões; avaliar sinais de infecção ou inflamação; uso de medicações; apresentação de manifestação sistêmica ou local; e avaliação de condições sanitárias do domicílio e território

Exame físico relacionado as alterações de pele

Inspeção: Observar a área acometida quanto à localização, coloração, aspecto, com olhar direcionado à queixa, estendendo para possíveis áreas não localizadas pelo usuário.

Palpação: Checar a existência de lesões sólidas, alterações de volume, espessura, umidade ou consistência da pele; observar elasticidade, turgor e mobilidade correlacionando com a idade; avaliação de sensibilidade térmica, dolorosa, e tátil, se necessário utilizando instrumental específico; palpar linfonodos em áreas correlacionadas; avaliar as condições da pele e a perfusão.

Avaliar o grau de edema periférico por meio da escala de 1+ a 4+ (leve a grave).

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Adaptado de BRASIL (2002); UNA-SUS (S.d), BARROS (2009); BVS APS (sofs-2190) e (sofs-2347); CHANDLER & FULLER (2019), BECKER (2022), DUNCAN (2014)

https://www.perspectivas.med.br/2021/11/manchas-mongolicas-podem-mimetizar-lesoes-corporais-relato-de-caso/#:~:text=As%20manchas%20mong%C3%B3licas%20s%C3%A3o%20condi%C3%A7%C3%B5es,nos%20primeiros%20anos%20de%20vida. https://dermnetnz.org/topics/molluscum-contagiosum

https://www.coren-pe.gov.br/wp-content/uploads/2024/08/PROTOCOLO-DE-ATENCAO-BASICA-2020_2o-EDICAO-FINAL.pdf

https://dermnetnz.org/topics/cutaneous-larva-migrans

Conselho Regional de Enfermagem de Mato Grosso do Sul. Protocolo saúde da criança [Internet]. Mato Grosso do Sul: Conselho Regional de Enfermagem de Mato Grosso do Sul; 2022 [citado em 27 dez 2024]. Disponível em: https://www.corenms.gov.br/wp-content/uploads/2022/01/COREN_MS_PROTOCOLO_Saude-do-Criança.pdf

BRASIL. Ministério da Saúde. Cadernos de Atenção Básica. Brasília, v. 9, n. 174, 2002. Série A - Normas de Manuais Técnicos. Dermatologia na Atenção Básica de Saúde

http://www.pmf.sc.gov.br/arquivos/arquivos/pdf/06_08_2018_22.40.49.d753b8b01501870a92a4b236f73d9b3a.pdf

5.2. Alterações gastrointestinais

Diarreia - CIAP D11

Doença caracterizada pela perda de água e eletrólitos, que resulta no aumento do volume e da frequência das evacuações e diminuição da consistência das fezes, apresentado algumas vezes muco e sangue (disenteria). 

Considera-se diarreia quando há ocorrência de três ou mais evacuações amolecidas ou líquidas em um período de 24 horas, representando uma alteração no hábito intestinal. A maioria dos episódios de diarreia é provocada por um agente infeccioso e dura menos de duas semanas. Caso a diarreia dure mais de 14 dias, é considerada diarreia persistente.   Alguns comportamentos podem colocar as pessoas em risco e facilitar a contaminação como:

  • Ingestão de água sem tratamento adequado;
  • Consumo de alimentos sem conhecimento da procedência, do preparo e armazenamento;
  • Consumo de leite in natura (sem ferver ou pasteurizar) e derivados;
  • Consumo de produtos cárneos e pescados e mariscos crus ou malcozidos;
  • Consumo de frutas e hortaliças sem higienização adequada;
  • Viagem a locais em que as condições de saneamento e de higiene sejam precárias;
  • Falta de higiene pessoal.

Avaliação de enfermagem

  • Há quanto tempo está apresentando a doença diarreica atual?
  • Teve contato com outras pessoas com diarreia ou se tem conhecimento da ocorrência de surto (vários casos iguais) na escola, creche, berçário ou outros ambientes comunitários frequentados?
  • Como é a característica das fezes consistência (Escala de Bristol), cor das fezes, presença de sangue, pus, muco, restos alimentares, flatulências?
  • Qual é a frequência (número de evacuações em 24h) e o volume das evacuações (menor, igual ou maior que o habitual)?
  • Está apresentando náuseas, vômitos (intensidade, conteúdo, resposta a antiemético) e cãibras?
  • Está apresentando febre (intensidade, frequência, duração, resposta a antitérmicos)?
  • Está apresentando dor abdominal (modo de início: súbito ou gradual), localização, característica, intensidade, duração, periodicidade, irradiação, fatores de piora e de melhora) e tenesmo (tentativa dolorosa de evacuar)?
  • Está apresentando distensão abdominal e existe relação com alimentação e/ou tipo de alimento?
  • Como estão as características da diurese (quantidade e frequência)?
  • Fez uso recente de medicações (laxativos, antiácidos, antibióticos)?
  • Fez ingestão de bebidas alcoólicas ou excesso de bebidas lácteas?
  • Qual é o tipo de alimentação habitual e em uso, ocorrência de ingestão de alimentos não habituais?
  • Tem alergia há alguma medicação?
  • O local em que reside possui saneamento básico (abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana, drenagem urbana, manejos de resíduos sólidos e de águas pluviais)?
  • Como é feito o consumo da água?
  • Tem alguma doença pré-existente?
  • Qual seu peso habitual anterior ao início da diarreia?
  • Existem sinais de insegurança alimentar? Usuário beneficiário de algum programa de transferência de renda do governo?

Para avaliar e classificar a diarreia quanto ao estado de hidratação, seguir o fluxograma, atentando-se para achados no exame físico 

Fonte: Protocolo de Enfermagem Atenção à Saúde da Criança e Adolescente SMS/SP (2017).

Terapia de Reposição Oral (TRO) na Unidade de Saúde  

  • Pesar a criança no início da TRO e a cada hora;  
  • Diluir um envelope de Soro de Reidratação Oral (SRO) em 1 litro de água filtrada ou fervida;  
  • Oferecer a quantidade de SRO com colher, copo ou seringa, nas primeiras 4 horas, de acordo com a recomendação descrita.
  • Somente utilizar a idade da criança quando desconhecer o peso;
  • A quantidade aproximada de SRO necessária (em ml), pode ser calculada multiplicando o peso da criança (em Kg) por 75.;
  • Se a criança vomitar, aguardar 10 minutos e continuar mais lentamente  
  • Caso persista o vômito, solicitar avaliação e prescrição médica.  
  • Após a TRO, reavaliar os sinais de desidratação ou melhora e seguir fluxograma.  
  • Se possível, iniciar alimentação da criança na unidade de saúde.  
  • Critérios de melhora do quadro: criança hidratada, ganhando peso e aceitando alimentação.  

Terapia de Reposição Oral no Serviço de Saúde/UBS realizado no intervalo de 4 horas.  

Tratamento da diarreia no domicílio  

 Quando a criança apresenta diarreia sem desidratação ou com melhora do quadro, orienta-se o tratamento no domicílio, a partir das orientações:  

  • Administrar líquidos adicionais, o quanto a criança aceitar (leite materno, caldos, água filtrada ou fervida)  
  • Zinco oral por 10 dias: a dose para crianças até 6 meses de idade é de 10mg/dia e para maiores de 6 meses prescrever 20mg/dia.  
  • Manter alimentação, de acordo com aceitação da criança  
  • Estimular aleitamento materno (orientar amamentar com mais frequência e tempo mais longo)  
  • Prescrever o SRO, de acordo com a idade: 50 a 100mL para crianças até um ano de idade e 100 a 200 mL para crianças acima de um ano, após cada evacuação aquosa.  
  • Orientar a diluição de um envelope de SRO em um litro de água filtrada ou fervida. O conteúdo que não for consumido em 24 horas deve ser desprezado e realizada nova preparação.  
  • Caso a unidade de saúde não disponibilize o SRO mas disponibilize colher medida, pode-se orientar a realização do soro caseiro (1 L de água filtada ou fervida + 1 colher de sopa (20g) de açúcar + 1 colher de café (3,5g) de sal.  
  • Orientar retorno à unidade de saúde se sinais de piora: criança não consegue ou apresenta dificuldade para beber ou mamar no peito, piora do estado geral, aparecimento ou piora da febre, sangue nas fezes e criança com pouca ou nenhuma diurese.  

Cólica do recém-nascido - CIAP - D01 Dor abdominal generalizada/cólicas

As causas da cólica no bebê ainda não são completamente elucidadas. Envolve diversos fatores, como por exemplo, fatores ambientais, aspecto biopsicossocial da família, colonização do intestino, entre outros.   

 
 
Quando o bebê apresenta sinais de cólica é importante que sejam descartadas outras causas patológicas, portanto, caso o recém-nascido apresente outros sinais associados à cólica como febre, distensão abdominal, choro persistente, deve ser avaliado por um profissional de saúde.  

Constipação intestinal CIAP - D12 Obstipação; D01 Dor abdominal generalizada/cólicas

A definição de constipação intestinal funcional para crianças menores de quatro anos deve incluir dois ou mais dos seguintes critérios, presentes por pelo menos um mês:   

  • Duas ou menos evacuações por semana;
  • retenção excessiva de fezes;
  • história de dor ou dificuldade nas evacuações;
  • fezes com grande calibre;
  • massa fecal no reto. 
  • Crianças com controle esfincteriano - critério adicional: pelo menos um episódio de incontinência fecal por semana; fezes volumosas

Para crianças de quatro anos à adolescência deve-se incluir dois ou mais dos critérios seguintes, presentes ao menos uma vez por semana, por pelo menos um mês:  

  • Duas ou menos evacuações no banheiro por semana;
  • pelo menos um episódio de incontinência fecal por semana;
  • história de comportamento de retenção ou retenção voluntária excessiva de fezes; história de dor ou dificuldade para evacuar;
  • história de fezes de grande diâmetro que podem obstruir o vaso sanitário e grande massa fecal no reto.

 

Parasitose intestinal – CIAP: D96 Lombrigas /outros parasitas; D01 Dor abdominal

Constitui importante problema de saúde pública e são causadas por um grupo de parasitas intestinais compreendendo Ascaris lumbricoides, Trichuris trichiura, Necator americanus e Ancylostoma duodenale, transmitidos por contaminação fecal do solo. A transmissão está ligada a condições de vida, como hábitos alimentares, moradia, comportamentos culturais e educacionais, sendo mais prevalentes em populações de baixo nível socioeconômico. As boas condições sanitárias (educação da comunidade; controle e vigilância dos alimentos, lixo e esgoto; oferta de água tratada) e de moradia, assim como a boa saúde da população contribuem para a profilaxia geral.  

Prescrição Medicamentosa pelo enfermeiro(a) 

 

5.3.  Alterações respiratórias 

Síndromes gripais e Rinossinusite

Os quadros de tosse e/ou dificuldade respiratória são comuns à infância e estão no grupo das queixas mais comuns na APS. Por isso, é fundamental que o enfermeiro da Atenção Primária a Saúde APS compreenda o quadro clínico, sabendo correlacionar com história clínica e sazonalidade, afastando sinais de gravidade e hipótese diagnóstica para COVID-19 e Influenza a depender da sazonalidade da doença ou aparecimento de relevância epidemiológica.

A Síndrome Gripal, sendo uma das queixas mais comuns, acometem as vias aéreas superiores, especialmente nos períodos de inverno. Segundo a secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, a Síndrome Gripal é de quadro respiratório agudo.

Crianças menores de 5 anos, são grupo de risco para pior evolução de Influenza. Tendo maior hospitalização em menores de 2 anos, especialmente em menores de 6 meses, os quais apresentam maior taxa de mortalidade.

Critérios de caracterização da síndrome gripal

https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/fluxograma_SG_17_11_23_covisa_sms%20(1)(2).pdf

As Rinosinusites são classificadas em aguda (<12 semanas) e crônicas (> 12 semanas), os principais sintomas são: congestão e obstrução nasal, secreção purulenta nasal e em rinofaringe, tosse diurna e/ou noturna, dor e pressão facial, cefaleia, irritação na garganta, halitose e febre (DUNCAN, 2014). Compartilhar cuidados com o médico.

O tratamento, em geral, é para aliviar os sintomas. Analgésicos e antitérmicos, como o paracetamol e a dipirona, são úteis para baixar a febre e aliviar outros sintomas, as orientações não farmacológicas são essenciais para proporcionar conforto para a pessoa, durante o quadro agudo.

Avaliação, diagnóstico e intervenção de enfermagem

Realizar escuta inicial com informações fornecidas pela família

Exame físico

Inspeção

Para avaliação fidedigna à classificação, deve-se avaliar a criança acordada e sem chorar.

Avaliar anormalidades na ausculta pulmonar:

Alterações respiratórias (CIAP - R03 Respiração ruidosa; R04 Outros problemas respiratórios; R05 Tosse; R07 Espirro/congestão nasal; R08 Outros sinais/sintomas nasais)

 Fonte: Adaptado de Manual de Quadros de Procedimentos AIDPI CRIANÇA

Caderno de Atenção Básica 33, Ministério da Saúde.

Fonte: Protocolo de Enfermagem Atenção à Saúde da Criança e Adolescente SMS/SP (2017).

Diagnósticos, resultados esperados e intervenções de enfermagem frente às alterações respiratórias.

Dor de garganta

Em casos de acometimento da garganta são importantes as intervenções de enfermagem para garantir o conforto da criança e/ou adolescente.

É fundamental que o enfermeiro da APS tenha um raciocínio clínico apurado para compreender sinais/sintomas, avaliar a gravidade e intervir quando necessário. A maioria das faringites é causada por vírus (em mais 70% casos), geralmente com presença de febre baixa ou ausência de febre, tosse, rouquidão, congestão nasal, rinorreia. Os quadros bacterianos geralmente se apresentam com odinofagia mais intensa, febre alta (> 38,5 °C), gânglios linfáticos maiores do que 1 cm, edema e exsudato tonsilar e faríngeo, petéquia palatal. Dentre os principais agentes bacterianos envolvidos nas faringites agudas, destaca-se o S. pyogenes (estreptococo beta-hemolítico do grupo A de Lancefield), que tem formas mais invasivas com repercussão sistêmica e risco de desenvolver febre reumática, principalmente em pessoas de 5 a 15 anos. Diante da possibilidade de infecção bacteriana, compartilhar o cuidado com o médico.

Escore clínico para auxiliar o manejo de dor de garganta (escore Centor) 

 

Adaptado de MCISAAC et. al (1998) apud DUNCAN (2014); NATIONAL INSTITUTE FOR HEALTH AND CLINICAL EXCELLENCE (2008) 

Queixa, Avaliação, Diagnósticos, intervenções e prescrições de enfermagem frente a dor de garganta. 

5.4. Febre (CIAP2 - A03 Febre)

A febre é um sintoma inespecífico, ou seja, pode estar presente em uma variedade de condições. Fatores como infecções, inflamações, doenças autoimunes, cânceres e até mesmo medicamentos podem elevar a temperatura corporal. O manejo adequado da febre exige a investigação da causa subjacente e o tratamento da condição primária.

Avaliação

  • É um sintoma frequente? 
  • Quando começou (quantos dias? Mais de 48 horas?)
  • Período do dia/noite que percebe mais o sintoma?
  • Possui outro sintoma associado (dor de garganta, ouvido, coriza, tosse, dor abdominal, queixa urinária)?
  • Possui sangramentos e/ou machas na pele?
  • Rigidez de nuca?
  • Faz uso de algum medicamento? 
  • Fez uso de algum medicamento hoje?
  • Possui alergia conhecida a algum medicamento?
  • Esteve em área endêmica para doenças de relevância epidemiológica, como febre amarela e malária?
  • Suspeita de Arboviroses, COVID 19, Influenza ou outras doenças infectocontagiosas?

Exame Físico:

  • Aferir Temperatura
  • Frequência Cardíaca, Frequência Respiratória, se necessário
  • Esforço respiratório?
  • Otoscopia
  • Oroscopia
  • Ausculta pulmonar
  • Inspeção/ ausculta e palpação abdominal
  • Rigidez de nuca? (Sinais meníngeos?)
  • Presença de sangramento e/ou petéquias?
  • Realizar prova do laço, na suspeição de arboviroses

Fonte: Protocolo de Enfermagem Atenção à Saúde da Criança e Adolescente SMS/SP (2017).

Diagnósticos, resultados esperados e intervenções de enfermagem frente à Febre – CIPE

Prescrição medicamentosa

Fonte: Protocolo de Enfermagem Atenção à Saúde da Criança e Adolescente SMS/SP (2017).

5.5. Dor de ouvido sem febre e em bom estado geral (CIAP - H01 Dor de ouvidos; H04 Secreção ouvido; H13 Sensação ouvido tapado)

A otalgia é o sintoma mais comum e o melhor preditor de Otite Média Aguda. Outros sintomas frequentes são: manipulação excessiva da orelha em lactentes, irritabilidade, choro excessivo e diminuição do apetite, assim como vômito e diarreia. Febre está presente em cerca de um quarto dos casos.

O enfermeiro poderá realizar otoscopia (ORIENTAÇÃO FUNDAMENTADA Nº 086/2014), desde que tenha segurança  e se encontre apto para tal procedimento.

FLUXOGRAMA

Prescrição medicamentosa

Alguns diagnósticos, resultados esperados e intervenções de enfermagem na Dor de ouvido sem febre - CIPE

5.6. Anemia por deficiência de ferro (CIAP – B80)

Condição na qual o conteúdo de hemoglobina no sangue está abaixo do normal, como resultado da carência de um ou mais nutrientes essenciais. A hemoglobina é o pigmento dos glóbulos vermelhos (eritrócitos) e tem a função de transportar o oxigênio dos pulmões para os tecidos. O valor normal para crianças de seis meses a seis anos é de 11 g/dl.

Recomenda-se realizar a investigação laboratorial da deficiência de ferro, com ou sem anemia, quando a criança completar um ano de idade. Entretanto, mediante suspeita baseada na presença de fatores de risco (baixa reserva materna, aumento da demanda metabólica, diminuição do fornecimento de ferro, perda sanguínea e má absorção do ferro), a investigação deve ser realizada de forma precoce, principalmente se não houver profilaxia adequada com ferro.

Além de confirmação do quadro pelo exame laboratorial (hemograma), diante da suspeita, avaliar coloração da pele e investigar tipo de aleitamento, aceitação das refeições e antecedentes da criança (prematuridade, baixo peso ao nascer e morbidade neonatal).

PRESCRIÇÃO MEDICAMENTOSA

Alguns diagnósticos, resultados esperados e intervenções de enfermagem na Anemia - CIPE

5.7. Doença Falciforme

Doença  Falciforme (DF)  é uma enfermidade genética e hereditária,  causada por uma  mutação no gene que ´produz a hemoglobina  A, originando a S.,  pode causar anemia  crônica, episódios de dor severa,  decorrentes do processo de vasoclusão, causada pela forma de foice que a doença assumi. A DF de  maior signicado clínico é a  anemia falciforme(AF)  determinada pela presença de  HBS em homozigosee o diagnóstico precoce é obtido na primeira  semana de vida por   meio do exame de eletroforese de hemoglobina, com metodologia especifica,  realizado pelos Programas  Estaduais  de Triagem Neonatal  (PETN).

 Traço falciforme (TF) - condição onde ocorre a  presença  de somente  um gene  para a  hemoglobina S, combinado  com outro gene  para hemoglobina  A,  configura um padrão genético AS (heterozigose), que não produz  manifestação da doença falciforme.

Fluxograma de encaminhamento na doença falciforme

Os profissionais da saúde devem estar atentos ao fluxo de encaminhamento para doença falciforme.  Cabe a eles a verificação da inserção dos pacientes na rede e o monitoramento da adesão ao tratamento na rede especializada.

5.8. Dores recorrentes em membros (CIAP - L14 Sinais/sintomas da coxa/perna; L15 Sinais/sintomas do joelho)

As queixas de dores em membros são comuns em crianças e, na maioria das vezes, são benignas, não interferindo no crescimento e desenvolvimento. Ocorrem em cerca de 10 a 20% das crianças em idade escolar, mais comuns no sexo feminino (65%), de evolução crônica e de curso autolimitado.  A etiopatogenia das dores de crescimento permanece desconhecida, porém, deve-se levar em consideração que fatores emocionais (dificuldade escolar, pesadelos, alterações da dinâmica familiar, solidão, etc.), tendem a ser mais frequentes nesse grupo de crianças.

A história detalhada, obtida com a cooperação da família e da criança, é tipicamente bilateral em 80% dos casos e apresentam as seguintes características: (mais frequentes entre os seis e treze anos de idade).

Características:

  • Localização: Não há um ponto específico de dor, ocorre principalmente nas pernas (coxas, panturrilhas, canelas), mas pode ocorrer nos braços. Geralmente, afeta as duas pernas ao mesmo tempo, ou alterna entre as pernas.
  • Intensidade: Varia de leve a intensa, podendo fazer a criança ou adolescente chorar, mas raramente interfere nas atividades diárias e brincadeiras.
  • Tempo e duração: Surge no final da tarde ou à noite e pode acordar a criança ou adolescente durante o sono. Desaparece pela manhã. A frequência pode variar, desde uma vez por semana, até todos os dias, e pode durar anos.
  • Fatores desencadeantes: Pode ser previsível após dias de muita atividade física, irritabilidade ou sono ruim.
  • Fatores de alívio: Massagem, calor local ou analgésicos comuns (como dipirona e paracetamol).
  • Após a exclusão de outras possíveis causas de dor em membros, é importante discutir o diagnóstico de dor de crescimento com os familiares, enfatizar o caráter benigno da queixa e tentar identificar a presença de fatores emocionais que possam estar desencadeando ou exacerbando os sintomas.
  • Apesar de benigna, a dor de crescimento é responsável por considerável desconforto para as crianças e seus familiares e, por esta razão, deve ser valorizada.
  • Sinais de alerta: quando a dor afetar apenas uma perna ou um braço; estiver acompanhada de inchaço, vermelhidão, febre, perda de peso, ínguas ou alterações físicas em outras partes do corpo; quando interferir nas atividades diárias da criança ou adolescente e atrapalhar brincadeiras; e quando ocorrer nas articulações ao acordar, ou se houver inchaço, vermelhidão ou dor nas articulações.
  • Importante: enfatizar que o tratamento visa aliviar a dor da criança e deve-se tranquilizar a família que as estas dores são benignas e temporárias.
  • Alívio da dor: Massagem e calor local são o principal tratamento. Em casos específicos, uso de analgésicos comuns, como dipirona e paracetamol.
  • Outros tratamentos: Alongamentos e apoio psicológico para enfrentar a dor podem ser úteis.

5.9. Olho vermelho

O olho vermelho, caracterizado pela vermelhidão da parte branca do olho devido à dilatação dos vasos sanguíneos, é um sinal comum de conjuntivite. A maioria dos casos de conjuntivite é viral e costuma ocorrer em surtos. O tratamento geralmente envolve cuidados básicos e acompanhamento para avaliar a gravidade e identificar possíveis infecções bacterianas, que requerem tratamento específico.

Avaliação

  • Início dos sintomas?
  • Trauma ocular recente?
  • Secreção do olho?
  • Pálpebras “grudadas” ao acordar?
  • Contato recente com pessoas com olho vermelho?
  • Recente infecção respiratória superior;
  • Episódio anterior de conjuntivite?
  • Possui alergia conhecida a algum medicamento?

Exame físico

  • Sintomas de alarme: dor, diminuição da visão, fotofobia?
  • Inspecionar as pálpebras
  • Observar a localização e natureza da vermelhidão
  • Córnea: Quando há sensação de corpo estranho e um olho vermelho sem motivo óbvio: inspecionar a parte posterior das pálpebras (na superior depois de virá-la)
  • Observar a presença de secreções;
  • Caracterização da secreção conjuntival:

Purulenta – amarelada

Mucopurulenta – branco cremosa

Serosa – aquosa amarelada

Mucosa – filamentar e transparente

Prescrições

  • Lavar olho com água limpa ou soro fisiológico 0.9%
  • Aplicar compressas frias com soro fisiológico quantas vezes achar necessário, como medida de conforto
  • Evitar coçar olhos, compartilhar toalhas/roupas de cama
  • Lavar mãos regularmente
  • Limpar/secar os olhos com lenços de papel e desprezar em seguida os mesmos;
  • Emita declaração de afastamento para escolares.
  • Limpar as superfícies que entraram em contato com as mãos contaminadas com álcool (exemplo: maçanetas, corrimãos, etc.)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. Brasil. Manual de quadros de procedimentos: Aidpi Criança: 2 meses a 5 anos. Brasília: Ministério da Saúde; 2017.
  2. Guerra KCTA, Krishnamurthy K. Miliaria: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2023.
  3. Kaplan RL, et al. Omphalitis and concurrent serious bacterial infection. Pediatrics. 2022;149(5)
  4. Leung AKC, Leong KF, Hon KL. Pediatric Miliaria: A Review of the Epidemiology, Pathogenesis, and Management. Clin Pediatr Dermatol. 2023;12(2):123-30.
  5. López CGP. Cuidados com a Pele Infantil: Modificações fisiológicas e patológicas da pele na infância. Painel Latino Americano; 2024. Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/pdfs/painel-JJ-Fasciculo-6.pdf. Acesso em: 15 jul 2024.
  6. Pappas PG, Kauffman CA, Andes DR, et al. Clinical Practice Guideline for the Management of Candidiasis: 2016 Update by the Infectious Diseases Society of America. Clin Infect Dis. 2016;62
  7. Puccini RFH, Esteves MO (org.). Semiologia da Criança e do Adolescente. Guanabara; 2008.
  8. Santos EJ, et al. Preditores de risco relacionados a hipotermia no recém-nascido na unidade de terapia intensiva neonatal. J Med Biosc Res. 2024;1(3):568-58.
  9. Sociedade Brasileira de Pediatria. Cólica do Lactente. Disponível em: https://www.sbp.com.br/especiais/pediatria-para-familias/cuidados-com-o-bebe/colica-do-lactente/. Acesso em: 16 jul 2024.
  10. Sociedade Brasileira de Pediatria. Documento Científico. Infecções cutâneas parasitárias: aspectos clínicos e atualização terapêutica. 2019. Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/21933D_-_DC_-_Infeccoes_Cutaneas_Parasitarias.pdf. Acesso em: 03 ago 2024.
  11. Sociedade Brasileira de Pediatria. Documento Científico. Infecções fúngicas superficiais. Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/22626c-DC_-_Infeccoes_Fungicas_Superficiais.pdf. Acesso em: 14 jul 2024.
  12. Sociedade Brasileira de Pediatria. Documento Científico. Manejo da febre aguda. Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/23229c-DC_Manejo_da_febre_aguda.pdf. Acesso em: 16 jul 2024.
  13. Sociedade Brasileira de Pediatria. Infecções Bacterianas Superficiais Cutâneas. Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/23597c-DC_Infeccoes_Bacterianas_Superficiais_Cutaneas.pdf. Acesso em: 16 jul 2024.
  14. Sociedade Brasileira de Pediatria. Cuidados com a pele e anexos do recém-nascido: da higienização e hidratação ao tratamento. Rio de Janeiro: SBP; 2024. 49 f
  15. Souza MV, Damião EB, Buchhorn SM, Rossato LM. Manejo não farmacológico da febre e hipertermia da criança: revisão integrativa. Acta Paul Enferm. 2021;34

Capítulo 6 -  ATENÇÃO À SAÚDE DE CRIANÇAS COM DOENÇA CRÔNICA,  DEFICIÊNCIA OU EM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS E DE VULNERABILIDADE

6.1. Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) 

DEFINIÇÃO

Segundo Ministério da Saúde (2021), o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é um distúrbio do neurodesenvolvimento caracterizado por desenvolvimento atípico, prejuízo na comunicação e na interação social, padrões de comportamentos repetitivos e estereotipados, podendo apresentar um repertório restrito de interesses e atividades. Os sintomas ocorrem nos primeiros três anos de vida (APA, 2013).

A Sociedade Brasileira de Pediatria (2019), relata que o TEA pode ou não estar associado às Síndromes Genéticas, Doenças Raras e fatores ambientais, alguns fatores como: idade parental avançada na concepção, uso de substâncias durante a gestação, prematuridade (abaixo de 35 semanas), baixo peso ao nascer (< 2.500 g), infecção materna durante a gravidez, gestação múltipla.

CLASSIFICAÇÃO

De acordo com o DSM-V, são classificados 3 níveis de apoio que se refere a comunicação social e comportamentos, sendo que no Nível de Apoio 1: a criança necessita de apoio, com boa resposta; Nível de Apoio 2: a criança necessita de apoio substancial: com respostas reduzidas; Nível de Apoio 3: a criança necessita de apoio muito substancial: com limitações extremas mesmo com ajuda.

A consulta de enfermagem na Unidade Básica de Saúde é extremamente importante no atendimento da criança com suspeita TEA, visto que este profissional faz o primeiro contato. A escuta qualificada dos familiares que começam a perceber algumas alterações no desenvolvimento da criança poderá auxiliar na identificação precoce dos sinais e sintomas do transtorno.  

CONSULTA DE ENFERMAGEM

Avaliação  

Um exame clínico completo deve ser realizado na consulta para avaliação de diagnóstico diferencial e presença de comorbidades. Utilize a Caderneta da Criança (Menino e Menina) para os registros. 

Avalie a forma da cabeça, meça o perímetro cefálico e registre o seu valor no Gráfico de Perímetro Cefálico. Verifique se existem alterações fenotípicas. 

Certifique-se de que o ambiente para a avaliação seja o mais tranquilo possível e que a criança esteja em boas condições emocionais e de saúde para o exame. Observe a interação do cuidador com a criança (vínculo), utilize alguns brinquedos e objetos que desencadeiam respostas reflexas. 

A avaliação objetiva de habilidades motoras, de comunicação, de interação social e cognitiva deve ser realizada de acordo com os marcos propostos na Caderneta da Criança: Menino e Caderneta da Criança: Menina.

Características Clínicas de Crianças com Risco para TEA

Linha de cuidado do TEA: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/LINHA_DE_CUIDADO_TEA_FINAL.pdf

Se a criança apresentar alguma característica clínica positiva a escala M-CHAT-R (Modified Checklist for Autism in Toddlers-Revised) pode ser utilizada para avaliação complementar.  

Recomenda-se que toda a criança seja submetida a uma triagem para o TEA na consulta de 18 meses, através da aplicação da escala M-CHAT-R, mesmo naquelas que não estão sob suspeita diagnóstica de TEA ou outros transtornos que cursem com desvios e atrasos do desenvolvimento. O teste pode ser repetido em intervalos regulares de tempo ou quando houver dúvida. Em casos suspeitos, a aplicação da M-CHAT-R deve ser antecipada para uma consulta com 16 meses de idade. Sugere-se que o agendamento seja realizado no momento da vacinação da criança com 15 meses de idade. 

Escala M-CHAT-R (Modified Checklist for Autism in Toddlers-Revised)

A escala M-CHAT-R auxilia na identificação de pacientes com idade entre 16 e 30 meses com possível TEA. É de rápida aplicação, pode ser aplicado por qualquer profissional da saúde, devendo ser respondido pelos pais ou cuidadores durante a consulta. 

A avaliação pela M-CHAT-R é obrigatória para crianças em consultas pediátricas de acompanhamento realizadas pelo Sistema Único de Saúde, segundo a Lei nº 13.438, de 26 de abril de 2017

A escala indica uma suspeita de TEA e não é diagnóstica.  

Para todos os itens, a resposta “NÃO” indica risco de TEA; exceto para os itens 2, 5 e 12, nos quais “SIM” indica risco de TEA. 

Resultado positivo maior ou igual a 3 pontos: o enfermeiro deve compartilhar o cuidado com o médico para encaminhar a criança para consulta com especialista em Psiquiatria da Infância e Adolescência ou em Neurologia Pediátrica a fim de realizar a avaliação de seguimento, com a aplicação do M-CHAT-R/F. 

Resultados falso-negativos são possíveis. Se o resultado da triagem não for positivo, recomenda-se acompanhamento e monitoramento do desenvolvimento neuropsicomotor do paciente e reavaliação.  

Checklist Modificado para Autismo em Crianças Pequenas: versão revisada e consulta de seguimento (M-CHAT-R/F) ™

   

OBSERVAÇÃO  

A observação deve ocorrer durante a consulta de enfermagem, avaliando as funções cognitivas, motoras, comunicação, habilidades sociais e as interações dos pais com a criança. Observe: 

  • Comportamento e interação social, buscando se a pessoa direciona a atenção dos outros para brinquedos ou objetos de interesse próprio de forma espontânea; 
  • Solicita ajuda (por exemplo: abrir garrafas, tampa de caixas, pegar objetos fora do alcance; 
  • Aceita convites ou propostas para brincadeiras (o avaliador pode propor); 
  • Comportamentos sociais (exemplo: dar tchau, mandar beijos, sorrisos dirigidos ao outro ou imitação de gestos, contato visual); 
  • Avalie linguagem, se a pessoa completa frases, leitura, faz uso de figuras, mantém diálogo.  

 

Pense em diagnósticos diferenciais, pois a criança pode apresentar:  

  • Baixa acuidade e deficiência auditiva;  
  • Privação psicossocial severa;  
  • Deficiência intelectual;  
  • Transtorno de linguagem expressiva e receptiva;  
  • Síndrome epilética específica;  
  • Síndrome de Landau-Klefner (é uma forma rara de epilepsia infantil que resulta em sérios transtornos de linguagem);  
  • Transtorno de ansiedade;  
  • Mutismo seletivo (transtorno de ansiedade caracterizado pela dificuldade da criança de falar em determinados contextos sociais);  
  • Transtorno obsessivo compulsivo;  
  • Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade;  
  • Transtorno depressivo.  

 

PROPOSTAS DE INTERVENÇÕES DE ENFERMAGEM 

No quadro abaixo estão colocadas propostas de intervenções de enfermagem a partir de diagnósticos de enfermagem frequentemente encontrados em pessoas que vivem com TEA. As intervenções não se reduzem a essas, sendo importante o planejamento de cuidado compartilhado com e-Multi, serviços da rede de atenção à saúde (e.g. CAPS IJ) e intersetorial (e.g. CRAS, escola). 

EVOLUÇÃO DE ENFERMAGEM 

Os retornos devem ser programados de acordo com a necessidade clínica ou com o Plano Terapêutico Singular. Em cada retorno, deve-se analisar a evolução clínica, retomar cuidados pactuados e reforçar para a pessoa e família os avanços e aspectos de melhoria, e avaliar necessidade de adequação das intervenções.  

6.2. Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) 

DEFINIÇÃO  

Segundo Ministério da Saúde (2022), o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é considerado uma condição do neurodesenvolvimento, caracterizada por uma tríade de sintomas envolvendo desatenção, hiperatividade e impulsividade em um nível exacerbado e disfuncional para a idade, em que os sintomas se iniciam na infância, podendo persistir ao longo de toda a vida. 

Os sintomas e o comprometimento do TDAH são frequentemente mais graves durante a infância, mas podem evoluir ao longo da vida. As dificuldades associadas ao TDAH muitas vezes se tornam mais evidentes quando as responsabilidades e a independência do indivíduo aumentam, como no contexto escolar ou quando ele precisa se organizar para realizar tarefas sem a supervisão dos pais. 

Embora o TDAH tenha se tornado uma condição amplamente reconhecida nos últimos anos, o diagnóstico não é simples. Seus principais sintomas podem ser confundidos com características normais do desenvolvimento ou com outras condições clínicas. Assim, torna-se necessária a utilização de critérios operacionais que são estabelecidos a partir da realização da avaliação clínica por profissionais capacitados e experientes. Por isso, a identificação de fatores de risco e da doença em seu estágio inicial e o encaminhamento ágil e adequado para o atendimento especializado dão à Atenção Primária um caráter essencial para um melhor resultado terapêutico e prognóstico dos casos. 

 

CARACTERÍSTICAS E COMPORTAMENTOS FREQUENTES 

Além da desatenção excessiva, a hiperatividade e a impulsividade percebidas em diferentes contextos, geralmente por pelo menos seis meses nas fases iniciais do desenvolvimento, e presentes antes dos seis anos de idade (DSM-5), existem outros comportamentos e sinais que podem ser indicativos do quadro na criança e adolescente: 

  • Falta de persistência: Dificuldade em manter o foco em atividades que exigem envolvimento cognitivo prolongado; 
  • Mudança constante de atividades: Tendência a começar uma atividade, mas não a completar, passando rapidamente para a próxima; 
  • Movimentos excessivos e descoordenados: Comportamento motor agitado e fora de controle; 
  • Manutenção ao longo do tempo: Os comportamentos tendem a persistir durante os anos escolares e podem continuar na vida adulta, embora haja uma melhora gradual no controle dos movimentos e na atenção; 
  • Comportamento impulsivo e propensão a acidentes: Crianças com transtornos hipercinéticos frequentemente se envolvem em acidentes devido à falta de cautela, também tendendo a quebrar regras sem intenção deliberada de desafiar as regras; 
  • Dificuldades sociais: Frequentemente são socialmente desinibidas, demonstram falta de precaução e reserva em interações sociais. Podem se tornar isoladas socialmente; 
  • Comprometimento cognitivo e desenvolvimento: Atrasos específicos no desenvolvimento motor e da linguagem são comuns; 
  • Baixa autoestima: O comportamento impulsivo e de socialização, organização, resistência em aderir a rotinas ou atividades monótonas, além de cobranças e punições podem levar a problemas de autoestima; 
  • Sobreposição com outros transtornos: É frequente a ocorrência de mais de um transtorno do neurodesenvolvimento, especialmente na infância, há uma sobreposição a transtornos em geral considerados “de externalização”, tais como o transtorno de oposição desafiante e o transtorno da conduta, assim como o transtorno de conduta não socializado. 

 

CONSULTA DE ENFERMAGEM 

 

Avaliação 

Dentro do contexto da Atenção Primária, aspectos do crescimento e desenvolvimento representam momentos fundamentais para a identificação precoce dos sinais e sintomas do TDAH. Assim, a atuação envolve a identificação de comportamentos indicativos da condição. Durante a avaliação, o profissional deve considerar, principalmente, a tríade de sintomas característica do quadro de TDAH envolvendo desatenção, hiperatividade e impulsividade.  O compartilhamento do cuidado com a e-mult é fundamental para uma assistência de qualidade e mais resolutiva.

Existem vários questionários que utilizam critérios usados para rastreio, avaliação da gravidade e frequência de sintomas e acompanhamento de tratamento. Dentre estes, destaca-se o SNAP-IV. 

O questionário denominado Swanson, Nolan and Pelham (SNAP) foi resultante da quarta versão do DSM, de domínio público e com tradução brasileira validada (Matos et al., 2006). Desenvolvido para avaliação de sintomas do transtorno do déficit de atenção/hiperatividade em crianças e adolescentes, o instrumento pode ser preenchido por pais ou professores como ponto de partida para levantamento de alguns dos possíveis sintomas primários de TDAH, sendo uma ferramenta potencializadora da atenção intersetorial. (ANEXO 6)

 O instrumento é composto pela descrição de 18 sintomas do TDAH, entre sintomas de desatenção (9 primeiros itens) e hiperatividade/impulsividade (itens 10 a 18), pontuados conforme quatro níveis de qualificadores. Além disso, os itens 19 a 26 do questionário também são úteis ao diagnóstico do Transtorno de Oposição Desafiante (TOD), porém com equivalência conceitual a ser valorada (Matos et al., 2006). 

Contudo, reforça-se que o diagnóstico correto e preciso do TDAH só pode ser feito através de uma longa anamnese com um profissional médico especializado, já que muitos dos sintomas relacionados no questionário podem também estar associados a outras comorbidades correlatas ao TDAH, ou a outras condições clínicas e psicológicas. 

PROPOSTAS DE INTERVENÇÕES DE ENFERMAGEM 

            No quadro abaixo estão colocadas propostas de intervenções de enfermagem a partir de diagnósticos de enfermagem frequentemente encontrados em pessoas que vivem com TDAH. As intervenções não se reduzem a essas, sendo importante o planejamento de cuidado compartilhado com e-Multi, serviços da rede de atenção à saúde (e.g. CAPS IJ) e intersetorial (e.g. CRAS, escola). 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria Conjunta nº 14, de 2022. PCDT - Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). Brasília, 2022. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/pcdt/arquivos/2022/portaria-conjunta-no-14-pcdt-transtorno-do-deficit-de-atencao-com-hiperatividade-tdah.pdf. Acesso em: 27 dez. 2024.  
  2. MATOS, Paulo; SERRA-PINHEIRO, Maria A.; ROHDE, Luis A.; PINTO, Diana. Apresentação de uma versão em português para uso no Brasil do instrumento MTA-SNAP-IV de avaliação de sintomas de transtorno do déficit de atenção/hiperatividade e sintomas de transtorno desafiador e de oposição. Revista de Psiquiatria, RS, v. 3, n. 28, p. 290-297, set./dez. 2006.
  3. Universidade Privada de Angola. Classificação das intervenções de enfermagem (NIC)

[Internet]. Disponível em: https://evirtual.upra.ao/examples/biblioteca/content/files/classificaçao%20das%20intervençoes%20de%20enfermagem%20(nic).pdf.

  1. Busatto GF. Neurobiologia da depressão: uma perspectiva integrada. Rev Psiquiatr RS [Internet]. 2002 [citado 2024 dez. 27];24(3):260-6. Disponível em:

https://www.scielo.br/j/rprs/a/fJsx7JhDNbjswLKPZ7Td69J/?lang=pt.

  1. Prefeitura de São Paulo. Linha de cuidado para a atenção às pessoas com transtorno do espectro autista (TEA) [Internet]. São Paulo: Secretaria Municipal da Saúde; 2022 [citado 2024 dez. 27]. Disponível em: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/LINHA_DE_CUIDADO_TEA_FINAL.pdf.
  2. Brasil. Diretrizes de Atenção à Reabilitação da Pessoa com Transtornos do Espectro do Autismo (TEA). Brasília: Ministério da Saúde; 2014. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_atencao_reabilitacao_pessoa_autismo.pdf. Acesso em: 02 set 2024.
  3. Brasil. Linha de Cuidado para a Atenção às Pessoas com Transtornos do Espectro do Autismo e suas Famílias na Rede de Atenção Psicossocial do Sistema Único de Saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2015. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/linha_cuidado_atencao_pessoas_transtorno.pdf. Acesso em: 05 set 2024.
  4. Tamanaha AC, et al. Protocolo do Estado de São Paulo de Diagnóstico Tratamento e Encaminhamento de Pacientes com Transtorno do Espectro Autista. 1a Edição. São Paulo: SEDPcD; 2013. Disponível em: https://www.pessoacomdeficiencia.sp.gov.br/Content/uploads/20154117642_CARTILHA_AUTISMO_PROTOCOLO_TEA.pdf. Acesso em: 02 set 2024.

Capítulo 7 -  ATENÇÃO À CRIANÇA COM SÍFILIS CONGÊNITA E CRIANÇA EXPOSTA À SÍFILIS 

 

A sífilis congênita (SC) é um agravo de notificação compulsória evitável, resultado da disseminação hematogênica do Treponema pallidum da gestante infectada não tratada ou inadequadamente tratada para o seu concepto, geralmente por via transplacentária, independentemente da idade gestacional. Após a sua passagem transplacentária, o T. pallidum alcança os vasos umbilicais e multiplica-se rapidamente em todo o organismo fetal. Os locais em que as lesões são mais frequentes são fígado, pele, mucosas, esqueleto, sistema nervoso, pâncreas e pulmão.  

A taxa de transmissão vertical da sífilis em mulheres não tratadas varia de 70% a 100% nas fases primária, secundária e latente recente da infecção materna, enquanto nas fases mais avançadas da doença, essa taxa é de aproximadamente 30%. A transmissão fetal pelo canal de parto, via T. pallidum, é rara e ocorre apenas quando a mãe apresenta lesões genitais ativas. O leite materno não transmite a sífilis, exceto em casos raros, quando há lesões ativas na pele das mamas. Dentre os desfechos adversos decorrentes da sífilis materna não tratada, 40% resultam em perdas gestacionais precoces, 11% em morte fetal a termo e 12 a 13% em partos prematuros ou com baixo peso ao nascer. 

Portanto, a sífilis congênita é uma doença passível de prevenção, e sua eliminação pode ser alcançada por meio da implementação de estratégias eficazes de diagnóstico precoce e tratamento da sífilis em gestantes e seus parceiros sexuais. Além disso, o risco de desfechos adversos para a criança será mínimo quando a gestante receber o tratamento adequado e precoce durante a gestação. 

Definição de Caso de Sífilis Congênita  

              São considerados critérios para definição e notificação de caso de sífilis congênita quando uma das situações abaixo é verificada na avaliação do RN, lactente ou criança com menos de 13 anos de idade:  

  • Filho de mãe não tratada para sífilis na gestação ou tratada inadequadamente; 
  • RN com sinais clínicos, radiológicos ou liquóricos de sífilis e VDRL positivo; 
  • RN com títulos de testes não treponêmicos maiores que o materno em 2 diluições;  
  • Criança exposta a sífilis com aumento de títulos em 2 diluições;  
  • Títulos persistentes em crianças expostas (mães tratadas adequadamente); 
  • Testes positivos treponêmicos após 18 meses em criança sem diagnóstico prévio.   

Manifestação Clínica e Classificação da Sífilis Congênita  

 

A maioria dos recém-nascidos (RN) com sífilis congênita não apresenta sintomas ao nascer, variando de 50% a 70%, e, quando os sintomas aparecem, geralmente ocorrem nos primeiros três meses de vida. A sífilis também está associada à prematuridade e ao baixo peso ao nascer. Do ponto de vista clínico, a sífilis congênita pode ser classificada de duas formas: precoce e tardia.   A sífilis congênita precoce (SCP) é caracterizada por manifestações clínicas que surgem logo após o nascimento ou, no máximo, durante os primeiros dois anos de vida. Já a sífilis congênita tardia (SCT) apresenta sintomas após o segundo ano de vida, sendo importante excluir a possibilidade de sífilis adquirida, que poderia ocorrer devido a agressões ou abuso sexual da criança. 

 

Avaliação de Enfermagem  

Entrevista e Exame físico

  • Acolher paciente e família; 
  • Coletar histórico materno da gestação e da sífilis quanto ao     tratamento e seguimento na gestação; 
  • Analisar resultado dos testes rápidos realizados no parto; 
  • Verificar se houve tratamento adequado na maternidade, no caso de tratamento inadequado ou não realizado, entrar em contato com a vigilância em saúde; 
  • Avaliar o crescimento e desenvolvimento neuropsicomotor  
  • Durante exame físico avaliar a presença de manifestações clínicas da sífilis congênita 

Principais Diagnósticos CIPE,  Resultados  esperados e Intervenções

 

Orientações  

 

  • Orientar sobre a sífilis congênita e a exposição da criança à sífilis, como ocorrem, o que pode ser feito para a prevenção; 
  • Explicar o motivo do acompanhamento contínuo, intuito do tratamento, plano terapêutico e os potenciais desfechos desfavoráveis caso o acompanhamento não seja adequado; 
  • Reforçar a importância da realização dos exames solicitados; 
  • Orientar sobre o retorno para o acompanhamento contínuo em saúde e continuidade do cuidado; 
  • Reforçar que a equipe de saúde está disponível para oferecer apoio durante todo o processo de diagnóstico e tratamento, proporcionando um ambiente acolhedor e seguro para sanar dúvidas; 

Solicitação de exames 

 

 

Plano de Cuidados: 

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. São Paulo, Secretaria Municipal da Saúde, Coordenadoria de IST/Aids, Coordenadoria de Vigilância em Saúde, Coordenadoria de Atenção Básica, Protocolo de prevenção da transmissão vertical da sífilis e da sífilis congênita/ Secretaria Municipal da Saúde, Coordenadoria de IST/Aids, Coordenadoria de Vigilância em Saúde, Coordenadoria de Atenção Básica. São Paulo, 2021. Disponível em: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/istaids/Protocolo%20Sifilis%20Vertical.pdf 
  2. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Manual técnico para o diagnóstico da sífilis [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. – Brasília: Ministério da Saúde, 2021. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/s/sifilis/publicacoes/manual-tecnico-para-o-diagnostico-da-sifilis.pdf  
  3. Brasil. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Atenção Integral às Pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis – IST [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. – Brasília: Ministério da Saúde, 2022. 211 p.: il. Disponível em: https://www.gov.br/aids/pt-br/central-de-conteudo/pcdts/2022/ist/pcdt-ist-2022_isbn-1.pdf  

 

Capítulo 8 - ACOMPANHAMENTO DE CRIANÇAS EXPOSTAS OUTRAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS

8.1. Tuberculose e Infecção Latente da Tuberculose (ILTB)

Diante da persistência da tuberculose como um relevante problema de saúde pública no Brasil, e entendendo que os profissionais de enfermagem se configuram peças fundamentais na implementação de estratégias de promoção da saúde e ações de prevenção e controle da doença, especialmente no contexto da atenção primária à saúde.

A tuberculose é uma doença socialmente determinada que acomete todos os ciclos de vida. A atuação da equipe de enfermagem na interrupção da cadeia de transmissão do agravo é de suma importância, desde a busca ativa de casos novos no território, investigação de contatos, tratamento de TB e ILTB e monitoramento dos casos.

 Crianças menores de 5 anos tem maior risco de desenvolver as formas graves da doença, como TB meníngea e TB disseminada, por isso, é de suma importância a vacinação, que se inicia com a vacina BCG, ao nascer, embora não impeça o adoecimento ao longo da vida. 

Avaliação: Anamnese relacionada ao cuidado ou identificação do paciente sintomático respiratório

 

Diagnóstico da tuberculose pulmonar em crianças e adolescentes com baciloscopia negativa ou TRM-TB não detectado.

Interpretação do Quadro:

- 40 pontos (diagnóstico muito provável): recomenda-se iniciar o tratamento da TB.

- 30 a 35 pontos (diagnóstico possível): indicativo de TB, orientar-se iniciar o tratamento a critério médico.

- < 25 pontos (diagnóstico POUCO provável): deve-se prosseguir com investigação na criança. Deverá ser feito diagnóstico diferencial com outras doenças pulmonares e podem ser empregados métodos complementares de diagnóstico, como baciloscopias e cultura de escarro induzido ou de lavado gástrico, broncoscopia, histopatológico de punções e outros exames de métodos rápidos.

Todos os exames preconizados nos protocolos institucionais podem ser solicitados pelos enfermeiros para o rastreamento e tratamento da doença, com compartilhamento de cuidados com o médico.

A PT deve ser utilizada para rastreamento de contato com a microbactéria, independentemente 2,4 do tempo de vacinação pela BCG. Em resultados maiores ou iguais a 5mm, a PT deve ser considerada positiva e naqueles menores que 5 mm deve ser considerada negativa. No resultado negativa da PT, deve-se repetir o exame em 8 semanas para avaliação de conversão da PT (incremento de pelo menos 10 mm no resultado anterior).

Em crianças maiores de 2 anos e menores de 10 anos pode-se realizar o IGRA no lugar da PT. A presença de IGRA positivo indica infecção por micobactéria (não significa doença!)

O exame de escarro é difícil de ser realizado em crianças devido à dificuldade de expectorarem e da característica de serem paucibacilares. Alternativas para a obtenção de material para análise são: aspirado nasofaríngeo, lavado gástrico, fezes, lavado bronco-alveolar e escarro induzido.

O resultado do teste molecular rápido (TRM-TB) com resultado de detecção de traços deve ser considerado positivo em crianças menores de 10 anos e deve ser iniciado o tratamento para TB.

Para o tratamento de ILTB, deve ser descartada doença ativa na criança.

Algoritmo para o diagnóstico de ILTB em crianças menores de 10 anos

Fonte: Nota informativa 02/2024 - Tuberculose pulmonar em crianças menores de 10 anos

Tratamento

O tratamento da TB na criança (menor de 10 anos) é feito com 3 drogas (Rifampicina/ Isoniazida/ Pirazinamida) na fase intensiva e 2 drogas (Rifampicina/Isoniazida) na fase de manutenção.

Atualmente, o Município de São Paulo possui o tratamento em forma de comprimidos dispersíveis com diluição em água. Esses comprimidos têm um sabor mais agradável ao paladar 7 água das crianças, facilitando a administração. O Etambutol não é indicado para tratamento em crianças menores de 10 anos devido à possibilidade de ocorrência da neurite óptica como efeito colateral e seu difícil diagnóstico em crianças.

8.2 Criança exposta ao HIV

A Política de Atenção Integral à Saúde da Criança - PNASC 1 inclui entre seus eixos, vigilância e prevenção da mortalidade infantil e atenção à saúde do recém-nascido. As recomendações do Ministério da Saúde (MS) contidas neste Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) para o Manejo da Infecção pelo HIV em Crianças e Adolescentes buscam contribuir para a sobrevivência, qualidade de vida das crianças vivendo com HIV (CVHA), assim como, para o cumprimento dos compromissos do país diante das metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 2015-2030 (ODS) das Nações Unidas.

Apesar de menos frequente, o risco de transmissão vertical ainda existe, inclusive pelo aleitamento materno, por mulheres previamente diagnosticadas ou que se infectaram pelo HIV durante o período de aleitamento. Ressalta-se que o aleitamento materno por mulheres vivendo com HIV está contraindicado, mesmo quando elas estiverem estáveis, em uso regular de TARV e com carga viral de HIV (CV-HIV) indetectável. (PCDT MS 2023).

A suspeita da infecção pelo HIV deve partir do vínculo epidemiológico (exposição ao HIV na gestação, parto ou aleitamento materno) ou ser sempre considerada em crianças de todas as faixas etárias que apresentem as manifestações descritas abaixo, independente do diagnóstico materno.

Principais sinais, sintomas e alterações laboratoriais da infecção pelo HIV em crianças e adolescentes

  • Infecções recorrentes de vias aéreas superiores, inclusive sinusite ou otite;
  • Linfadenomegalia generalizada, hepatomegalia e/ ou esplenomegalia;
  • Parotidite recorrente;
  • Pneumonias de repetição;
  • Monilíase oral persistente;
  • Diarreia recorrente ou crônica;
  • Déficit ponderal e de estatura; 
  • Atraso no desenvolvimento neuropsicomotor;
  • Febre de origem indeterminada; - Púrpura trombocitopênica idiopática;
  • Anemia;
  • Linfopenia;
  • Trombocitopenia.

Fonte: Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para manejo da infecção pelo hiv em crianças e adolescentes - módulo 1 - diagnóstico, manejo e acompanhamento de crianças expostas ao hiv - 2024 

Todos os casos de HIV ou de aids e de crianças expostas ao HIV podem ser notificados por qualquer profissional de saúde ou responsáveis pelos estabelecimentos de saúde, públicos ou privados.

Em crianças com idade inferior ou igual a 18 meses, o diagnóstico da infecção pelo HIV não deve ser realizado pela detecção de anticorpos anti-HIV3. Para o diagnóstico em crianças com idade inferior ou igual a 18 meses, são disponibilizados, nos serviços especializados, os exames de carga viral do HIV e de DNA pró-viral do HIV. O cuidado deve ser compartilhado com o SAE para diagnóstico e acompanhamento.

Hemograma completo  

O evento adverso hematológico mais comum é a anemia relacionada ao uso de zidovudina, geralmente com resolução espontânea entre três e seis meses após a suspensão do medicamento. As alterações hematológicas podem ser mais intensas quando há exposição a esquemas mais complexos e com duração mais longa. O uso de zidovudina também pode acometer outras séries hematológicas, como neutrófilos, linfócitos e plaquetas. A neutropenia e a linfopenia, quando ocorrem, tendem a ser mais prolongadas que a anemia.  

8.3 Criança com toxoplasmose congênita suspeita ou confirmada

A toxoplasmose é uma doença infecto parasitária causada pelo protozoário Toxoplasma gondii, que incide globalmente e apresenta alta prevalência no território brasileiro (MS 2022). As mães dessas crianças geralmente não apresentam manifestações clínicas sugestivas da infecção durante a gestação e a maioria das crianças infectadas, cerca de 90%, não apresenta sintomas ao nascimento. Como o diagnóstico clínico do binômio mãe/filho é difícil e o tratamento precoce da criança com toxoplasmose congênita (pré-natal e/ou pós-natal) está associado a menor número e gravidade das sequelas, faz-se necessário utilizar o rastreamento da gestante e da criança suspeitas.

As manifestações da toxoplasmose congênita podem surgir ao nascimento, durante a infância, ou até vários anos mais tarde (nesses casos, geralmente a retinocoroidite). Sendo assim, sugere-se que os lactentes nascidos de mães com comprovada ou provável infecção toxoplasma sejam monitorados, no mínimo, por um ano, com avaliação clínica (incluindo avaliação oftalmológica e neurológica) e testes sorológicos periódicos, para diagnosticar e tratar a infecção o mais cedo possível.

Exames para acompanhamento da toxoplasmose congênita suspeita ou confirmada

 

8.4 Criança exposta ao vírus da hepatite B (mãe com sorologia HbsAg reagente no pré-natal ou hepatite B crônica) 

A infecção pelo vírus da hepatite B (HBV) é muito comum e representa um grave problema de saúde pública, no Brasil e no mundo, devido à sua elevada morbidade e mortalidade. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estimou em 257 milhões (3,5% da população global) o número de pessoas vivendo com infecção crônica pelo HBV e em 900 mil o número de mortes causadas por esse vírus em 2015.   A prevenção da transmissão vertical do HBV é realizada de forma estratégica para evitar que pessoas com infecção pelo HBV trasmitam o vírus para seus filhos durante o parto ou gestação. As três estratégias farmacológicas são:

  • Tenofovir (TDF) profilático, iniciado idealmente entre 24 e 28 semanas de gestação, caso a gestante seja HBsAg reagente e cumpra critérios para profilaxia com antiviral.
  • Vacinação de todos os recém-nascidos para hepatite B, independentemente do status HBsAg materno, com a primeira dose aplicada preferencialmente nas primeiras 24 horas de vida.
  • IGHAHB nas primeiras 12 a 24 horas após o nascimento nos recém-nascidos de mãe com HBsAg reagente.

Independentemente do uso de profilaxia ou de tratamento antiviral durante a gestação e/ou o puerpério, devem-se monitorar elevações dos níveis de ALT em todas as mulheres com HBsAg reagente. Recomenda-se realizar dosagem mensal de ALT nos primeiros três meses e aos seis meses após o parto e, posteriormente, manter o monitoramento de rotina de acordo com cada situação clínica.

Os lactentes expostos ao HBV devem ser testados para HBsAg e anti-HBs um a dois meses (até seis meses) após a última dose da vacina e a partir dos 9 meses de idade, caso tenham recebido IGHAHB no pós-parto imediato. Quando a IGHAHB não tiver sido utilizada, avaliar HBsAg e anti-HBs um a dois meses após a última dose do esquema vacinal.

Exames para o monitoramento da exposição ao vírus da Hepatite B

Fonte: Adaptado de Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Prevenção da Transmissão Vertical do HIV, Sífilis e Hepatites Virais, 2022 

  • Crianças nascidas de mães HBsAg reagente e que não se infectaram pelo HBV podem apresentar anti-HBc detectável por até 24 meses após o nascimento por aquisição passiva de anticorpos maternos. 

 

No caso de HBsAg reagente:   

 

8.5 Criança exposta ao vírus da hepatite C (mãe portadora de hepatite C) 

REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS

  1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Complexo da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Manejo da Infecção pelo HIV em Crianças e Adolescentes: Módulo 1: Diagnóstico, manejo e acompanhamento de crianças expostas ao HIV [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde, Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Complexo da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente. – Brasília: Ministério da Saúde, 2024. Disponível em: https://www.gov.br/aids/pt-br/central-de-conteudo/pcdts/PCDT_HIV_Criana_Modulo_1_2024_e.pdf
  2. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Ações Programáticas. Manual de gestação de alto risco [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Ações Programáticas. – Brasília: Ministério da Saúde, 2022. 692 p.: il.
  3. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Prevenção da Transmissão Vertical do HIV, Sífilis e Hepatites Virais [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde, Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde. – Brasília: Ministério da Saúde, 2022.
  4. SÃO PAULO (Município). Nota técnica sobre a toxoplasmose gestacional: vigilância e assistência de casos suspeitos, prováveis e confirmados de toxoplasmose gestacional e congênita em gestantes, puérperas e recém-nascidos. São Paulo, 2023. Disponível em: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/nota_tecnica_toxoplasmose_gestante_rn_04_01_23.pdf.
  5. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Complexo da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas de Hepatite B e Coinfecções [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde, Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Complexo da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente. – Brasília: Ministério da Saúde, 2023.

Capítulo 9 - ATENÇÃO INTEGRAL A SAÚDE BUCAL NA INFÂNCIA 

O cuidado com a saúde bucal da gestante e bebê inicia-se com o compartilhamento de cuidados com a Equipe de Saúde Bucal (ESB), para inicio do Pré Natal Odontológico (PNO). A ESB composta pelo CD, Auxiliar de Saúde Bucal (ASB) e Técnico de Saúde Bucal (TSB)  deverão realizar orientações sobre o auto cuidado referente a higiene oral, ingestão de alimentos açucarados que poderão influenciar no futuro paladar do bebê, orientações sobre o aleitamento materno o qual irá auxiliar no desenvolvimento orofacial da criança e os cuidados com o seu bebê ao nascer, como com a higiene oral através de gaze embebida em água filtrada.                   

A primeira consulta odontológica do bebê deve ser feita entre o nascimento do primeiro dente (geralmente a partir dos 6 meses) e os 12 meses de idade.

Para bebês em fase de erupção dos dentes incisivos recomenda-se uso de escova de dente massageadora ou escova de dente infantil, com a pasta fluoretada, duas vezes ao dia. Já para crianças em fase de erupção de molares recomenda-se, além da escovação, o uso do fio dental.

Nos casos de crianças que já conseguem escovar os próprios dentes, os pais deverão complementar esta higienização até que a criança tenha habilidade bem desenvolvida.

A higiene oral deve ser realizada com pasta fluoretada (1100 ppm de flúor) a partir da presença do primeiro dente decíduo, friccionando cuidadosamente os dentes (Guia de Recomendações para o uso de fluoretos no Brasil – MS, link file:///C:/Users/d568087/Downloads/Guia%20de%20recomenda%C3%A7%C3%B5es%20para%20o%20uso%20de%20fluoretos%20no%20Brasil.pdf)

Para crianças que ainda não sabem cuspir, recomenda-se quantidade de pasta dental equivalente a um grão de arroz, em torno de 0,1g, e para crianças que já sabem cuspir, quantidade equivalente a um grão de ervilha (0,3g)  sempre sob supervisão e monitoramento de adulto evitando ingestão involuntária pela criança em idade pré escolar.

De modo geral, deve-se evitar mamadas na madrugada, principalmente com mamadeiras açucaradas e em crianças maiores de um ano, pois a oferta inoportuna de alimentos desencadeia risco de aspiração, obesidade e “cárie de mamadeira”, de difícil tratamento e controle.

9.1. Monilíase Oral (CIAP - S75 Monilíase oral)

Conhecida como “sapinho” a Candidíase ou a Monilíase Oral é infecção fúngica na mucosa oral causada pelo fungo Cândida albicans, caracterizada por manchas brancas na superfície da mucosa labial e bucal, língua e palato mole. As lesões desenvolvem e formam placas confluentes que se assemelham a “coalhada de leite” que podem ser facilmente removidas com uma espátula ou uma gaze revelando uma base eritematosa por baixo ou lesões avermelhadas como aftas.

É uma infecção oportunista pois depende do sistema de defesa da criança, que por vezes pode não estar suficientemente forte ou desenvolvido para combater estes microorganismos fúngicos.

A infecção pode ocorrer pelo bico do seio da mãe ou algum objeto que a criança levou à boca e estes estarem infectados, assim, a higienização é fundamental.

Alguns diagnósticos, resultados esperados e intervenções de enfermagem na monilíase oral – CIPE

Prescrição – Monilíase oral

9.2. Estomatite (CIAP - D20 Sinais/sintomas da boca/língua/lábios; S01 Dor/sensibilidade dolorosa da pele)

É uma inflamação da mucosa oral de etiologias diversas provocada por fungos, vírus, bactérias, agentes tóxicos, traumas, deficiência de vitaminas do complexo B e C e outras. Trata-se de um processo inflamatório difuso, ou seja, que se espalha por toda mucosa da boca, com presença de inchaço, vermelhidão e/ou aftas, podendo ou não ter febre, ocasionando dor e dificuldade para se alimentar.

9.3. Cárie dentária (CIAP - D19 Sinais/sintomas dos dentes/gengivas)

Doença bacteriana causada pela interação de três fatores básicos: hospedeiro (dentes), microflora (bactérias – placa bacteriana) e substrato (restos alimentares). O resultado dessa interação é a cárie dentária.

Fatores de risco: Uso noturno de mamadeira adoçada (com açúcar, achocolatados ou mel), consumo excessivo de carboidratos, ausência de higiene oral e do creme dental com flúor.

Diagnósticos, resultados esperados e intervenções de enfermagem na Cárie Dentária – CIPE

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. BRASIL. Ministério da Saúde. Guia de recomendações para o uso de fluoretos no Brasil. Brasília, 2022. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/composicao/saps/brasil-sorridente/publicacoes/guia-de-recomendacoes-para-o-uso-de-fluoretos-no-brasil.pdf/view.
  2. CIPE. CIPE - Português do Brasil. 4 ed. Setembro de 2019.
  1. PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO. Saúde da criança e do adolescente. 2. ed. São Paulo, 2017. Disponível em: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/arquivos/saudedacriancaedoalescente02012017.pdf.

Capítulo 10 - IMUNIZAÇÃO NA INFÂNCIA

 

A vacinação é considerada uma das estratégias mais eficientes para redução da morbidade e mortalidade das doenças imunopreveníveis. 

No Brasil, o Ministério da Saúde mantém o Programa Nacional de Imunizações – PNI, criado em 1973 e regulamentado em 1975, para prevenção de importantes doenças transmissíveis como tuberculose, hepatite B, difteria, coqueluche, tétano, poliomielite, sarampo, caxumba, rubéola, infecções pelo Haemophilus influenzae tipo b, rotavírus, meningococo, pneumococo, vírus do papiloma humano (HPV), vírus influenza sazonal, varicela, hepatite A, febre amarela e covid-19. 

Para a criança, procedimentos que incluem uso de agulhas, como as vacinas e a coleta de sangue, além de serem considerados dolorosos, são assustadores e podem desencadear manifestações como medo, desespero e resistência. Neste contexto indicamos algumas ações para tornar a experiência mais positiva, entre elas:  

Ações para tornar a experiência da criança com a vacinação mais positiva 

 

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. BRASIL. Ministério da Saúde. Plano Nacional de Imunizações (PNI). Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-programas/pni#:~:text=Em%201973%20foi%20formulado%20o,pela%20reduzida%20%C3%A1rea%20de%20cobertura
  2. SOCIEDADE BRASILEIRA DOS ENFERMEIROS PEDIATRAS. Posição da Sociedade Brasileira de Enfermeiros Pediatras sobre a vacinação infantil contra a COVID-19. Revista da Sociedade Brasileira de Enfermagem Pediátrica, v. 22, eSOBEP2022005, 2022. Disponível em: https://journal.sobep.org.br/wp-content/uploads/articles_xml/2238-202X-sobep-22-eSOBEP2022005/2238-202X-sobep-22-eSOBEP2022005.x79680.pdf
  3. São Paulo (Estado) Secretaria da Saúde. Coordenadoria de Controle de Doenças. Centro de Vigilância Epidemiológica “Prof. Alexandre Vranjac”. Norma técnica do Programa de Imunização. São Paulo: CVE, 2021. 75 p. Disponível em: https://www.saude.sp.gov.br/resources/cve-centro-de-vigilancia-epidemiologica/areas-de-vigilancia/imunizacao/2021/norma_de_imunizacao_2021_2.pdf

 

 

Capítulo 11 - ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DO ADOLESCENTE

Segundo o Ministério da Saúde, que segue a convenção da Organização Mundial da Saúde (OMS), a adolescência compreende o período entre os 10 e 19 anos 11 meses e 29 dias; delimitando a juventude como o período de 15 a 24 anos.

Para fins legais da infância e da adolescência, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) considera criança a pessoa de até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade.

Enquanto o começo da adolescência é verificado, principalmente, pelo início da puberdade, a delimitação do final da adolescência se mistura com o começo da juventude. 

 
 

A adolescência compreende o período de transição, o qual é marcado por repletas e intensas mudanças físicas, emocionais, cognitivas e sociais. Um dos princípios norteadores das ações voltadas à saúde dos adolescentes e jovens, na comunidade, é que eles precisam ser entendidos como sujeitos e protagonistas de sua individualidade.  

Atendimento ao Adolescente

O atendimento ao adolescente abrange ações Interdisciplinares, Intersetoriais e Interinstitucionais, voltadas para a prevenção e promoção da saúde, para o atendimento local e para o encaminhamento de situações e problemas específicos.

Deve-se sempre levar em conta, dentre outras variáveis, o processo de crescimento e desenvolvimento próprios da adolescência, e a vulnerabilidade do adolescente a inúmeros agravos físicos, psíquicos e sociais.

Um dos grandes desafios que as equipes de atenção primária possuem é vincular o adolescente a unidade de saúde e, por isso, é de grande importância saber cativar estes adolescentes, e desenvolver estratégias complementares (como: parcerias com escolas, espaços frequentados por eles, assim como teleatendimento, expansão de horários, e entre outros) visando promover uma melhor qualidade de saúde e garantir o direito à saúde como um direito humano fundamental.  

É importante ressaltar que a Atenção Primária é porta de entrada e centro de comunicação da RAS, coordenadora do cuidado e ordenadora das ações e serviços, segundo a Política Nacional de Atenção Primária (PNAB). Portanto, adolescentes que realizam acompanhamento na Atenção Especializada, devem ser acompanhados, em conjunto, com sua equipe de ESF. 

Um dos princípios norteadores das ações voltadas à saúde dos adolescentes e jovens na comunidade é que eles precisam ser entendidos como sujeitos e protagonistas de sua individualidade. Nesse sentido, destacam-se como objetivos no cuidado integral de adolescentes e jovens: Promover Atenção Integral à Saúde Adolescentes e Jovens; Reduzir a morbimortalidade desse segmento populacional; evitar situações de violação de direitos humanos, prevenir violências e promover atenção psicossocial de adolescentes e jovens 

São pressupostos para o atendimento de adolescentes no âmbito da Atenção Primária à Saúde:  

- Adolescentes devem ser prioridade nas políticas públicas, visto que a qualidade do seu desenvolvimento deve ser considerada condição fortalecedora para que alcancem pleno potencial enquanto adultos; 

- Os hábitos e comportamentos dos adolescentes podem determinar o nível de exposição a riscos durante essa fase e interferir também em sua saúde na vida adulta, o que reforça a importância do acompanhamento profissional de modo longitudinal; 

- A condição de prioridade dos adolescentes, aplicada ao contexto dos serviços de saúde, implica na garantia de acesso e atenção integral a esse público, inclusive observando para que as características desse ciclo de vida não repercutam em desassistência; 

- No Sistema Único de Saúde (SUS), a Atenção Primária à Saúde (APS) é a esfera do cuidado que lida diretamente com as condições para o desenvolvimento dos adolescentes. Isso acontece devido aos atributos de sua atuação; 

Garantir o acesso de pessoas jovens à APS é uma responsabilidade compartilhada entre gestores e profissionais, enquanto integrantes do Sistema de Garantia de Direitos (SGD), para promoção do crescimento e desenvolvimento saudável de adolescentes; 

Embora os adolescentes não sejam legalmente responsáveis como adultos, essas pessoas têm o direito de buscar serviços de saúde e merecem proteção especial devido à sua fase de desenvolvimento. 

11.1. Consulta de Enfermagem do Adolescente

A consulta de Enfermagem deve ser organizada e registrada conforme as cinco etapas do Processo de Enfermagem. (COFEN. Resolução nº 736, de 17 de janeiro de 2024. Dispõe sobre a implementação do Processo de Enfermagem em todo contexto socioambiental onde ocorre o cuidado de enfermagem. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 18 jan. 2024. Seção 1, p. 78.)

Considere que em algumas situações o adolescente não tem conhecimento do motivo de estar na consulta ou vai à consulta contra a própria vontade, pois foi levado por algum familiar, sem ter participado desta decisão. Nestes casos, os adolescentes podem reagir sem querer se comunicar ou incitando conflitos, o que requer habilidade do enfermeiro no manejo de cada situação.   

Segundo o Parecer Coren São Paulo 003/2018, o adolescente entre 12 e 18 anos pode ser atendido sozinho. Situações em que deve ser avaliado se o adolescente pode ser atendido sozinho: déficit intelectual do usuário, que o incapacite responder; distúrbios psiquiátricos graves ou mesmo o próprio desejo do adolescente em não ficar sozinho com o profissional. 

 

Quadro de Orientações aos profissionais para o atendimento do adolescente 

  • O adolescente precisa sentir-se seguro e respeitado pelo profissional, o qual não deve ser normativo ou emitir juízo de valor sobre questões abordadas na consulta e manter-se atento a todas as informações, queixas e necessidades do adolescente. Deve-se abordar temas de interesse do adolescente, estimulando-o desta forma a expor suas necessidades e angústias, esclarecendo dúvidas e estabelecendo o vínculo.  
  • É importante respeitar a singularidade de cada um, considerando sempre as especificidades relativas à idade, ao gênero, à orientação sexual, à raça, à etnia, ao meio familiar, às condições de vida, à escolaridade, ao trabalho, dentre outros aspectos, abordando sempre o adolescente em sua integralidade. 
  • Incentivar a autonomia progressiva do adolescente na gestão da sua saúde e bem-estar, incluindo o autocuidado e a tomada de decisões responsáveis. 
  • Sugere-se que a primeira consulta de enfermagem possa ser dividida em duas etapas, não necessariamente no mesmo dia, a fim de fortalecer a criação de vínculo entre adolescente e profissional. 
  • Deve-se pontuar ao usuário e família, que a pessoa central da consulta é o adolescente, deixando claro o caráter confidencial e seus direitos ao sigilo, o qual pode ser rompido, com sua ciência. Vide Quadro A sobre quebra de sigilo.  
  • Quando os riscos não forem imediatos, a quebra do sigilo deve ser acordada com o adolescente, para que ele se prepare e se fortaleça, e realize o diálogo com seus pais/responsáveis, podendo essa conversa ser mediada pelo profissional de saúde. O profissional de saúde deve apoiar e preparar o adolescente para esse momento, caso seja necessário.  

Situações sobre quebra e manutenção de sigilo no atendimento ao adolescente. 

Etapas da Consulta de Enfermagem com o Adolescente e Família 

  

 Avaliação de Enfermagem  

 

Coleta de dados subjetivos: Anamnese 

De maneira geral, nesta etapa é importante abordar como o adolescente está se sentindo em relação às mudanças corporais e emocionais pelas quais está passando, ao seu relacionamento com a família e com seus pares, a forma como utiliza as horas de lazer, as suas vivências anteriores no serviço de saúde, as expectativas quanto ao atendimento atual, a seus planos para o futuro e se conhece a os serviços de saúde, lazer, cultura, educação, entre outros, disponíveis na região.

Durante o atendimento o profissional de saúde pode utilizar ferramentas para desenvolver e aprimorar o vínculo com o adolescente e/ou família: Chamar o adolescente pelo nome; Valorizar as preocupações do adolescente e/ou da família, esclarecendo as suas dúvidas; Fornecer informações de fácil compreensão, considerando as especificidades culturais; Aprimorar o uso de momentos próprios para ações educativas; Personalizar a orientação preventiva (utilizando perguntas abertas e sugestões com foco nas condições reais do adolescente e/ou família) Atentar-se à quantidade de informações fornecida e utilizar linguagem adequada; 

 

Tópicos a serem abordados na coleta de dados subjetivos 

 

Avaliação dos fatores de Risco e de Proteção na adolescência.

Exame físico 

 

 Devem ser avaliados ou examinados: 

 

11.2. Crescimento e Desenvolvimento Puberal

É na puberdade que se inicia o aparecimento das características sexuais secundários: desenvolvimento dos pelos pubianos em ambos os sexos, broto mamário no sexo feminino e aumento dos testículos no masculino.

A puberdade termina com o completo desenvolvimento físico, parada do crescimento, que se constata pela soldadura das cartilagens de conjugação dos ossos longos e aquisição da capacidade reprodutiva, em vista do amadurecimento das gônadas.

Crescimento Pondero-Estatural

Os adolescentes durante a puberdade ganham cerca de 20% de sua estatura final e 50% de seu peso adulto. Dá-se o nome de estirão puberal ao rápido crescimento em estatura, característico desta fase.

Recomenda-se a avaliação antropométrica (peso, altura e avaliação nutricional) anualmente até o final da adolescência e com maior frequência se for detectado algum problema (baixa estatura, baixo peso, sobrepeso e obesidade).

Maturação Sexual Sexo Feminino

A primeira manifestação é o surgimento do broto mamário, em média aos 9 anos, que pode ser doloroso e unilateral, demorando até 6 meses para o crescimento do contralateral. No mesmo ano há o aparecimento dos pelos pubianos.

Aproximadamente aos 10 anos de idade começam a aparecer os pelos axilares acompanhados pelo desenvolvimento das glândulas sudoríparas, o que pode proporcionar o odor característico do adulto.

A primeira menstruação, denominada menarca, pode vir prescindida de uma secreção vaginal clara, acontece cerca de um ano após o máximo de velocidade de crescimento, coincidindo com a fase de sua desaceleração, após a menarca a adolescente pode crescer em média 7 cm.

A idade média para a menarca gira em torno de 12 anos aproximadamente. Os primeiros ciclos menstruais geralmente são anovulatórios e irregulares, por até 3 anos pós menarca.

 
 

A ocorrência da menarca não significa que a adolescente tenha atingido o estágio de função reprodutora completa, pois os ciclos iniciais podem ser anovulatórios. Por outro lado, é possível acontecer também a gravidez antes da menarca, com um primeiro ciclo ovulatório.

Fonte da imagem: Sociedade Brasileira de Pediatria. Link de acesso: https://www.sbp.com.br/departamentos/endocrinologia/desenvolvimento-puberal-de-tanner/

Sexo Masculino

A primeira manifestação de maturação sexual é o aumento do volume testicular, por volta dos 10 anos. O crescimento peniano ocorre geralmente um ano após o crescimento dos testículos, sendo que primeiro o pênis cresce em comprimento e depois em diâmetro.

Os pelos pubianos aparecem em torno dos 11 anos, em seguida são os pelos axilares, faciais e os do restante do corpo.

A primeira ejaculação denominada espermarca, ocorre em média aos 12 anos, e a mudança da voz acontece mais tarde.

No adolescente masculino é comum identificar entre os 13 e 14 anos, a ginecomastia púbere (aumento do tecido mamário), frequentemente bilateral, com consistência firme e móvel e, as vezes pode ser bem doloroso. Regride espontaneamente em até 2 anos. Quando não involui em 24 meses, deverá ser avaliada pelo médico da equipe/unidade para possível encaminhamento.

A polução noturna é a ejaculação noturna involuntária, ou seja, saída de sêmen durante o sono, decorrente de um estímulo cerebral para sonhos eróticos que levam ao orgasmo. É um evento fisiológico normal, mas às vezes pode causar constrangimentos e dúvidas aos adolescentes, que devem ser orientados e tranquilizados pelo enfermeiro ou outro profissional da equipe.

 
 

Fonte da imagem: Sociedade Brasileira de Pediatria. Link de acesso: https://www.sbp.com.br/departamentos/endocrinologia/desenvolvimento-puberal-de-tanner/

Puberdade tardia

- Ausência de qualquer característica sexual secundária em meninas após os 13 anos de idade, e em meninos após 14 anos.

- Ademais, em ambos os sexos, a mudança de um estágio puberal para outro não pode levar mais que 2 anos, nem ocorrer um atraso superior há quatro anos entre o início da puberdade e a sua conclusão.

Puberdade precoce

- Aparecimento de caracteres sexuais secundários antes dos 8 anos nas meninas, e antes dos 9 anos nos meninos.

Quanto ao acompanhamento do crescimento e desenvolvimento puberal:

  • Realizar consultas a intervalos conforme a fase em que se encontra o/a paciente.
  • No caso de alterações (estatura baixa ou elevada, maturação tardia ou antecipada), os intervalos de retorno serão definidos pelo profissional, conforme a necessidade do caso.
  • Em caso de detecção de puberdade atrasada ou precoce, deve-se encaminhar a criança/adolescente para consulta com o Pediatra.

  

11.3. Atendimento do Adolescente via Demanda Espontânea

Segundo o Parecer Coren São Paulo 003/2018, o adolescente entre 12 e 18 anos não precisa de acompanhantes para passar em atendimento em qualquer instituição de saúde, quando adolescente mostrar maturidade para se responsabilizar por seu tratamento, seus pais serão convidados a comparecer, somente, se ele estiver de acordo ou em situações em que seja necessária a quebra de sigilo, vide Quadro A.

É fundamental dispor de um tempo adequado para cada atendimento, principalmente para a realização de uma abordagem integral e de orientações preventivas. Alguns retornos podem ser necessários para estabelecer um vínculo de confiança e esclarecer situações mais complexas.

Ao receber um adolescente por demanda espontânea estabeleça uma escuta ativa e acolha-o de modo a compreender o motivo da procura de atendimento na UBS. Avalie a situação e considere a classificação abaixo para estabelecer a conduta.

 
 

 Fonte da Imagem: Atenção Básica - Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo.  Unidade Básica de Saúde – Reorganização do Processo de Trabalho – Acolhimento à demanda espontânea. 1ª Edição Outubro de 2015.

11.4 Alguns diagnósticos, resultados esperados e intervenções de enfermagem relacionados à consulta do adolescente – CIPE

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. Brasil. Ministério da Saúde. Saúde do Adolescente e Jovens [Internet]. 2023 [citado 2024 ago 25]. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/s/saude-do-adolescente
  2. Brasil. Ministério da Saúde. Caderno do gestor do PSE [recurso eletrônico]. Brasília: Ministério da Saúde, Ministério da Educação; 2022. 46 p.
  3. Souza LFR, Andrade EP, Villalba JP. Manual Técnico para o Cuidado à Saúde do Adolescente na Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde; 2019.
  4. Sociedade Brasileira de Pediatria. Estágios desenvolvimento puberal [Internet]. [citado 2024 ago 25. Disponível em: https://www.sbp.com.br/departamentos/endocrinologia/desenvolvimento-puberal-de-tanner/
  5. Sociedade SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Consulta do adolescente: abordagem clínica, orientações éticas e legais como instrumentos ao pediatra. Manual de Orientação. Departamento Científico de Adolescência. Nº 10, janeiro de 2019. Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/21512c-MO_-_ConsultaAdolescente_-_abordClinica_orientEticas.pdf
  6. International Council of Nurses. Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE/ICNP) [Internet]. [citado 2024 ago 25]. Disponível em: https://www.icn.ch/icnp-browser
  7. COFEN. Resolução nº 736, de 17 de janeiro de 2024. Dispõe sobre a implementação do Processo de Enfermagem em todo contexto socioambiental onde ocorre o cuidado de enfermagem. Diário Oficial da União, Brasília, DF. 2024 jan 18; Seção 1:78.
  8. BRASIL. Ministério da Saúde. Proteger e cuidar da saúde de adolescentes na atenção básica. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2018. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/proteger_cuidar_adolescentes_atencao_basica_2ed.pdf.
  9. Prefeitura de São Paulo. Secretaria Municipal de Saúde. Reorganização do Processo de Trabalho Acolhimento à Demanda Espontânea Atenção Básica SMS-SP/ Secretaria Municipal de Saúde - 1ªed - São Paulo: Prefeitura de São Paulo, 2015.

Capítulo 12 - PREVENÇÃO DE SOBREPESO E OBESIDADE

Nos últimos anos têm-se observado o aumento de doenças crônicas não transmissíveis, como hipertensão arterial e diabetes dentre crianças e adolescentes, constituindo-se como um problema prioritário de saúde pública como foco na prevenção e detecção precoce dentro da APS. Importante considerar que os hábitos alimentares, estilo de vida, práticas esportivas, sedentarismo, são fortemente influenciados por questões familiares, sociais, culturais e socioeconômicos.

O aumento vertiginoso da obesidade infantil nos últimos anos está associado a uma nutrição inadequada nos primeiros anos de vida, derivada do consumo de alimentos não saudáveis e da interrupção precoce da amamentação.

O elevado consumo de alimentos ultraprocessados, consumo de bebidas açucaradas e outros alimentos não saudáveis (como fast food e doces) está associado a um maior escore z para o Índice de Massa Corporal (IMC) para idade, maior percentual de gordura corporal e maior chance de sobrepeso e obesidade.

Consequências da obesidade

  • Hipertensão arterial, hiperlipidemia, doença cardiovascular, cálculos biliares, diabetes.
  • Irregularidades menstruais, infertilidade, gravidez de risco.
  • Diminuição dos níveis de testosterona e maior chance de desenvolver a ginecomastia púbere.
  • Isolamento social, baixa autoestima, depressão, dificuldade de aceitação pelo grupo.  

12.1. Consulta de Enfermagem direcionada para casos de Sobrepeso/ Obesidade

É necessário estabelecer objetivos e intervenções individualizadas, baseadas na idade, grau de obesidade, fatores comportamentais, psicológicos, sociais e na presença de comorbidades.

O objetivo principal do atendimento é fornecer recomendações para mudanças na dieta e atividade física, que podem ser implementadas dentro do ambiente familiar e que promovam a saúde, crescimento e desenvolvimento adequados.

O envolvimento da família é fundamental para auxiliar a mudança no comportamento alimentar dos adolescentes, sendo assim é necessário capacitar os pais a fim de facilitar a mudança de comportamento dos adolescentes para uma alimentação saudável e um estilo de vida mais ativo.

Durante a avaliação subjetiva, o enfermeiro deve investigar:

  • A vontade de emagrecer
  • Hábito alimentar da família
  • Hábito alimentar do adolescente dentro e fora de casa (realizar um diário com o adolescente sobre a sua alimentação)
  • Prática de atividade física (frequência, tipo e tempo de atividade)
  • Obesidade na família - pai, mãe, irmãos e avós
  • Tratamentos anteriores na tentativa de emagrecimento: dietas, medicamentos e exercícios
  • Problemas de saúde associados e internações devido as consequências da obesidade.

Durante a avaliação objetiva, o enfermeiro deve avaliar:

  • Peso, estatura e IMC
  • Pressão arterial
  • Pescoço, axilas e regiões de dobras: presença de acanthose nigricans
  • Hiperqueratose e hiperpigmentação em regiões de dobras
  • Distribuição de gordura corporal
  • Maturação sexual

12.2. Estratégias Comportamentais para tratamento da Obesidade na Infância e Adolescência

  • A simples transmissão de informações nutricionais não é suficiente para auxiliar o adolescente que precisa fazer mudanças na alimentação, pois estas informações alcançam somente a dimensão intelectual e há muitas dimensões envolvidas na mudança de comportamento.
  • A educação nutricional tem como grande desafio a necessidade de criar estratégias educativas que, além de transmitir informações, possibilitem a criação de novos sentidos para o ato de comer.
  • Dietas muito restritivas não são aconselháveis e podem promover déficit de crescimento na estatura.
  • As mudanças devem ser pequenas e graduais, diminuir o consumo de alimentos e preparações hipercalóricas já pode ser suficiente para a redução do peso.

ORIENTAÇÃO ALIMENTAR DA PESSOA NA ADOLESCÊNCIA 

RECOMENDAÇÃO 1: ESTIMULE O CONSUMO DIÁRIO DE FEIJÃO 

ORIENTAÇÃO: Estimule o consumo diário de feijão ou outras leguminosas, preferencialmente no almoço e no jantar. 

  

RECOMENDAÇÃO 2: ORIENTE QUE SE EVITE O CONSUMO DE BEBIDAS ADOÇADAS 

ORIENTAÇÃO: Oriente que se evite o consumo de bebidas adoçadas (também chamadas de bebidas ultraprocessadas) 

  

RECOMENDAÇÃO 3: ORIENTE QUE SE EVITE O CONSUMO DE ALIMENTOS ULTRAPROCESSADOS 

ORIENTAÇÃO: Oriente que hambúrguer e/ou embutidos (linguiças, salsicha, presunto, mortadela, salames), macarrão instantâneo, salgadinhos de pacote ou biscoitos/bolachas salgados ou recheados, doces ou guloseimas são alimentos ultraprocessados e devem ser evitados. 

  

RECOMENDAÇÃO 4: ORIENTE O CONSUMO DIÁRIO DE LEGUMES E VERDURAS  

ORIENTAÇÃO: Estimule o consumo diário de legumes e verduras no almoço e no jantar, combinando com arroz, feijão e variações de preparação. 

  

RECOMENDAÇÃO 5: ORIENTE O CONSUMO DIÁRIO DE LEGUMES E VERDURAS  

ORIENTAÇÃO: Estimule o consumo diário de legumes e verduras no almoço e no jantar, combinando com arroz, feijão e variações de preparação. 

  

RECOMENDAÇÃO 6: ESTIMULE QUE SE ALIMENTE COM ATENÇÃO E EM AMBIENTES APROPRIADOS  

ORIENTAÇÃO: Estimule que a pessoa na adolescência, sempre que possível, se alimente em um ambiente tranquilo, silencioso, sem distrações, como telas, evitando pular ou substituir refeições. Oriente também que faça as refeições sempre que possível em companhia da família ou de amigos 

  

RECOMENDAÇÃO 7: ESTIMULE QUE REALIZE O CAFÉ DA MANHà 

ORIENTAÇÃO: Estimule que a pessoa na adolescência realize o café da manhã antes de iniciar as atividades do dia. 

  

Nos casos em que a pessoa na adolescência demonstra seguir dietas da moda e crenças em mitos sobre alimentação, procure ouvir e acolher essas falas, e, na medida do possível desmistificar essas crenças seguindo as orientações do Protocolo de uso do guia alimentar para a população brasileira na orientação alimentar da pessoa na adolescência (brasil, 2022). Em casos de preocupação/insatisfação com imagem corporal e comportamentos de risco ligados a transtornos alimentares, o acolhimento e o encaminhamento para um atendimento multiprofissional são essenciais. 

Para pessoas na adolescência que apresentem dificuldade de acesso financeiro para aquisição de alimentos e estejam em insegurança alimentar e nutricional, procure auxílio com profissionais do Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) ou em outros pontos de apoio no território que possam fornecer cestas ou alimentos mais baratos. Busque informações sobre programas e equipamentos sociais no território que desenvolvam ações para apoio nesses casos. 

12.3. Alguns diagnósticos, resultados esperados e intervenções de enfermagem – CIPE

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. Sociedade Brasileira de Pediatria – Departamento de Nutrologia Obesidade na infância e adolescência – Manual de Orientação / Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamento Científico de Nutrologia. 3ª. Ed. – São Paulo: SBP. 2019. 236 p. Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/Manual_de_Obesidade_-_3a_Ed_web_compressed.pdf
  2. SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Hipertensão arterial na infância e adolescência. Manual de Orientação. Departamento Científico de Nefrologia. Nº 2, abril de 2019. Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/21635c-MO_-_Hipertensao_Arterial_Infanc_e_Adolesc.pdf

 

 

 

Capítulo 13 - IMUNIZAÇÃO DO ADOLESCENTE

Caso a vacinação esteja incompleta, com esquema básico de vacinação interrompido, não é necessário reiniciar o esquema e sim completá-lo.

Nos casos em que não há informação disponível sobre vacinação anterior, ou se o registro da informação for muito duvidoso, recomenda-se considerar como não vacinado e verificar o esquema de acordo com a preconização vacinal vigente.

Manual de Normas e Procedimentos para Vacinação 

Publicação do Ministério da Saúde que trata dos aspectos imunológicos das vacinas, orientações sobre o manejo da sala de vacinas, registros adequados e boas práticas nos processos de aplicação. 

 

13.1. Alguns diagnósticos, resultados esperados e intervenções de enfermagem na imunização do Adolescente

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

  1. BRASIL. Calendário Nacional de Vacinação: Adolescente. Ministério da Saúde. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/vacinacao/calendario.
  2. SÃO PAULO. Vigilância em Saúde: Vacinação. Secretaria Municipal da Saúde. Disponível em: https://capital.sp.gov.br/web/saude/vigilancia_em_saude/vacinacao/.
  3. BRASIL. Manual de normas e procedimentos: 2. ed. rev. Brasília: Ministério da Saúde, 2021. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_normas_procedimentos_2edrev.pdf.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Capítulo 14 - SAÚDE BUCAL DO ADOLESCENTE

As principais afecções que devem ser observadas pelos Enfermeiros nos adolescentes são: cáries, aftas, gengivites e halitose.

A modificação hormonal e comportamental na adolescência, associada à higiene bucal menos eficaz, podem aumentar o risco de cáries e doenças gengivais dentre os adolescentes.

 Na fase da adolescência, é muito comum ocorrerem mudanças nos hábitos alimentares, havendo maior preferência por lanches rápidos, salgadinhos, chicletes e refrigerantes, muitas vezes consumidos exageradamente, chegando mesmo a substituir as refeições, fato que geralmente está associado a uma diminuição da disciplina dos hábitos da escovação conquistados na infância. Dessa forma, podem passar a fazer parte da rotina do adolescente alguns problemas antes não tão comuns, como a cárie dental e as doenças gengivais. Juntamente com esses dois, os traumatismos e os problemas com o dente de siso constituem os principais transtornos relacionados à saúde oral que afetam os indivíduos nessa fase.

14.1. Cárie

A cárie dentária é uma das doenças crônicas mais prevalentes, afetando a maioria das crianças, adolescentes e adultos em todo o mundo. É induzida por fatores biológicos e ambientais. 

Na consulta de enfermagem avaliar integridade da mucosa, gengiva e dentes compartilhando o cuidado com a equipe de saúde bucal para avaliação e acompanhamentos necessários.

14.2. Aftas

Caracterizam-se por lesões ulcerosas agudas, localizadas na mucosa bucal, podendo ocorrer em grupos ou isoladas. Podem ser úlceras pequenas, menores de 1 cm de diâmetro, que persistem por 10 a 14 dias e se curam sem cicatrizes.

  • As crises recorrentes são comuns com duas ou três úlceras em cada surto.
  • As causas são desconhecidas, porém sabe-se que a baixa imunidade por deficiência de ferro, vitamina B12 e ácido fólico aumenta a suscetibilidade.
  • Estresse, trauma local por mordida ou uso incorreto da escova dental também são fatores que auxiliam o aparecimento de aftas.

14.3. Gengivite

É a inflamação da gengiva causada principalmente, pelo acúmulo de placa bacteriana, restos alimentares e toxinas.

Clinicamente a gengiva fica inchada, coloração avermelhada, aspecto brilhante e sangramento ao toque, durante a escovação ou o uso do fio dental.

A gengivite, quando não tratada, pode evoluir para a doença periodontal, que compromete os tecidos de sustentação dos dentes, como o osso e os ligamentos periodontais, podendo levar à perda dos dentes.

14.4. Halitose

O mau hálito não é uma doença, mas um sinal de alerta de que existe alguma condição anormal a ser localizada e corrigida. O difícil convívio com o mau hálito pode levar o adolescente a tentar contornar de forma errada o problema (chupar balas e mascar chicletes) e não ter resultado positivo.

É importante salientar que a halitose é uma severa restrição social, podendo levar o adolescente a passar por constrangimentos profissionais e afetivos.

As causas podem estar relacionadas às seguintes condições: Má higiene dos dentes, língua e gengiva, da prótese e dos aparelhos ortodônticos. Outras causas: Gastrite, Sinusopatia, Caseum em amigdalas.

14.5. Piercing

O hábito de usar piercing na boca, comum para alguns adolescentes, pode causar complicações como infecção, inchaço da língua, sangramento incontrolável e dificuldade em mastigar, falar ou engolir. Também existe o risco de engasgo com pinos e argolas (com riscos sérios à saúde quando aspirados, causando obstrução respiratória) e de danos aos dentes e gengiva durante traumatismos ou acidentes.  

É importante uma conversa aberta, sem pré conceitos orientando sobre os possíveis os riscos.  Compartilhar o cuidado com a equipe de saúde bucal.

 

14.6. Alguns diagnósticos, resultados esperados e intervenções de enfermagem – CIPE

Fonte: CIPE 2019

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. Zemaitiene M, Grigalauskiene R, Andruskeviciene V, et al. Dental caries risk indicators in early childhood and their association with caries polarization in adolescence: a cross-sectional study. BMC Oral Health. 2017;17:2. https://doi.org/10.1186/s12903-016-0234-8
  2. Brasil. Biblioteca Virtual em Saúde. Núcleo de Telessaúde Rio Grande do Sul. O que são cáries, como se desenvolvem e quais formas de prevenção em crianças e idosos? [Internet]. 2013 [citado 2024 ago 25]. Disponível em: https://aps-repo.bvs.br/aps/o-que-sao-caries-como-ela-se-desenvolvem-e-quais-formas-de-prevencao-para-criancas-e-idosos/

Capítulo 15 - GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA

Na perspectiva dos direitos humanos, a gravidez na adolescência pode ser considerada, hoje, como um ponto de inflexão decorrente de uma multiplicidade de experiências de vida. Esse fato chama a atenção para a complexa realidade da juventude brasileira, em particular de adolescentes, porque articula, sensivelmente, aspectos ligados ao exercício da sexualidade e da vida reprodutiva às condições de vida e às múltiplas relações de desigualdade que constituem a vida social, o que contribui para uma visão moral e reguladora que coloca os adolescentes e jovens como vítimas da própria ignorância ou inconsequência (Ministério da Saúde, 2018).

Nesse contexto, os adolescentes e jovens ainda necessitam de olhar inclusivo. A Antes mesmo de abordarem a paternidade e maternidade, dever-se-ia promover espaços de discussão sobre como os adolescentes e jovens encaram a sexualidade e o fato de serem reprodutivos ou não. (Ministério da Saúde, 2018). Ressalta-se a importância de ações de educação em saúde que ajudem a desconstruir tabus e mitos e desenvolvam seu papel mais proativo e corresponsável (Ministério da Saúde, 2018).

Segundo dados do Ministério da Saúde, no Brasil, em 2020, o total de nascimentos de mães adolescentes foi de 380.778, representando 14% do total de nascidos vivos. O estudo Saúde Brasil do Ministério da Saúde (2018), indica uma das maiores taxas de mortalidade infantil entre filhos de mães mais jovens (até 19 anos), correspondendo a 15,3 óbitos para cada mil nascidos vivos (acima da taxa nacional, de 13,4 óbitos). Isso porque além da imaturidade biológica, condições socioeconômicas desfavoráveis influenciam nestes resultados.

    1. Intervenções para o Atendimento de pré-natal de adolescentes

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. Brasil. Ministério da Saúde. Gravidez na adolescência: saiba os riscos para mães e bebês e os métodos contraceptivos disponíveis no SUS [Internet]. 2023 [citado 2024 ago 25]. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2023/fevereiro/gravidez-na-adolescencia-saiba-os-riscos-para-maes-e-bebes-e-os-metodos-contraceptivos-disponiveis-no-sus
  2. BRASIL. Gravidez na adolescência: impacto na vida das famílias e das adolescentes e jovens mulheres. Ministério da Cidadania, 2018. Disponível em: https://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/informe/Informativo%20Gravidez%20adolesc%C3%AAncia%20final.pdf.
  3. BRASIL. Prefeitura do Município de São Paulo. Saúde da criança e do adolescente. São Paulo, 2017. Disponível em: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/arquivos/saudedacriancaedoalescente02012017.pdf.
  4. BRASIL. Cuidando de adolescentes: orientações básicas para a saúde sexual e a saúde reprodutiva. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2018. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cuidando_adolescentes_saude_sexual_reprodutiva_2ed.pdf.

Capítulo 16 – GÊNERO E SEXUALIDADE NA ADOLESCÊNCIA

16.1. Abordagem sobre sexualidade e gênero

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define sexualidade como “um aspecto central do bem-estar humano, que envolve sexo, identidade de gênero, papéis de gênero, orientação sexual, erotismo, prazer, intimidade e reprodução. A sexualidade é expressa e experienciada em pensamentos, fantasias, desejos, crenças, atitudes, valores, comportamentos, práticas, papéis e/ou relacionamentos”.

Portanto, ela é inerente à vida de todos os seres humanos, se inicia no nascimento e se encerra na morte, é ampla, dinâmica e mutável. A sexualidade pode englobar diferentes ângulos da ciência e recebe influência sociocultural, abrangendo emoções, sentimentos, crenças e concepções de todos os processos de socialização. Influencia a maneira de indivíduos serem, se inserirem na sociedade e se posicionarem no mundo. Portanto, uma abordagem integral em saúde inclui conhecer o gênero de uma pessoa e os demais aspectos que ela relaciona à sua sexualidade.

Representação gráfica e didática de aspectos atribuídos a sexualidade

Fonte: Amorim APA (2022). Arte: Paulo Eduardo A. Amorim

16.2. Abordagem ao adolescente TRANS

O desenvolvimento da identidade de gênero é parte do crescimento global de crianças e adolescentes, e as UBS e os Serviços de Referência têm a responsabilidade de acolher e acompanhar as demandas de crianças e familiares com variabilidade de gênero ou trans, de forma multiprofissional e intersetorial, considerando as diferenças na abordagem conforme a idade.

O acompanhamento multiprofissional é essencial, especialmente na fase pré-puberal, sem necessidade de intervenções médicas, com foco na orientação e preparação das famílias. O objetivo é garantir um ambiente seguro e acolhedor para o desenvolvimento saudável da criança e do adolescente.

É importante que se tenha sensibilidade para entender que diferentes vivências LGBTIA+ são possíveis para adolescentes, e não se busque definir que adolescentes com determinada vivência ou experiência sejam LGBTIA+.

Garantir espaço para autodescobertas, auxílio na compreensão de autolimites são fundamentais, especialmente quando pensamos em experiências LGBTQIA+ minoritárias, como a de adolescentes assexuais ou de gênero não-binário, que podem buscar prender-se em ideias pré-concebidas sobre essas determinadas vivências para que possam ter sua experiência validada.

Garantir que adolescentes se sintam pertencentes a grupos e coletividades. Colaborar para que, especialmente adolescentes LGBTIA+, percebam-se pessoas integrais e completas.

CONSULTA VOLTADA AO ADOLESCENTE TRANS:

  • Respeitar o nome social. Perguntar como a pessoa quer ser chamada(o) e por qual pronome quer ser chamada(o).
  • Pergunta aberta inicial: “o que te trouxe aqui hoje? Como a gente pode te ajudar?”. Deixar os primeiros minutos de fala livre. Isso ajuda na identificação da demanda e valoriza a queixa da pessoa.
  • Abordar e acolher as demandas de saúde, preocupações, ideias e expectativas trazidas pela pessoa, sejam elas relacionadas à transexualidade ou não.
  • Identificar antecedentes pessoais, contexto familiar, rede de apoio social (amigos, família, escola, trabalho, relacionamento afetivo, comunidade religiosa e outros).
  • Identificar a existência de histórico de uso de hormônios (tempo de uso, dosagem e acompanhamento) e de silicone industrial.
  • Avaliar o conhecimento e orientar quando necessário sobre as possibilidades de transformações corporais e sociais para quem não quer iniciar a hormonização: uso do nome social, corte de cabelo, uso de maquiagem, acessórios, roupas, pintar ou não as unhas, encaminhamento para educador físico para ajudar na musculatura, encaminhamento para a fonoaudióloga para verificar a voz.
  • Avaliar o conhecimento e orientar quando necessário sobre as transformações corporais seguras, reversíveis e não reversíveis, e o tempo médio esperado para cada transformação, caso a pessoa tenha a intenção na hormonização.*
  • Avaliar o conhecimento e orientar quando necessário sobre as transformações corporais através de cirurgias. Se a pessoa vier de outros serviços de saúde, questionar se já está na fila de espera no ASITT e para qual cirurgia. Questionar também se já foram enviados relatórios e data dos mesmos. Discutir a necessidade de acompanhamento por mais de um profissional para elaboração do relatório (médico + outro profissional).
  • Avaliar com a pessoa se ela(e) necessita de tempo para a refletir sobre o início da hormonização.
  • Fazer uma questão aberta: há alguma coisa que você queira falar e eu não tenha perguntado?
  • Oferecer, quando necessário, encaminhamento para acolhimento em Saúde Mental ou demais profissionais: médico, nutricionista, fonoaudióloga, educador físico, ou outros*.
  • Orientar sobre a disponibilidade de Profilaxia Pós-exposição (PEP) ao HIV e a sobre Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) ao HIV, dependendo da vulnerabilidade à IST/HIV/AIDS.
  • Orientar sobre os serviços da rede em relação a retirada de documentos e alteração de nome.

* Unidades de referência REDE SampaTRANS - https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/Rede_SAMPA_Trans_16_6_2023.pdf

** Unidades de referência para acompanhamento de adolescentes juntos com APS - https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/Diretrizes_acompanhamento_adolescentes_trans_agosto_2024.pdf

Aproveitar a oportunidade para ofertar cuidados gerais de saúde:

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. D’Agostim RG. Produto - PPGSCOL [Internet]. Criciúma: Universidade do Extremo Sul Catarinense; 2020 [citado 2024 dez 30]. Disponível em: https ://www.unesc .n/porta/resposta/f/4/Pr%20 -%20Rita %20%20Dia%20 -%20PPGS.pd
  2. Primeira Consulta da Equipe Multiprofissional para Pessoas Transexuais/Travestis e com outras vivências de variabilidade de gênero nas Unidades da Rede SAMPA Trans, 2022. Disponível em:  https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/Doc_Norteador_Primeira_Consulta_Multi_Rede_SAMPA_Trans.pdf
  3. Orientações sobre apoio e cuidado da criança e adolescente transgênero. DAGOSTIM, RITA https://www.unesc.net/portal/resources/files/489/Produto%20-%20Rita%20Guimaraes%20Dagostim%20-%20PPGSCOL_compressed.pdf
  4. São Paulo (SP). Secretaria Municipal da Saúde. Coordenação da Atenção Primária à Saúde. “Protocolo para o atendimento de pessoas transexuais e travestis no município de São Paulo”, Secretaria Municipal da Saúde|SMS|PMSP, 2020: Julho - p. 133. Disponível em: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/Protocolo_Saude_de_Transexuais_e_Travestis_SMS_Sao_Paulo_3_de_Julho_2020.pdf
  5. Jesus JG. Orientações sobre identidade de gênero: conceitos e termos. Brasília; 2012. 42 p.
  6. Amorim APA. Material de apoio da Formação multiprofissional para atendimento em saúde de pessoas trans, travestis ou com vivências de variabilidade de gênero da ABRASITTI. São Paulo: ABRASITTI; 2022.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Capítulo 17 - INFECÇÕES SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS (ISTs) NA ADOLESCÊNCIA

As Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) são um grupo de doenças transmitidas principalmente por contato sexual desprotegido. ISTs são prevalentes entre adolescentes e aumentam o risco de infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV).

De acordo com a SBP (2018), as ISTs mais frequentes na adolescência podem ser agrupadas em quatro grandes grupos:

  1. Úlcera genital
  2. Corrimento vaginal e uretral
  3. Desconto ou dor pélvica
  4. Lesões verrucosas

17.1 Alguns diagnósticos, resultados esperados e intervenções de enfermagem na prevenção de ISTs em Adolescentes – CIPE

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. Brasil. Ministério da Saúde. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Atenção Integral às Pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis – IST [recurso eletrônico]. Brasília: Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis; 2022. 211 p.
  2. Sociedade Brasileira de Pediatria. Infecções Sexualmente Transmissíveis na Adolescência. 2018.

 

Capítulo 18 – SAÚDE MENTAL NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA

 

De acordo com a OMS, a saúde mental caracteriza-se por um estado de bem-estar, vivido pelo indivíduo que possibilita o desenvolvimento de suas habilidades pessoais para responder aos desafios da vida e contribuir com a comunidade. Tratando-se dos fatores agravantes na condição de saúde mental deve-se considerar questões biopsicossociais que impactam na saúde mental do indivíduo. O documento “Atenção psicossocial a criança e ao adolescente no SUS: Tecendo Redes para Garantir Direitos” ressalta que os riscos acarretados pelo contexto social e desigualdades resultantes de processos históricos de exclusão e discriminação (pobreza, falta de acesso à educação e baixa escolaridade, exploração do trabalho, exposição a diversas formas de violência) influenciam no gozo dos direitos e oportunidades a que adolescentes e jovens brasileiros têm acesso. (Brasília, 2014)  

Avaliação de Enfermagem 

Entrevista/Anamnese 

No encontro clínico, garantir a privacidade e o sigilo do usuário durante o atendimento de queixas de saúde mental. Na anamnese deve-se: 

  • Acolher a criança/adolescente sobre suas queixas, sinais e sintomas. 
  • Avaliar histórico psiquiátrico (pessoal e familiar) 
  • Compreender seu contexto socioeconômico, familiar e escolar, a fim de identificar possível comprometimento funcional significativo 
  • Avaliar vulnerabilidade social. 
  • Realizar a coleta de dados sobre seus fatores protetores e estressores: hábitos de vida, atividades diárias, rotinas, formas de entretenimento, alimentação, sono/repouso e uso de substâncias. 
  • Realizar seu genograma e ecomapa para entendimento de sua rede de apoio. (ANEXO 1 AO 5)
  • Investigar situações de violência física, sexual e emocional, trabalho infantil, bullying e demais situações que firam os direitos da criança e do adolescente.  
  • Avaliar interação com o cuidador/responsável: NÃO realizar questionamentos que possam comprometer a segurança da criança/adolescente na presença do possível agressor. 
  • Avaliar tentativa de suicídio atual e previa. 
  • Investigar perspectivas de futuro, esperança. 
  • Avaliar peso, altura/estatura e IMC para avaliação nutricional  
  • Avaliar comportamento não-verbal 

            Exame psíquico: atenção, sensopercepção, memória, orientação, consciência, pensamento, linguagem, inteligência, afeto e conduta/crítica. 

Em consultas com usuários acima de 14 anos e desacompanhados, compartilhar com usuário a necessidade de quebra de sigilo em casos de: risco de morte, presença de qualquer tipo de violência, sinais de dependência química e outros descritos em quadro no Capítulo 11. 

Exame físico 

            Avaliar a presença de hematomas, cutting e cicatrizes condizentes a situações de mutilação e automutilação** 

Sinais de alerta de maus-tratos a crianças: características clínicas

Intervenções de Enfermagem 

            As intervenções devem considerar a individualidade e o contexto do usuário, e devem ser pensadas junto com ele. Considerar rede de apoio na construção do plano de cuidado. Algumas ferramentas que podem ser utilizadas nas consultas: 

  • Avaliar estado alimentar pelo recordatório alimentar: elenque em uma folha A4 os seguintes tópicos: data / hora / refeição / sentimento associado (se houver). 
  • Auxiliar na identificação e nomear emoções através da roda dos sentimentos. 
  • Solicitar diário de emoções. 
  • Incentivar a construção de um projeto de vida para curto, médio e longo prazo.  
  • Incentivar a prática de atividades físicas de pelo menos 60 minutos por dia por, no mínimo, 3 dias na semana – 180 minutos semanais.  
  • Orientar higiene do sono: horários regulares para dormir e acordar, evitar cochilos diurnos, evitar bebidas alcoólicas e dispositivos eletrônicos antes de dormir e evitar bebidas com cafeína 4 a 6 horas antes de dormir (por exemplo, café, chá preto, chimarrão, chocolate ou guaraná). 
  • Descarte condições físicas que podem se assemelhar aos transtornos emocionais ou exacerbá-los. Verifique se há sinais ou sintomas sugestivos de: Doenças da tireoide; doenças infecciosas, inclusive infecção pelo HIV/Aids; Anemia; Obesidade; Má nutrição; Asma; Efeitos colaterais de medicamentos (por exemplo, de corticosteroides ou medicamentos inalatórios para tratamento da asma) (MI-mhGAP, 2018) 

 

Elaborar plano terapêutico em conjunto com equipe multiprofissional, matriciamento do caso e avaliação de critérios para compartilhamento com RAPS. 

Em casos de violência, é necessário realizar a notificação do caso e acionar rede de proteção à criança em casos de violência, conforme descrito em capítulo 22. 

Para o manejo de queixas de saúde mental, é possível utilizar técnicas de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS). O profissional deve apresentar certificado validado pela supervisão técnica do município.  

Para a periodicidade de consultas do adolescente, recomendado consultas semestrais, mas em caso de situações de risco, realizar consultas mensais e/ou com encontros clínicos a depender do critério do enfermeiro, a depender do risco, encaminhar para consulta médica (São Paulo, 2016) 

Considera-se como situações de risco: 

  • Risco biológico: Obesidade e doenças crônicas 
  • Risco emocional: depressão/ansiedade, uso e abuso de drogas 
  • Rico familiar: pais que apresentam abuso de álcool e outras drogas, desempenho de responsabilidades de pais/responsáveis comprometido, com transtornos mentais e déficit intelectual 
  • Risco social: residir em áreas com presença de tráfico de drogas, pobreza extrema, exploração sexual infantil, violência, negligência do cuidador. 

18.1. Ansiedade  

            Em todo o mundo, estima-se que 10% a 20% dos adolescentes vivenciem problemas de saúde mental, mas permanecem diagnosticados e tratados de forma inadequada, pois sinais e sintomas podem ser confundidos com mudanças esperadas de comportamento relacionados a essa fase da vida (OPAS,s.d) (considere o quadro: Alguns diagnósticos, resultados esperados e intervenções de enfermagem nos Transtornos Alimentares no Adolescente.).  

            Dentre esses, os adolescentes podem desenvolver transtornos emocionais (ansiedade e depressão) associados a sintomas psicossomáticos tal como epigastralgia, cefaleia ou náusea (OPAS,s.d). Transtornos emocionais, como a ansiedade (definida como um sentimento desagradável que está associado a uma sensação de antecipação a um perigo, iminente ou futuro) podem ser profundamente incapacitantes para o funcionamento de um adolescente, afetando o trabalho e a frequência escolares. A retirada ou a separação de familiares, colegas ou comunidade podem exacerbar o isolamento e a solidão. Na pior das hipóteses, a depressão pode levar ao suicídio. (OPAS, s.d) 

 

MEDOS E ANSIEDADES APROPRIADOS PARA A IDADE EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES 

 Em encontro clínico, para realizar investigação dos transtornos emocionais (sofrimento prolongado e incapacitante, com tristeza, medo, ansiedade ou irritabilidade), considere perguntar se a criança ou o adolescente:

  • Frequentemente se sente irritável, facilmente incomodado, desanimado ou triste. 
  • Perdeu o interesse ou o prazer nas atividades. 
  • Tem muitas preocupações ou frequentemente parece preocupado. 
  • Tem muitos temores ou se assusta com facilidade. 
  • Frequentemente se queixa de cefaleias, dor no estômago ou náuseas. 
  • Frequentemente se sente infeliz, abatido ou choroso. 
  • Evita determinadas situações ou tem forte aversão a elas (por exemplo, guerra, ataque terrorista e desastres**). 

A criança/adolescente apresenta dificuldade considerável de funcionamento diário nas áreas pessoal, familiar, social, educacional, ocupacional ou em outras áreas? Se sim, considerar transtorno emocional.

Para rastreio do transtorno de ansiedade generalizada em adolescentes, pode-se utilizar a escala General Anxiety Disorder 7 (GAD-7). Utilizar escala para apoio a decisão clínica para plano terapêutico e para matriciamento de caso: Equipe Multiprofissional e CAPS IJ.  

Tabela S - General Anxiety Disorder 7 (GAD-7). 

De acordo com GAD-7: 

  • Ansiedade leve: 5 a 9 pontos 
  • Ansiedade moderada: 10 a 14 pontos 
  • Ansiedade grave: 15 a 21 pontos. 

 18.2. Depressão em crianças 

A depressão em crianças é caracterizada por humor triste ou irritável, anedonia, menor capacidade de se divertir, baixa autoestima, perturbação do sono, retração social ou relações sociais prejudicadas e desempenho escolar deficitário (BMJ, 17 Dez 2024; última atualização 22 fev. 2024).  

Crianças com depressão apresentam risco elevado de desmotivação escolar, transtornos relacionados ao abuso de substâncias, tentativas de suicídio e suicídio consumado. Apesar de não existir consenso sobre os critérios para o rastreamento de depressão em crianças, sugere-se avaliação na presença de fatores de risco para depressão.

Fatores de risco para depressão para crianças e adolescentes (BMJ Publishing Group 2025. Depressão em crianças. BMJ Best Practic, 17 Dez 2024; última atualização 22 fev. 2024). 

Rastreamento  

Assim como para crianças, não há consenso sobre a indicação e periodicidade do rastreamento para depressão adolescentes, mas a United States Preventive Services Task Force (USPSTF) recomenda rastreamento anual para depressão na APS para todas as crianças e adolescentes a partir dos 12 anos, mesmo sem fatores de risco específicos. Não há evidências sobre a periodicidade ótima para o rastreamento, mas pode-se considerar o rastreamento oportunístico dessa população, devido inconstante nos serviços de saúde, e a repetição na presença de fatores de risco. 

 
 

O instrumento “Questionário sobre a saúde do paciente de nove itens” (9-item Patient Health Questionnaire; PHQ-9) pode ser utilizado para o rastreamento de depressão em adolescentes (USPSTF, 2022). 

 

 * Os scores representam risco para a depressão e seu uso não determina o diagnóstico, o qual só poderá ser fechado após avaliação com profissional de saúde mental. 

Assim como para crianças, é importante avaliar o risco de suicídio em todos os atendimentos de adolescentes com depressão, além de rastrear o de uso de substâncias, devido relação entre transtornos por uso de substâncias e transtornos depressivos. 

Transtorno Depressivo Maior (TDM) é caracterizado por humor cronicamente triste ou irritável, ao longo de pelo menos 1 ano, com 2 ou mais sintomas depressivos adicionais. Identifica-se a presença de pelo menos cinco sintomas depressivos, com 3 níveis de gravidade: leve, moderado e grave. 

Sintomas: 

  • Humor triste e/ou irritável ou anedonia presente na maior parte do dia, quase todos os dias, por pelo menos duas semanas, e coexistir com quatro outros sintomas depressivos. 
  • Incapacidade funcional significativa em uma ou mais áreas (por exemplo, contextos sociais, familiares e/ou escolar).

É necessário excluir ausência de evidências de episódio maníaco ou hipomaníaco e de história de luto recente. 

No acompanhamento, é importante avaliar o risco de suicídio em todos os atendimentos, e realizar o rastreio de uso de substâncias, devido relação entre transtornos por uso de substâncias e transtornos depressivos. 

18.3. Risco de suicídio e autolesão

O Brasil enfrenta um crescimento alarmante no número de suicídios que se consolidam como um grave problema de saúde pública. Em 2021 foram levantados números que configuram uma morte a cada 34 minutos, equivalente a 15,5 mil suicídios. Esses números tornam o suicídio como a 27ª causa de morte e 3ª maior entre jovens brasileiros. (Ministério da Saúde, 2024)

 A autolesão sem intenção suicida (ASIS) e o suicídio são fenômenos multifacetados e influenciados por uma interação intrínseca de fatores biológicos, ambientais, psicológicos e sociais. Ambos fazem parte do grupo de violência autoprovocada, porém se distinguem na intencionalidade do ato. O suicídio há a tentativa de morte e na automutilação p alívio da angústia, sem intenção de morrer. Entender, ambos os fenômenos, vai além de compreender suas definições devendo-se valorizar os sentimentos e história do usuário, escutá-lo com atenção, reconhecer que o estigma aos comportamentos mencionadas existe e promover a transmissão de conscientização das pessoas, promover a valorização da vida, favorecer a procura por tratamento e prevenir situações e comportamentos de risco. Além disso, articulações no território para ações educativas de promoção de saúde mental, bem como matriciamento de casos com e-Multi e articulação com centros de atenção psicossociais (CAPS IJ) são indispensáveis para o planejamento do cuidado (Cartilha para prevenção da automutilação e do suicídio/15 a 18 anos, 2020).

Suicídio:

A pessoa que pensa em suicídio vive um sofrimento psíquica intenso, com sentimentos de desesperança, e o ato não deve ser visto como covardia. Mesmo pensamentos suicidas temporários devem ser levados a sério. Embora nem todos os suicídios tenham vínculo com hereditariedade, um histórico familiar aumenta o risco. Tentativas prévias de suicídio elevam a chance de novas tentativas, mas tratamentos podem ajudar a prevenir isso. É fundamental estar atento aos sinais e oferecer apoio.  Cerca de 75% das vítimas de suicídio deixam sinais ou falam sobre suas intenções, e frases como "minha vida não presta" podem ser indícios de pedido de socorro. Falar sobre suicídio, faz-se necessário, visto que possibilita que a pessoa se abra e busque ajuda por tratamento adequado (Cartilha para prevenção da automutilação e do suicídio/15 a 18 anos, 2020).

Automutilação:

A automutilação não é um transtorno mental, mas um comportamento relacionado a problemas emocionais e mentais, sendo um importante sinal de adoecimento. Geralmente, é um pedido de socorro e não uma busca por atenção. Quem se automutila busca aliviar dor emocional e, apesar de não ter intenção suicida, pensamentos suicidas podem surgir. Tratamentos são necessários para reduzir ou cessar a prática, que pode se tornar uma "válvula de escape" momentânea para o sofrimento (Cartilha para prevenção da automutilação e do suicídio/15 a 18 anos, 2020).

Para realizar o plano terapêutico da criança ou do adolescente, faz-se necessário realizar a classificação de risco do quadro apresentado, a fim de pactuar intervenções.  

Após a classificação, é importante trazer para o momento da consulta perguntas abertas e fechadas em relação aos sentimentos e eventos do contexto vivenciado pelo paciente. Para isso, é necessária a construção do vínculo para que a criança ou o adolescente sintam confiança em expor pensamentos, livre de julgamentos. 

  • PERGUNTAS INDIRETAS:  

Você está triste? 

Há algo que está preocupando você? 

Você se sente sozinho? 

Você acha que alguém se preocupa com você? 

Se a morte viesse, ela seria bem-vinda? 

 

  • PERGUNTAS DIRETAS: 

Você já se automutilou ou atualmente se automutila? 

Você já pensou ou tem pensado em morrer? 

Você já pensou em tirar a própria vida? 

Você já tentou tirar a própria vida? 

Você planeja tirar a própria vida? Tem data? 

Você tem meios para tirar a própria vida? 

*Além da depressão, existem também outros transtornos mentais mais associados ao comportamento suicida e autolesão. São eles: transtorno bipolar, transtornos relacionados ao consumo de álcool e outras substâncias e esquizofrenia. O risco é maior com a associação entre duas condições, como no caso de uma pessoa com depressão e dependência de álcool. 

18.4. Transtornos alimentares – Anorexia nervosa e Bulimia nervosa

Transtornos alimentares são caracterizados por um distúrbio persistente do comportamento alimentar ou relacionado à alimentação, que resulta em consumo ou absorção alterados de alimentos e prejudica significativamente a saúde física ou o funcionamento psicossocial.  

A anorexia e bulimia constituem transtornos alimentares que acometem, principalmente, adolescentes e adultos jovens, mais do sexo feminino, apresentando gravidade semelhante em ambos os sexos.

Anorexia Nervosa

A anorexia nervosa é caracterizada pela recusa em manter um peso corporal saudável, acompanhada de distúrbios na percepção do peso e imagem corporal. Pode levar a consequências graves, como desnutrição extrema e até a morte. O transtorno geralmente é desencadeado por fatores estressantes, como comentários sobre o peso ou questões emocionais. Os indivíduos afetados frequentemente se percebem gordos, apesar de estarem excessivamente magros.

O diagnóstico é feito com base em critérios do DSM-5, que incluem: restrição de ingestão calórica, medo intenso de ganhar peso e distorção da imagem corporal. A anorexia pode ser classificada em dois tipos: restritivo, quando a perda de peso ocorre por dietas e exercícios excessivos, e compulsão alimentar com purgação, que envolve episódios de compulsão seguidos de métodos para eliminar calorias.

Com o tempo, o emagrecimento tende a se intensificar, e o tratamento é frequentemente buscado pelos familiares devido à desnutrição, embora o adolescente possa resistir. Durante a consulta, é essencial realizar uma avaliação clínica e mental cuidadosa, considerando outras possíveis doenças psiquiátricas, e avaliar a rede de apoio do paciente. A colaboração com equipes de saúde é importante para o tratamento eficaz. Realizar matriciamento com a equipe do Núcleo Ampliado de Saúde da Família (NASF) e Rede de Atenção à Saúde (RAS).

  Bulimia Nervosa

A Bulimia Nervosa é marcada por episódios de compulsão alimentar seguidos de comportamentos compensatórios inadequados, como vômitos ou uso de laxantes, para evitar o ganho de peso. O transtorno é mais comum em mulheres e geralmente se inicia na adolescência ou início da idade adulta. Durante os episódios de compulsão alimentar, o indivíduo consome grandes quantidades de comida rapidamente, tentando depois controlar o peso de forma extrema.

Os episódios de compulsão alimentar provocam sentimentos de baixa autoestima, culpa, vergonha e depressão, levando ao isolamento social e evitando interações com os outros. A etiologia da bulimia também está frequentemente ligada a conflitos familiares, abuso sexual na infância e questões relacionadas ao desenvolvimento da feminilidade.

O tratamento da bulimia é desafiador, complexo e envolve uma abordagem multidisciplinar, com terapia nutricional, psicoterapia e, em alguns casos, medicamentos. Embora a desnutrição não seja tão grave quanto na anorexia nervosa, o impacto social e familiar das duas condições é similar. Diversas abordagens terapêuticas são necessárias, incluindo terapia nutricional, psicofarmacoterapia e psicoterapia individual e familiar, com o apoio de uma equipe multidisciplinar.  Os episódios de compulsão alimentar provocam sentimentos de baixa autoestima, culpa, vergonha e depressão, levando ao isolamento social e evitando interações com os outros. A etiologia da bulimia também está frequentemente ligada a conflitos familiares, abuso sexual na infância e questões relacionadas ao desenvolvimento da feminilidade.

Avaliação subjetiva nos Transtornos Alimentares:

Tópicos a serem abordados na avaliação subjetiva nos transtornos alimentares. 

Exame físico:

Realizar um exame físico completo, com especial atenção para os sinais vitais, pele, sistema cardiovascular e evidências de abuso de laxantes ou diuréticos e vômitos.

Avaliar os indicadores de crescimento, desenvolvimento sexual e desenvolvimento físico.

Ferramentas para investigação:

Para identificar se o adolescente tem predisposição para desenvolver transtorno alimentar é possível utilizar as escalas seguintes escalas de avaliação: A escala Eating Attitudes Test – (EAT-26). O EAT-26 é um instrumento de autopreenchimento, composto por 26 questões na forma de escala Likert de pontos (sempre = 3; muitas vezes = 2; frequentemente = 1; poucas vezes, quase nunca e nunca = 0).  

É baseado em três critérios:

  1. A pontuação total com base nas respostas às perguntas do EAT-26;
  2. Respostas às questões comportamentais relacionadas aos sintomas alimentares e perda de peso 
  3. Índice de massa corporal (IMC) do indivíduo calculado a partir da altura e do peso. O EAT-26 demonstrou boa especificidade e sensibilidade moderada para detectar TAs. Caso a pessoa obtenha uma pontuação abaixo de 20 com o EAT-26, também pode ter um problema alimentar sério, portanto, sugere-se que isso não a impeça de procurar ajuda.

Alguns diagnósticos, resultados esperados e intervenções de enfermagem nos Transtornos Alimentares no Adolescente.

 

18.5. Bullying

Bullying compreende todas as atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivação evidente, adotadas por um ou mais estudantes contra outro(s), causando dor e angústia, e executadas dentro de uma relação desigual de poder, tornando possível a intimidação da vítima.

Subtipos de Bullying de acordo com a ação praticada:

  • Físico: inclui batidas, chutes, empurrões, lesões ligadas a atos de pressão e contato, beliscões;
  • Verbal: apelidos, intimidação, provocação, observações homofóbicas ou racistas, muitas vezes com início mais leve e discreto, até atingir o alvo;
  • Escrito: que inclui bilhetes, cartas, pichações, cartazes, faixas, desenhos depreciativos;
  • Moral, social ou psicológico: inclui difamar, caluniar, espalhar boatos, intimidar, ignorar, fazer pouco caso, imitar desfavoravelmente, usando trejeitos e fazendo piadas, excluir ou incentivar a exclusão social com objetivo de humilhar. É mais difícil de reconhecer, pois pode ser praticado de modo indireto.
  • Material: que inclui estragar, danificar, furtar os pertences ou atirá-los contra a vítima;
  • Cyberbullying: inclui a utilização de mídia eletrônica, por intermédio de e-mails, postagens, imagens ou vídeos. Tem o potencial de, em segundos, alcançar um número muito grande de pessoas deliberadamente e, em alguns casos, anonimamente, podendo causar danos psicológicos mais acentuados e negativos.

O bullying pode ainda se manifestar em três modalidades: direta ou indireta

  • Forma direta: os alvos são atacados diretamente por meio de agressões físicas ou verbais (apelidos, ameaças, ofensas etc.), roubos, gestos que incomodam.
  • Forma indireta: as ações levam ao isolamento social, ou seja, a agressão ocorre por meio de indiferença, isolamento, exclusão social ou difamação por boatos/fofocas.

Intervenções do Enfermeiro frente ao Bullying: 

Acolhimento inicial, com escuta qualificada em um local que transmita segurança e garanta sigilo, percepção das necessidades do adolescente de forma legitima e sem julgamentos, de modo a buscar a resolutividade da situação apresentada. 

Quando detectada uma situação de bullying, a equipe ESF deve articular com a unidade de ensino e propor trabalho intersetorial com intervenções educacionais, tendo como uma possível ferramenta a implementação de grupos com o objetivo de estimular o entendimento em relação ao bullying, suas implicações no universo escolar e consequentemente, na sociedade.  

As ações preventivas frente ao Bullying devem ser realizadas continuamente por meio do Programa Saúde na Escola (PSE), incluindo esta temática em seu planejamento e intervenção, como já previsto pela portaria.

Bullying contra adolescentes dissidentes da matriz cis-heteronormativa

Este tipo de bullying está relacionado a atitudes agressivas no que tange questões de identidade de gênero, orientação sexual e questões como estereótipos relacionados ao gênero. A exemplo, temos incluídos neste grupo lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, dentre outros. 

O Enfermeiro necessita conhecer as definições relacionadas à identidade de gênero e orientação sexual e abrir-se para compreender como o adolescente vivencia e lida com elas. Não se pode esquecer que na fase da adolescência os indivíduos estão se reconhecendo, criando sua identidade e agindo de acordo com suas preferências.

A seguir algumas definições que podem auxiliar o enfermeiro durante o atendimento de adolescentes, seja em consultas, atividades de educação em saúde ou em situação de bullying, no que tange as questões acima mencionadas.

Gênero: formas de se identificar e da pessoa ser identificada como homem ou como mulher. Gênero é social. Na definição do gênero o que importa não são os cromossomos ou a conformação genital, mas a forma como a pessoa se percebe e se expressa socialmente (homem ou mulher).

  • Cisgênero: pessoas que se identificam com o gênero que lhes foi atribuído no nascimento.
  • Não-cisgênero:  pessoas que não são identificam com o gênero que lhes foi determinado.

Transexual: termo genérico que caracteriza a pessoa que não se identifica com o gênero que lhe foi atribuído no seu nascimento.

  • Mulher transexual é toda pessoa que reivindica o reconhecimento social e legal como mulher.
  • Homem transexual: é toda pessoa que reivindica o reconhecimento social e legal como homem. 

Pessoas transexuais geralmente sentem que seu corpo não está adequado à forma como pensam e se sentem, e querem “corrigir” isso adequando seu corpo à imagem de gênero que têm de si. Isso pode se dar de várias formas, desde uso de roupas, passando por tratamentos hormonais e até procedimentos cirúrgicos.

Sexo: Classificação biológica das pessoas como machos ou fêmeas, baseada em características orgânicas como cromossomos, níveis hormonais, órgãos reprodutivos e genitais.

Intersexualidade: Conjunto amplo de variações dos corpos tidos como masculinos e femininos, que engloba, conforme a denominação médica, hermafroditas verdadeiros e pseudo-hermafroditas.

Travesti:  Pessoa que vivencia papéis de gênero feminino, mas não se reconhece

como homem ou mulher, entendendo-se como integrante de um terceiro gênero ou de um não-gênero.

Queer ou Andrógino ou Transgênero: Pessoa que não se enquadra em nenhuma identidade ou expressão de gênero.

Orientação sexual: refere-se à atração afetivossexual por alguém de algum(ns) gênero(s).

  • Homossexuais se sentem atraídos por pessoas do mesmo gênero,
  • Heterossexuais se sentem atraídos por pessoas e outro gênero e
  • Bissexuais por pessoas de qualquer gênero, o que não se relaciona com sua identidade de gênero.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. Brasil. Ministério da Saúde. Atenção psicossocial a crianças e adolescentes no SUS: tecendo redes para garantir direitos / Ministério da Saúde, Conselho Nacional do Ministério Público. – Brasília: Ministério da Saúde, 2014. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/atencao_psicossocial_criancas_adolescentes_sus.pdf
  2. WHO Guidelines on Physical Activity and Sedentary Behaviour: at a glance]. Genebra: Organização Mundial da Saúde; [2020].  Disponível em: https://iris.who.int/bitstream/handle/10665/337001/9789240014886-por.pdf
  3. Insônia - Algoritmo de tratamento | BMJ Best Practice 
  4. Organização pan-americana da saúde. Saúde mental dos adolescentes. Disponível em: https://www.paho.org/pt/topicos/saude-mental-dos-adolescentes
  5. MI-mhGAP. Manual de Intervenções para transtornos mentais, neurológicos e por uso de álcool e outras drogas na rede de atenção básica à saúde. 2018  
  6. Santos IS, Tavares BF, Munhoz TN, Almeida LSP de, Silva NTB da, Tams BD, et al. Sensibilidade e especificidade do Patient Health Questionnaire-9 (PHQ-9) entre adultos da população geral. Cadernos de Saúde Pública [Internet]. 2013 Aug 1;29(8):1533–43. Available from: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X2013000800006 
  7. Brasil. Ministério da Saúde. Cartilha de prevenção da automutilação e suicídio: orientações para educadores e profissionais de saúde. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2020. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cartilha_prevencao_automutilacao_suicidio_orientacoes_educadores_profissionais_saude.pdf.
  8. Brasil. Ministério da Saúde. Cartilha de prevenção da automutilação e suicídio: automutilação e do suicídio/15 a 18 anos. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2020. Disponível em: https://prevencaoevida.com.br/wp-content/themes/opas/assets/pdf/cartilha_2.pdf?
  9. Brasil. Ministério da Saúde. Boletim Epidemiológico. Volume 55, número 04. Panorama dos suicídios e lesões autoprovocadas no Brasil de 2010 a 2021. Atualizado em 26/02/2024. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/boletins/epidemiologicos/edicoes/2024/boletim-epidemiologico-volume-55-no-04.pdf/view
  10. Departamento Científico de Adolescência (2019-2021) • Sociedade Brasileira de Pediatria. Giselle Dallazen. Transtornos alimentares na adolescência: anorexia e bulimia em tempos de pandemia, Nº 21, 2021. Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/23202c-MO_Transt_alim_adl-AnorexiaBulimia_tempos_pandemia.pdf
  11. Campos JGSC, Haack A. Anorexia e bulimia: aspectos clínicos e drogas habitualmente usadas no seu tratamento medicamentoso. Com Ciências Saúde. 2012;23(3):253-62.
  12. Faria MA, Gomes MCA, Modena CM. “Mar de bullying”: turbilhão de violências contra lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais na escola. Educ Pesqui [Internet]. 2022;48. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1678-4634202248241630por
  13. Hiluy JC, Nunes FT, Pedrosa MAA, Appolinario JC. Os transtornos alimentares nos sistemas classificatórios atuais: DSM-5 e CID-11. Rev Debates Psiquiatria. 2019;9(3):1. Disponível em: http://dx.doi.org/10.25118/2236-918X-9-3-1
  14. Lopes Neto AA. Bullying: comportamento agressivo entre estudantes. J Pediatr (Rio J). 2005;81(5):164-72.
  15. Wang J, Iannotti RJ, Luk JW, Nansel TR. Cooccurrence of victimization from five subtypes of bullying: physical, verbal, social exclusion, spreading rumors, and cyber. J Pediatr Psychol. 2010;35(10):1103-12.
  16. XIMENES, Rosana Christine Cavalcanti et al. Versão brasileira do BITE para uso em adolescentes. Arq. bras. psicol., Rio de Janeiro, v. 63, n. 1, p. 52-63,   2011. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-52672011000100007&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  30  dez.  2024
  17. Sociedade Brasileira de Pediatria. Transtornos alimentares na adolescência: anorexia e bulimia em tempos de pandemia. 2021 [Internet]. Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/23202c-MO_Transt_alim_adl-AnorexiaBulimia_tempos_pandemia.pdf
  18. BIGHETTI, Felicia. Tradução e Validação do Eating Attitudes Test (EAT-26) em adolescentes do sexo feminino na cidade de ribeirão preto-sp. 2003. 101 f. Tese (Doutorado) - Curso de Enfermagem, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Ribeirão Preto, 2003.
  19. RIBEIRÃO PRETO. Secretaria Municipal da Saúde. Saúde do adolescente. Ribeirão Preto: Secretaria Municipal da Saúde, 2022. Disponível em: https://www.ribeiraopreto.sp.gov.br/portal/pdf/saude662202203.pdf

Capítulo 19 - PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES EM SAÚDE (PICS)

Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS)

No Brasil, a oficialização das PICS ocorreu com a publicação da Portaria no 971/2006, que criou a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC). Posteriormente, em 2017 e em 2018, por meio das Portarias nº 849/2017 e nº 702/2018 respectivamente, novas práticas foram incluídas. Atualmente são 29 PICS reconhecidas e disponibilizadas na rede de atenção do Sistema Único de Saúde (SUS). As definições de cada uma delas podem ser consultadas no site da área técnica de Saúde Integrativa da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo (SMS/SP) (link: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/saude/atencao_basica/index.php?p=236370).

Práticas Integrativas e Complementares em Saúde e a Enfermagem

A atuação da enfermagem nas PICS cresce e ganha cada vez mais espaço no mundo e na Atenção Primária à Saúde. A regulamentação da atuação da categoria nas Prática Integrativas e Complementares no Brasil foi visionária tendo iniciado com a Resolução do COFEN nº 197/1997, que foi publicada antes da PNPIC em 2006.

Na resolução do Cofen nº 739 de 5 de fevereiro de 2024, que normatiza a atuação da enfermagem nas PICS, há a recomendação da carga horária mínima para a atuação dos profissionais de enfermagem capacitados por meio de cursos livres e de pós graduação.

A resolução ressalta que, após as devidas capacitações, as(os) enfermeiras(os) poderão atuar em todas as PICS descritas na PNPIC, já os técnicos e auxiliares de enfermagem poderão atuar em algumas PICS, na modalidade de curso livre, desde que estejam sob a supervisão e orientação do Enfermeiro.

As Terapias Integrativas foram reafirmadas como especialidade de Enfermagem por meio da Resolução Cofen nº 581 de 2018, assegurando o respaldo ao profissional para atuação nesse cenário, bem como para desenvolver pesquisas na área das PICS. A Acupuntura havia sido regulamentada pela Resolução nº 362/2008, que autorizava o exercício da Acupuntura, após pós-graduação de 1.200 horas, com 1/3 de conteúdo teórico e 2 anos de curso e a Resolução nº 585/2018 que estabeleceu e reconheceu a Acupuntura como especialidade e ou qualificação do profissional de Enfermagem após a decisão judicial do Tribunal Regional Federal (TRF), que foi favorável à Enfermagem no que diz respeito ao exercício da Acupuntura, desde que mantidas as definições quanto à formação, conforme a Resolução 362/2008. Para a sua execução devem constar no prontuário do paciente: a coleta de dados (anamnese), avaliação e identificação dos problemas, diagnóstico da MTC, princípios de tratamento, pontos de acupuntura a cada sessão, material utilizado, método de estímulo (tonificação, harmonização ou sedação) e tempo de aplicação, bem como as intervenções pactuadas com o paciente em seu plano de cuidado e a resposta do mesmo. Portanto os enfermeiros da SMS/SP, que atenderem as resoluções do COFEN, poderão realizar as aplicações de Acupuntura e PICS no sentido de ampliar o acesso aos pacientes do SUS, atuando de forma harmônica com a equipe multiprofissional, além de registrarem no sistema de informação o código destes procedimentos.

Conforme a Resolução COFEN Nº 739, de 05 de fevereiro de 2024, compete ao Enfermeiro:

Exercer cuidados de maior complexidade técnica e que exijam conhecimentos científicos adequados e capacidade de tomar decisões imediatas. Assim, compete-lhe:

a)        Indicar, prescrever e implementar as PICS em todos os níveis de atenção, nos âmbitos privado e público;

b)        Coordenar, planejar, organizar e orientar a equipe de enfermagem na implementação das PICS na assistência de enfermagem;

c)         Utilizar os conceitos e visão de ser humano integral e de acolhimento como modelo de atendimento no oferecimento das PICS em sua prática;

d)        Instituir protocolos de atendimento em PICS nos serviços de saúde;

e)        Conduzir e coordenar atendimentos de PICS individuais e/ou em grupo;

f)         Desenvolver e incentivar ações favoráveis ao aperfeiçoamento e educação permanente, com o intuito de garantir a capacitação e atualização da equipe de enfermagem no âmbito das PICS;

g)        Realizar o processo de enfermagem e registrar no prontuário os dados relativos à atividade implementada de PICS;

h)        Promover o ensino e a pesquisa em PICS como contribuição para o conhecimento científico da Enfermagem;

i)          Manter-se atualizado em relação aos referenciais técnico-científicos, a legislação vigente, a segurança do usuário e do profissional e quanto aos aspectos éticos relativos às boas práticas em PICS na assistência de enfermagem;

j)          Atuar como docente em disciplinas de graduação e pós-graduação em PICS;

k)         Estabelecer e coordenar consultórios e clínicas de Enfermagem com foco em PICS, seguindo legislação vigente.

Compete ao Técnico e ao Auxiliar de Enfermagem

Participar da execução das PICS, naquilo que lhes couber, sob a supervisão e orientação do Enfermeiro. Assim, compete-lhes:

a) Auxiliar o enfermeiro na assistência de enfermagem em PICS;

b) Realizar as PICS conforme seu grau de habilitação, sob supervisão e orientação do enfermeiro.

A RESOLUÇÃO COFEN Nº 739/2024 recomenda ainda a carga horária mínima para atuação dos profissionais de enfermagem, capacitados por meio de cursos livres em Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS).

As PICS são aplicadas em todas as fases da vida, inclusive na infância e adolescência, desde que o profissional esteja habilitado para reconhecer quais são as particularidades e limitações de cada ação para esse público, como por exemplo a acupuntura, que pode ser realizada através de estímulos não invasivos, nos canais energéticos, como o uso de sementes, moxabustão, pressão com os dedos, trigramas, cromopuntura e laser. Temos ainda a o uso de fitoterápicos que pode levar as crianças menores de dois anos a episódios de diarreia, internação por problemas respiratórios, desnutrição, dentre outros. Portanto, cabe aos enfermeiros conhecer as especificidades, benefícios e contraindicações de cada Prática Integrativa, garantindo assim uma assistência segura e eficaz.

Alguns estudos já apontam a importância das PICS, de forma isolada ou complementar, para uma abordagem de saúde integral com a criança e adolescente, pois propicia a promoção, a reabilitação, a prevenção e a cura de alguns agravos, de forma a garantir a longitudinalidade do cuidado.

Alguns artigos evidenciam a importância de algumas práticas para as crianças e adolescentes e indicam resultados positivos em diversos estudos sobre as Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS), abrangendo quatro dimensões. A primeira é a dimensão física e metabólica, que inclui indicadores de marcadores fisiopatológicos, além de sinais e sintomas de doenças agudas e crônicas, como dor, câncer, doenças neurológicas e distúrbios osteomusculares. A segunda dimensão refere-se à vitalidade, bem-estar e qualidade de vida. A terceira dimensão diz respeito à saúde mental, abordando questões como ansiedade, estresse, depressão e insônia. Por fim, a quarta dimensão envolve a saúde socioambiental e a espiritualidade, que considera a relação entre saúde, ambiente, fatores econômicos e a sociedade, além da espiritualidade, influenciando o processo de saúde e doença.

Práticas Integrativas e Complementares (PICS) e os seus efeitos positivos nos desfechos clínicos, de acordo com estudos previamente realizados sobre o tema.

Além dos aspectos mencionados anteriormente, as Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) também favorecem o desenvolvimento motor e comportamental de crianças e adolescentes. Para isso, é essencial que o enfermeiro identifique as necessidades das crianças e quais Práticas podem beneficia-las, com o objetivo de promover a autonomia das mesmas.

As PICS realizadas pela equipe de enfermagem devem ser anotadas no Prontuário do Paciente, seguindo as orientações do Guia de Recomendações para os Registros de Enfermagem no Prontuário do Paciente, elaborado pelo COFEN, em 2015.

Todos os insumos utilizados durante as Práticas Integrativas e Complementares em Saúde devem ter sido padronizados pela SMS/SP.

Antes de iniciarem as PICS no âmbito da SMS/SP os profissionais devem remeter seus certificados para avaliação da Área Técnica da Saúde Integrativa, em sua instância superior, na SMS/SP.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

        1. Brasil. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Atenção à Saúde. Aprova a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde. Brasília (Brasil): Ministério da Saúde; 2006.
        2. Brasil. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Atenção à Saúde. Portaria nº 849, de 27 de março de 2017. Inclui a Arteterapia, Ayurveda, Biodança, Dança Circular, Meditação, Musicoterapia, Neturopatia, Osteopatia, Quiropraxia, Reflexologia, Reiki, Shantala, Terapia Comunitária Integrativa e Yoga à Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares. Diário Oficial da União 2017; 28 mar.
        3. Brasil. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Atenção à Saúde. Portaria nº 702, de 21 de março de 2018. Altera a Portaria de Consolidação nº 2/GM/MS, de 28 de setembro de 2017, para incluir novas práticas na Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares - PNPIC. Diário Oficial da União 2018; 22 mar.
        4. Conselho Regional de Saúde de São Paulo (COREN-SP). Manual de Práticas Integrativas e Complementares. São Paulo: COREN/SP, 2023.  Acesso em 25 de novembro de 2024. Disponível em: https://portal.coren-sp.gov.br/wp-content/uploads/2023/12/Manual_de_praticas_integrativas_e_complementares.pdf
        5. Conselho Federal de Enfermagem – Cofen. Resolução nº 739 de 5 de fevereiro de 2024. Brasília, DF: Cofen; 2024. Normatiza a atuação da Enfermagem nas Práticas Integrativas e Complementares em Saúde. Disponível em: https://www.cofen.gov.br/resolucao-cofen-no-739-de-05-de-fevereiro-de-2024
        6. Conselho Federal de Enfermagem (COFEN). Resolução COFEN nº 326/2008 de 22 de fevereiro de 2008. Regulamenta no Sistema COFEN/CORENs a atividade de acupuntura e dispõe sobre o registro da especialidade. Disponível em: https://www.cofen.gov.br/resoluao-cofen-n-3262008/
        7. Ministério da Saúde (Brasil). Práticas integrativas e complementares em saúde. Recursos terapêuticos PICS. Brasília: Ministério da Saúde; 07/11/2022; Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/composicao/saps/pics/recursos-teraupeticos .
        8. Torres BV, Almeida LA, Silva RC, Silva JS, Vieira AC. Práticas integrativas e complementares no cuidado em saúde de crianças. Enferm Foco. 2021;12(1):154-62.
        9. Práticas Integrativas e Complementares em Saúde: evidências científicas e experiências de implementação / organizadores: Tereza Setsuko Toma, Marcio Sussumu Hirayama, Jorge Otávio Maia Barreto, Laura Boeira, Daniel Miele Amado, Paulo Roberto Sousa Rocha – São Paulo: Instituto de Saúde, 2021. 362 p. (Temas em saúde coletiva; 29).
        10. Minas Gerais. Secretaria de Estado de Saúde. Práticas Integrativas e Complementares de Saúde. Disponível em: https://www.saude.mg.gov.br/pics . Acesso em 29 de Janeiro de 2025.

Capítulo 20 - USO DE TELAS NA INFÂNCIA E NA ADOLESCÊNCIA

É cada vez mais presente o uso das tecnologias da informação e comunicação (TIC), redes sociais e Internet pelas crianças e adolescentes, cujas repercussões de curto, médio e longo prazo se estabelecem em diversos componentes da saúde (física, mental, emocional, social).

Recomendações sobre o tempo de uso de telas por faixa etária segundo a SBP (2019):

Conforme postulado pela SBP (2019) as principais repercussões do uso inadequado das TICs, redes sociais e Internet são:

  • Dependência Digital e Uso Problemático das Mídias Interativa
  • Problemas de saúde mental: irritabilidade, ansiedade e depressão
  • Transtornos do déficit de atenção e hiperatividade
  • Transtornos do sono
  • Transtornos de alimentação: sobrepeso/obesidade e anorexia/bulimia
  • Sedentarismo e falta da prática de exercícios
  • Bullying e cyberbullying
  • Transtornos da imagem corporal e da auto-estima
  • Riscos da sexualidade, nudez, sexting, sextorsão, abuso sexual, estupro virtual
  • Comportamentos auto-lesivos, indução e riscos de suicídio
  • Aumento da violência, abusos e fatalidades
  • Problemas visuais, miopia e síndrome visual do computador
  • Problemas auditivos e perda auditiva induzida pelo ruído (PAIR)
  • Transtornos posturais e músculo-esqueléticos
  • Uso de nicotina, vaping, bebidas alcoólicas, maconha, anabolizantes e outras drogas.

 

20.1. Alguns diagnósticos, resultados esperados e intervenções de enfermagem para uso das tecnologias da informação e comunicação (TIC), redes sociais e Internet pelas crianças e adolescentes – CIPE

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. International Council of Nurses. Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE/ICNP) [Internet]. Disponível em: https://www.icn.ch/icnp-browser. Acesso em: 25 ago. 2024.
  2. Sociedade Brasileira de Pediatria. Grupo de Trabalho Saúde na Era Digital (2019-2021). Menos telas, mais saúde [Internet]. 2019. Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/_22246c-ManOrient_-__MenosTelas__MaisSaude.pdf. Acesso em: 25 ago. 2024.

Capítulo 21 – VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES 

A violência contra crianças e adolescentes pode ser definida como qualquer ação ou omissão que cause dano ou sofrimento físico, psicológico ou sexual a pessoas com até 19 anos de idade. Essa violência pode ocorrer em diferentes contextos, como na família, na escola, na comunidade ou na internet, e envolver diferentes agentes, como pais, parentes, professores, colegas, vizinhos ou desconhecidos. A violência pode ser classificada em diferentes tipos, como: 

● Violência física: é o uso da força física para ferir, machucar ou provocar dor na criança ou no adolescente. Exemplos: bater, chutar, queimar, cortar, morder, sacudir ou sufocar. 

● Violência psicológica: é o uso de palavras ou gestos para humilhar, ameaçar, rejeitar, isolar ou manipular a criança ou o adolescente. Exemplos: xingar, ofender, ridicularizar, criticar excessivamente, ignorar ou privar de afeto. 

● Violência sexual: é o envolvimento da criança ou do adolescente em atividades sexuais que não correspondem ao seu nível de desenvolvimento ou que violam as normas legais ou sociais. Exemplos: abuso sexual (tocar, beijar, penetrar ou expor os órgãos genitais), exploração sexual (usar a criança ou o adolescente para fins comerciais ou pornográficos), assédio sexual (fazer propostas indecentes ou comentários obscenos) ou pornografia infantil (produzir, divulgar ou consumir imagens de crianças ou adolescentes em situações sexuais). 

● Violência patrimonial: é o uso indevido ou a destruição dos bens materiais da criança ou do adolescente. Exemplos: roubar, extorquir, danificar ou se apropriar dos objetos pessoais, documentos ou recursos financeiros. 

● Negligência: é a falta de cuidado ou de atenção às necessidades básicas da criança ou do adolescente. Exemplos: deixar de alimentar, vestir, higienizar, educar, proteger ou levar ao médico. 

● Trabalho infantil: é a exploração da mão de obra da criança ou do adolescente em atividades que prejudicam seu desenvolvimento físico, mental, social ou educacional. Exemplos: trabalho doméstico, trabalho rural, trabalho industrial, trabalho informal ou trabalho escravo. 

Causas da violência contra crianças e adolescentes 

A violência contra crianças e adolescentes não tem uma causa única nem simples. Ela é resultado de uma complexa interação de fatores individuais, familiares, sociais e culturais que influenciam as atitudes e os comportamentos dos agressores e das vítimas. Alguns desses fatores são: 

● Fatores individuais: são as características pessoais dos agressores e das vítimas que podem aumentar a probabilidade ou a vulnerabilidade à violência. Exemplos: idade (crianças menores são mais suscetíveis), sexo (meninas sofrem mais violência sexual), etnia (crianças negras sofrem mais discriminação), deficiência (crianças com deficiência sofrem mais abuso), personalidade (agressores podem ter baixa autoestima, impulsividade, agressividade ou transtornos mentais), história de vida (agressores e vítimas podem ter sofrido ou testemunhado violência na infância ou na adolescência), consumo de álcool ou drogas (agressores e vítimas podem estar sob efeito de substâncias que alteram o julgamento ou a percepção). 

● Fatores familiares: são as condições e as relações no ambiente doméstico dos agressores e das vítimas que podem favorecer ou dificultar a violência. Exemplos: estrutura familiar (famílias monoparentais, reconstituídas ou extensas podem ter mais conflitos ou menos supervisão), vínculo afetivo (famílias com baixa coesão, comunicação ou apoio podem gerar mais insatisfação ou frustração), padrão educativo (famílias com estilos autoritários, permissivos ou negligentes podem transmitir mais violência ou desrespeito), situação socioeconômica (famílias com baixa renda, escolaridade ou acesso a serviços podem enfrentar mais estresse ou privação), violência doméstica (famílias com histórico de violência entre os parceiros podem reproduzir ou tolerar a violência contra as crianças e os adolescentes). 

● Fatores sociais: são as influências e as pressões do contexto externo aos agressores e às vítimas que podem estimular ou inibir a violência. Exemplos: rede social (amigos, vizinhos, professores ou profissionais que podem oferecer apoio, orientação ou denúncia), instituições sociais (escolas, igrejas, organizações ou mídias que podem promover valores, normas ou informações), políticas públicas (leis, programas ou serviços que podem garantir direitos, proteção ou assistência), condições ambientais (violência urbana, desemprego, pobreza ou desigualdade que podem gerar insegurança, revolta ou exclusão). 

● Fatores culturais: são as crenças e os costumes da sociedade em que os agressores e as vítimas estão inseridos que podem justificar ou condenar a violência. Exemplos: cultura patriarcal (que atribui superioridade ao homem sobre a mulher e aos adultos sobre as crianças), cultura machista (que legitima a dominação masculina sobre o feminino e a sexualização precoce das meninas), cultura da violência (que naturaliza a violência como forma de resolver conflitos ou expressar sentimentos), cultura do silêncio (que impede a fala ou a escuta das vítimas de violência por medo, vergonha ou culpa). 

Consequências da violência contra crianças e adolescentes 

A violência contra crianças e adolescentes pode trazer sérias consequências para o desenvolvimento físico, psicológico, social e educacional das vítimas. Essas consequências podem variar de acordo com o tipo, a frequência, a intensidade e a duração da violência, bem como com as características, os recursos e as reações das vítimas. Algumas dessas consequências são: 

● Consequências físicas: são os danos causados ao corpo da criança ou do adolescente pela violência. Exemplos: ferimentos, hematomas, fraturas, queimaduras, cortes, mordidas, cicatrizes, infecções, doenças sexualmente transmissíveis, gravidez indesejada, aborto provocado, desnutrição, doenças crônicas ou morte. 

● Consequências psicológicas: são os danos causados à mente da criança ou do adolescente pela violência. Exemplos: medo, ansiedade, tristeza, depressão, raiva, culpa, vergonha, baixa autoestima, baixo autocontrole, dificuldade de confiança, dificuldade de aprendizagem, dificuldade de concentração, dificuldade de memória, dificuldade de expressão, dificuldade de relacionamento, isolamento social, transtorno de estresse pós-traumático, transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno dissociativo, transtorno de personalidade, transtorno alimentar, transtorno do sono, transtorno do humor, transtorno de ansiedade, transtorno de pânico, transtorno de adaptação, transtorno de conduta, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, transtorno do espectro autista, transtorno bipolar, esquizofrenia ou suicídio. 

● Consequências sociais: são os danos causados à interação da criança ou do adolescente com os outros pela violência. Exemplos: retraimento social, agressividade social, bullying (ser vítima ou agressor), violência interpessoal (contra parceiros, amigos ou familiares), violência coletiva (contra grupos sociais ou instituições), marginalização social (exclusão ou discriminação), violação de direitos (desrespeito ou negação), criminalidade (envolvimento em atos ilícitos ou infrações), drogadição (uso abusivo ou dependência de substâncias), gravidez precoce (gestação antes dos 18 anos), evasão escolar (abandono ou desistência dos estudos) ou desemprego (falta ou perda de trabalho). 

● Consequências educacionais: são os danos causados à aprendizagem da criança ou do adolescente pela violência. Exemplos: baixo rendimento escolar (notas baixas ou reprovação), dificuldade cognitiva (raciocínio lógico, linguagem oral ou escrita), dificuldade afetiva (motivação, interesse ou prazer), dificuldade comportamental (disciplina, atenção ou participação), dificuldade relacional (cooperação, respeito ou solidariedade), dificuldade pedagógica (metodologia, avaliação ou currículo), violência escolar (agressão física, verbal ou moral entre alunos ou entre alunos e professores) ou abandono escolar (saída definitiva da escola). 

21.1. Alterações comportamentais da criança e do adolescente em situações de violência

21.2 Sinais de violência sexual em crianças e adolescentes

 

  • Edema ou lesões em área genital, sem outras doenças que os justifiquem (como infecções ou traumas acidentais evidenciáveis). 
  • Lesões de palato ou de dentes anteriores, decorrentes de sexo oral. 
  • Sangramento vaginal em pré-puberes, excluindo a introdução de corpo estranho pela própria criança. 
  • Sangramento, fissuras ou cicatrizes, dilatação ou flacidez de esfíncter anal sem presença de doença que os justifiquem (como constipação intestinal grave e crônica). 
  • ISTs. 
  • Gravidez. 
  • Abortamento. 

Qualquer profissional de saúde, deve acionar o Núcleo de Prevenção de Violência (NPV) que é a equipe de referência do Serviço de Saúde para pessoas em situação de violência e é responsável pela organização do cuidado e articulação das ações a serem desencadeadas para a superação da violência. Uma organização forte e qualificada rede de cuidados pressupõe um trabalho em equipe, portanto cabe ao NPV desenvolver ações intra e intersetoriais. 

 

Fluxograma de Atenção Integral à Saúde da Pessoa em Situação de  Violência no MSP

 

As situações de violência entram no Fluxo Integrado por diversas portas da rede de proteção intersetorial e, ainda, por meio de denúncia, sistema de justiça e conselhos tutelares, sendo objetivos:  

- Garantir o direito de confidencialidade e do sigilo em todos os momentos e atendimentos.

- A maior parte das violências acontece em ambiente doméstico, exigindo sensibilidade e cuidado ao observar alterações de comportamento ou sinais corporais.  

- Acionar de imediato do fluxo em todos os casos, sobretudo nos que envolvem violência sexual, física grave e autoprovocada.  

- Acolher a pessoa em situação de violência em todas as suas necessidades;  

- Não revitimizar, não deve envolver procedimentos desnecessários, repetitivos e invasivos, que revivam a violência, gerando sofrimento, estigmatização ou exposição. 

21.3. Esquema antirretroviral para PEP - Criança 

Tratamento para Profilaxia das IST em Situações de Violência Sexual 

21.4 Em caso de suspeita ou confirmação de violência

 

  1. Realizar a notificação compulsória de violência doméstica, sexual e outras violências nas situações de violências contra adolescentes.
  2. Enviar cópia dessa notificação ao Conselho Tutelar da Criança e do Adolescente, conforme preconiza o ECA, e para a Unidade de Saúde/ESF.
  3. Encaminhar para serviços de referência, Caps e emulai* os casos que necessitem de atendimento e investigação diagnóstica.
  4. Encaminhar os casos identificados de adolescentes em situação de vulnerabilidade ou que sofreram violências para a rede de proteção social e de garantia de direitos, incluindo os Conselhos Tutelares, CREAS e CRAS.

*Na emoli, um dos papéis fundamentais no acompanhamento referencial de adolescentes em situação de violência ou no apoio matricial às ESF é o do psicólogo, que deve receber formação e/ou treinamento adequado para acompanhamento de adolescentes em situações de violências.

Documentos para notificação de Violência (clique para ser direcionado):

SINAN - Instrutivo Complementar para o Município de São Paulo - 2019

Manual de Verificação de Possíveis Inconsistências no SINAN das Violências

Comunicado para o Conselho Tutelar

Nota Técnica 001/2018 -Área Técnica de Saúde da Criança e do Adolescente

Nota Técnica CVDANT 01/2021 - Orientação sobre o registro de lesões autoprovocadas na ficha de notificação de violência interpessoal e autoprovocada do SINAN

Nota Técnica CVDANT 01/2022 – Orientação sobre o registro de ocupação para crianças e adolescentes na ficha de notificação de violência interpessoal e autoprovocada do SINAN

Nota Técnica Nº 62/2022-CGDANT/DAENT/SVS/MS

Nota Técnica NDANT Nº01/2023 – Orientação complementar à NOTA TÉCNICA Nº 62/2022- CGDANT/DAENT/SVS/MS

 

Em caso de suspeita ou confirmação de distúrbios psiquiátricos e/ou uso abusivo de álcool e outras drogas.

  • Encaminhar para os Caps, emoli e/ou serviço de referência, os/as adolescentes identificados como usuários de álcool e outras drogas.
  • Garantir e realizar o tratamento de adolescentes usuários(as) de álcool e outras drogas.
  • Em caso de prescrição medicamentosa psicotrópica, orientar o adolescente, os familiares/responsáveis sobre a utilização, os efeitos adversos, as interações e os cuidados necessários a partir do uso.
  • Disponibilizar e realizar ações de atenção integral à saúde, mobilizando adolescentes, famílias e comunidade.
  • Deverá informar aos pais sobre a situação de saúde do adolescente, caso o mesmo esteja impossibilitado clinicamente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Linha de cuidado para a atenção integral à saúde de crianças, adolescentes e suas famílias em situação de violências: orientação para gestores e profissionais de saúde. 1. ed. atual. Brasília: Ministério da Saúde; 2014. 106 p.
  2. São Paulo (Cidade). Secretaria Municipal da Saúde. Centro de Controle de Doenças. Violências e acidentes [Internet]. Disponível em: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/saude/vigilancia_em_saude/doencas_e_agravos/index.php?p=266739. Acesso em: 30 ago. 2024.
  3. São Paulo (Cidade). Secretaria da Saúde. Caderno de violência doméstica e sexual contra crianças e adolescentes. Coordenação de Desenvolvimento de Programas e Políticas de Saúde - CODEPPS. São Paulo: SMS; 2007. 60 p.
  4. Linha de Cuidado (LC) para Atenção Integral à Saúde da Pessoa em Situação de Violência no Município de São Paulo https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/baixacartilhaviolencia(1).pdf 
  5. Protocolo Integrado da Primeira Infância www.prefeitura.sp.gov.br/protocolosprimeirainfancia.

Capítulo 22 - BRINCAR E O CONVÍVIO COM A NATUREZA

 

Enfermeiros devem ter como prioridade intervenções que estimulem o brincar ao ar livre e a conexão com a natureza para crianças e adolescentes de todas as idades. No Brasil, o direito à natureza e ao brincar está previsto em vários marcos legais relacionados à infância e à adolescência.

 As crianças e adolescentes devem ter acesso diário, no mínimo por uma hora, a oportunidades de brincar, aprender e conviver com a natureza para que possam se desenvolver com plena saúde física, mental, emocional e social.

Brincar durante a infância está associado ao pleno desenvolvimento cerebral. Como resultado, há melhorias nas:

  • funções executivas
  • linguagem,
  • habilidades matemáticas,
  • integração sensorial,
  • capacidade de pensar criativamente
  • capacidade de realizar multitarefas

O convívio com a natureza na infância e na adolescência melhora:

  • o controle de doenças crônicas como diabetes, asma, obesidade.
  • diminui o risco de dependência ao álcool e a outras drogas.
  • favorece o desenvolvimento neuropsicomotor.
  • contribui para o desenvolvimento de múltiplas linguagens. 
  • reduz os problemas de comportamento.
  • proporciona bem-estar mental.
  • equilibra os níveis de vitamina D.
  • diminui o número de visitas ao médico.
  • fomenta a criatividade, a iniciativa, a autoconfiança, a capacidade de escolha, de tomar decisões e resolver problemas.

Há também benefícios ligados aos valores éticos ética e do campo da sensibilidade, como encantamento, empatia, humildade e senso de pertencimento.

Avaliação Subjetiva sobre o Brincar e o Convívio com a Natureza

Perguntar sobre:

  • Quanto tempo a criança tem disponível todos os dias para brincar livremente a céu aberto e destacar o papel do recreio escolar nesse cenário.
  • Como são as rotinas e os espaços da escola que a criança frequenta.
  • Quanto tempo o adolescente tem disponível todos os dias para encontros sociais a céu aberto e destacar o papel do recreio escolar nesse cenário.
  • Como são as rotinas e os espaços da escola que o adolescente frequenta.
  • Atividades ao ar livre preferidas pela família e discutir sobre outras que não tenham sido aventadas - observação de pássaros, cultivo de plantas, piqueniques.

Avaliar:

  • Hábitos de sono, alimentação, atividade física, comportamentos, desempenho escolar, uso de equipamentos digitais e dinâmica familiar, destacando a importância das experiências ao ar livre para o desenvolvimento saudável e bem-estar da criança e do adolescente.
  • Quais são as principais barreiras que limitam o acesso de todos os membros da família à prática de atividades de lazer a céu aberto (falta de tempo, falta de transporte, desconhecimento sobre onde ir e o que fazer, dificuldades financeiras).

 

Orientações Gerais sobre o Brincar e o Convívio com a Natureza

Crianças

  • Aconselhar e orientar as famílias em consultas pré-natais e de puericultura do lactente sobre a importância do contato com a natureza para o bebê e sua mãe (que também se beneficiará física e mentalmente de passeios ao ar livre).
  • Orientar sobre a importância do tempo destinado ao recreio e ressaltar que a criança precisa ter muito tempo para brincar com liberdade em espaços abertos durante o período que passa na escola, para que possa se concentrar durante as atividades acadêmicas.
  • No caso das crianças pequenas, o foco deve ser no livre brincar, no movimento de ir além, nas experiências sensoriais e no papel do adulto como um companheiro de exploração e descobertas.

 Adolescentes

  • Aconselhar e orientar sobre a importância dos encontros e das relações entre pares na rotina dos adolescentes. Destacar que atividades esportivas são muito importantes, mas que os encontros livres e sem direcionamento têm qualidades especiais que os esportes não têm, e que os espaços naturais são fundamentalmente lugares privilegiados para essa atividade.
  • Orientar sobre a importância do tempo destinado ao recreio e ressaltar que o adolescente precisa ter tempo para a convivência social entre pares durante o período que passa na escola, para que possa se concentrar durante as atividades acadêmicas.
  • Incentivar o adolescente a planejar encontros com amigos em parques e áreas abertas. Orientá-lo sobre as questões relativas à segurança nesses locais e encorajar os responsáveis a encontrar espaços ao ar livre que sejam seguros e agradáveis.
  • Sugerir que os pais conversem com outras famílias sobre como proporcionar oportunidades de convívio social para os adolescentes fora dos espaços fechados e privados como shopping centers. 
  • Destacar a importância de que a criança e o adolescente tenham contato com animais domésticos (cães, gatos, hamster, passarinhos e outros) e também com plantas em vasos ou canteiros na residência, mostrando que crianças e adolescentes que convivem com a natureza e também com animais domésticos são frequentemente mais saudáveis, principalmente do ponto de vista imunológico.
  • Enfatizar que mesmo em espaços pequenos é possível cultivar vasos de plantas** e até uma horta, e que as crianças e adolescentes se beneficiam muito com essa prática.
  • ** Alertar sobre a escolha das plantas e vasos, evitando as espécies tóxicas ou alergênicas.

 

Intervenções com as crianças, adolescentes e suas famílias para o convívio com a natureza:

  • Brincar no parquinho mais próximo pelo menos uma hora por dia;
  • Fazer um passeio ou caminhada num jardim ou na orla de uma praia ou lagoa;
  • Fazer um piquenique num parque diferente uma vez ao mês;
  • Assistir ao pôr do sol e ao início da noite e procurar estrelas;
  • Passar o final de semana ou período de férias em algum lugar natural ou onde as crianças e os adolescentes possam se locomover com autonomia e liberdade, com regras de supervisão e proteção social.

22.1 Alguns diagnósticos, resultados esperados e intervenções de enfermagem para o brincar e o convívio com a natureza para crianças e adolescentes

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

  1. Chawla L. Benefits of nature contact for children. J Plan Lit. 2015;30(4):433-52.

Hughes J, Rogerson M, Barton J, Bragg R. Age and connection to nature: when is engagement critical? Front Ecol Environ. 2019;17(5):265-9.

  1. Louv R. A última criança na natureza: resgatando nossas crianças do transtorno do déficit de natureza. São Paulo: Aquariana; 2016.
  2. O começo da vida [DVD]. Direção: Estela Renner. Produção: Maria Farinha Filmes; 2016. 1 DVD (90 min.). Disponível em: https://ocomecodavida.com.br/
  3. O começo da vida: lá fora [DVD]. Direção: Estela Renner. Produção: Maria Farinha Filmes; 2020. 1 DVD (90 min.). Disponível em: https://ocomecodavida.com.br/
  4. Sociedade Brasileira de Pediatria. Benefícios da natureza no desenvolvimento de crianças e adolescentes. 2019.
  5. Whitten T, et al. Connection to the natural environment and well-being in middle childhood. Ecopsychology. 2018;10(4):270-9.
  6. Yogman M, Garner A, Hutchinson J, et al. The power of play: a pediatric role in enhancing development in young children. Pediatrics. 2018;142(3)

ANEXO 1 - Símbolos utilizados no Genograma

Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica.   Caderno de atenção domiciliar / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – Brasília: Ministério da Saúde, 2013.

ANEXO 2

 
 

 - Linhas de relacionamento e de moradia

Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Caderno de atenção domiciliar / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – Brasília: Ministério da Saúde, 2013.

ANEXO 3  - Exemplo de um genograma

Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica.  Caderno de atenção domiciliar / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – Brasília : Ministério da Saúde, 2013.

ANEXO 4 - Estrutura de um ecomapa

 Fonte: Horta, 2008

ANEXO 5 - Símbolos utilizados no diagrama de vínculos

Fonte: Horta, 2008

ANEXO 6 - Questionário SNAP IV

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